Dos anos 1980 até meados da década de 1990, a Baixada Santista contava com uma diversidade grande de bandas. Hardcore, heavy metal, punk, rock clássico, hard rock, black metal, ska, reggae, synthpop, indie rock. Tinha para todos os gostos. Mas no período entre 1993 até 1999, o hardcore e punk ganharam mais força. Somado com a cultura do surfe e skate na região, a Baixada Santista logo virou a Califórnia Brasileira para os amantes do som. E a alcunha pegou. Bandas de várias partes do Brasil queriam tocar nos nossos botecos.

Distante pouco mais de 400 quilômetros, Curitiba também guardava muitas semelhanças com o nosso cenário musical. Ao invés do surfe, bermudão e boné, os músicos usavam calças jeans e camisa xadrez ou mesmo jaquetas de couro e topete rockabilly. Se nos anos 1990, a Baixada Santista era a Califórnia Brasileira, a capital paranaense não ficava atrás: era a Seattle Brasileira. Ou seja, uma pendia mais para o punk e hardcore californiano, enquanto a outra seguia o grunge e o rock alternativo da época. Isso sem falar no poderoso cenário rockabilly e psychobilly.

A terceira edição da Blog n’ Roll Party, que acontece hoje, a partir das 19 horas, no Studio Rock Café, reúne representantes dos dois cenários. O Boobarellas, atração principal da noite, é curitibana. Chegou a participar da coletânea Hey Punk Rockers Vol. 3, do lendário selo paranaense Barulho Records, com os santistas do The Bombers, no início da década 2000.

O Thirteen Brotherhood, apontado como uma das revelações do cenário local em 2016, reúne três ex-integrantes do The Bombers: Riot Rodriguez, Dennys Pi e Amauri Meireles.

Guitarrista e vocalista do Thirteen, Rodriguez possui uma trajetória longa no underground santista. Além do Bombers, tocou no Atiradores (ska) e Riot 99 (street punk).

“A ideia foi tentar fazer um som sem rotular, sem fórmulas. Felizmente, o Social Distortion é uma das influências em comum para todos os membros da banda. Isso fica mais evidente. Mas se ouvir com carinho, dá para perceber as influências do Rolling Stones, Neil Young, Rancid, Operation Ivy e punk rock clássico em geral”.

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Mas Thirteen Brotherhood e Boobarellas não são exatamente reflexos dos cenários locais da década de 1990. A primeira aposta em um som mais na linha do Social Distortion, que apesar de ser punk californiano em sua origem, hoje é mais rock and roll clássico, tal como os santistas. Já o Boobarellas, de Guile Scarantino, não é uma banda grunge. Seu som e visual combinam mais com o punk glam, que nada lembra Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e afins.

“Montamos o Boobarellas no começo das férias, entre o Natal e o Revéillon, em 1995. Nós três tínhamos 15 anos naquela época. Não tínhamos responsabilidades e nenhuma experiência musical, apenas o desejo de tocar punk rock. Vinte anos depois, você aparenta mais velho, estamos acima do peso, com barbas e algumas tattoos. Nosso som, no entanto, continua rock and roll punk style cantado em português. Não mudou muito, só está com mais pegada, envenenado”, diz Scarantino, aos risos.

Quanto aos cenários santista e curitibano, o vocalista do Boobarellas acredita que a grande semelhança está na qualidade das bandas. “As duas cidades têm nomes que são referência nacional e internacional. São dois cenários bem tradicionais, com bandas que influenciaram gerações no underground”.

Coube ao Jerseys, que nasceu em 2012, resgatar a identidade do hardcore melódico tão característico da Baixada Santista nos anos 1990. No show de hoje, Phernandu Nunes e companhia aproveitam para inaugurar uma nova fase, com letras em português. A apresentação marca o lançamento do disco Orgânico e Natural.

“Foi uma transição pessoal, passei por uma fase buscando bandas que cantassem em português, acabei voltando a ouvir muita coisa antiga, voltei a ouvir rap, Raul Seixas, Titãs, tudo para ouvir música onde eu entendesse a letra, não só absorver ritmo, mas conteúdo”, comenta o vocalista da Jerseys, Phernandu Nunes.

A transição, no entanto, não foi fácil. Os integrantes não aceitaram de primeira a mudança, segundo Nunes. “Percebi que eu mesmo estava nadando contra a maré, porque até o agora todas nossas músicas eram em inglês. Estava contradizendo meu próprio pensamento, foi uma luta dentro da minha mente, nisso apresentei a ideia pra todos da banda, não aceitaram de primeira mas eu tinha essa necessidade. No fim, conseguimos fazer lindas músicas na nossa língua”, completa.

A Blog n’ Roll Party #3 começa às 19 horas. A entrada custa R$ 15,00. O Studio Rock Café fica na Avenida Marechal Deodoro, 110, no Gonzaga, em Santos.