Material produzido em parceria com o jornalista Marcelo Malanconi, co-autor da pesquisa sobre a História do Rock na Baixada Santista e um dos responsáveis pela coluna Sommelier do Rock (quintas-feiras).
A comunicação sempre foi essencial para o desenvolvimento do rock na Baixada Santista. Programas nas rádios e TV, fanzines, revistas, sites, blogs, canais no You Tube. Uma infinidade de meios que garantem que bandas novas e com trabalhos autorais cheguem até o público.
Mas é inegável que o rádio tinha uma predileção tanto das bandas como do público. Ouvir o seu próprio trabalho em uma emissora da região ou mesmo conceder uma entrevista em alguns dos programas segmentados sempre atraiu grande número de ouvintes.
Mesmo que o cenário, hoje, não seja positivo, algumas emissoras começam a mostrar que é possível resgatar esse espaço, tal como nos primórdios da primeira rádio rock de Santos e segunda do Brasil, a 95 FM, que marcou época entre 1985 e 1994.
Antes da 95 FM, as principais emissoras (Tri FM, Guarujá e Cultura) de rádios que tocam ou tocavam músicas populares, como forró, samba e sertanejo, criaram programas voltados ao rock.
A Guarujá FM foi a precursora, em 1982, por intermédio do locutor André Fiori. Tocava os sucessos de bandas de heavy metal, hard rock e classic rock. A primeira banda da região a tocar na rádio foi o Vulcano, com uma regravação de Paranoid, do Black Sabbath.
95 FM
Em 1985, nasceu a 95 FM. Com atitude, a segunda rádio rock do Brasil – veio depois da Fluminense (Rio de Janeiro), tocava todas as novidades do cenário mundial. Não demorou muito para serem criados programas que destacavam e tocavam as bandas da região. Os santistas começavam a escutar seu rock feito em casa, com as músicas Hold on Tight, do Last Joker, e Invisible, do Mr Green.
A lista de locutores que trabalharam na 95 é extensa. Rony, o Capitão Caverna, Pepinho, Johnny, Lane Valliengo foram algumas das figuras mais marcantes, que emprestaram suas vozes para transmitir as novidades do rock internacional e nacional para o público.
Em novembro de 1994, após diversos problemas administrativos, a sintonia 95,3 deixou de ser a mesma, se tornando afiliada da rede Jovem Pan FM.
Principais programas da 95 FM
Garagem 95
Toda quinta-feira, das 22h às 23h, os locutores Johnny e Capitão Caverna apresentavam esse programa que destacava apresentações de bandas autorais da região, na Concha Acústica, em Santos. Eram duas bandas
aos sábados. O melhor dos shows era editado e transmitido pela 95 FM na quinta-feira. Entre 1991 e 1993, bandas como Charlie Brown Jr (What’s Up Doc), ainda com o repertório em inglês, Garage Fuzz (início de carreira) e IHZ, passaram pelo programa.
Hard n’ Heavy (95FM e 98FM)
Foram cinco anos na 95 FM e um na 98 FM. Aos domingos, das 10h às 14h, Pepinho e Johnny comandaram um dos programas mais influentes das rádios santistas. Com início em 1989, o Hard n’ Heavy apresentava o melhor do rock internacional, além de entrevistas com as principais bandas que tocavam em Santos. Um dos ápices foi a cobertura do M2000 Summer Concerts, em 1994, que aconteceu na praia do Boqueirão e reuniu nomes como Mr Big, Lemonheads, Rollins Band, além do Raimundos, em início de carreira.
Exclusivas 95
O jornalista Lane Valiengo comandou entre 1992 e 1994, o Exclusivas 95, programa que apresentava tendências do rock, sempre aos sábados. Um dos destaques desse horário foi a divulgação do grunge, que à época estourava pelo mundo. Nomes como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, entre outros, chegaram aos santistas por ele. Vale lembrar que boa parte dessas bandas veio ao Brasil, em 1993, no extinto festival Hollywood Rock.
