A história do rock santista ganhará mais um registro audiovisual em 2021. Califórnia Brasileira 2 – O Metal em Santos de 1980 a 1989, mais uma parceria dos diretores Wlad Cruz e Rodiney Assunção, trará luz para um período no qual os músicos quase não tinham referências locais para iniciar suas carreiras.
“No fim dos anos 1970, início dos 1980, já se tem algo como uma cena formada e isso acontece justamente por causa dos encontros dos então roqueiros, não headbangers, nos chamados bailes de som de fita. A grande diferença é na verdade o comum a todo início, as bandas não se entendem enquanto classe, então está cada um tentando aprender a fazer, fazendo. Não havia em quem se espelhar ou uma fórmula que era feita e dava resultado. Tudo era instinto e atitude”, comenta Assunção.
Contexto histórico
De fato, o rock santista sofreu um apagão nos anos 1970. Com exceção do Recordando o Vale das Maçãs, que havia lançado o incrível As Crianças da Nova