Heróis da Guitarra
Era uma faixa de horário bem pequena, apenas 30 minutos. Mas em 1993, o locutor Cleber Celino emplacou um programa de alto nível na 95 FM. Boa parte da programação era destinada para o instrumental. Era comum ouvir os verdadeiros “Heróis da Guitarra” como Joe Satriani, Steve Vai e Yngwie Malmsteen. Infelizmente, o programa teve vida curta na rádio. Durou apenas um ano.
98 FM
Por um período o público careceu de uma rádio feita para os roqueiros. Alguns meses depois, a 98 FM, de Cláudio Mussi, surgiu com um novo conceito de rádio rock. A principal diferença da 98 FM para a 95 FM era a playlist. Enquanto, a primeira apostava no som mais comercial, a segunda abria, também, espaço para bandas independentes e alternativas. A transformação em rádio rock, porém demorou.
O sinal da 98 começou como Ilha do Sol, que transmitia clássicos da MPB. Depois foi a vez de se transformarem Transamérica. Neste período, sucessos da música brasileira e do rock internacional dominavam as paradas. As mudanças continuaram, e em seguida veio a ser Classic Pan e Mix.
Além das emissoras citadas anteriormente, Santos também recebeu sinal e programas exclusivos das duas principais rádios rock do Brasil na atualidade, a 89 FM e a Kiss.
A Kiss, inclusive, chegou a gravar programas ao vivo na casa de shows Studio Rock Café, no Gonzaga. Na parceria entre emissora e o bar, o público acompanhava bandas covers e autorais e concorria prêmios.
Enseada FM deu espaço para autorais
O espaço roqueiro deixado pela 95 FM não demorou a ser preenchido na região. Em 1º de maio de 1996, a rádio Enseada FM (94,3) foi convertida, podemos assim dizer. E boa parte dessa mudança está relacionada, principalmente, à faixa Contramão, que reunia programas em sequência para apresentar clássicos internacionais de blues, hardcore, punk, ska, metal e eletrônico. Sempre acompanhado de locutores com conhecimento de sobra do assunto. Quem não lembra do Rodrigo Branco (atualmente na Kiss FM), João Veloso Jr, Chico Marques, Cristian Moreno?
Mas o que começou com uma faixa nas noites de domingo se estendeu para a programação normal da emissora. Ouvir bandas de hardcore da região como Garage Fuzz e White Frogs não era algo incomum. De fato, o trabalho autoral dos artistas da Baixada Santista estava presente no dia a dia.
A Enseada chegou a promover quatro festivais de bandas na região. No primeiro, em 1998, quase 400 músicas foram inscritas. Bandas consagradas do cenário nacional dividiam o palco com revelações da música local.
Mas sete anos depois do início da fase roqueira, veio mais uma mudança nos planos da emissora. A Enseada passou a se dedicar à igreja evangélica. A transformação ocorreu no dia 1º de abril de 2003. Funcionários e colaboradores tardaram a acreditar que aquilo fosse verdade, por se tratar do Dia da Mentira. Mas a mudança era pra valer.
Principais programas rock da Enseada FM
Microfonia
Criado em: (data desconhecida)
Duração: 2 anos
Dia: domingo
Horário: das 23 horas à meia-noite
Apresentação: João Veloso Júnior
Influência na época: Uma série de entrevistas com as bandas nacionais e internacionais. Durante o programa eram sorteados cerca de 10 brindes, muitas vezes ingressos para shows.
Destaque: Mais de 100 ligações telefônicas em 1 hora de programa.
Midnight Metal
Criado em: maio de 1999
Duração: 4 anos
Dia: domingo
Horário: meia-noite
Apresentação: Rodrigo Branco e Cristian Moreno
Influência na época: o programa sacudiu o underground do metal na região.
Destaque: era espaço aberto para entrevistar todas as bandas da região, tocar o som sem restrição, além de divulgar os shows que aconteciam na época.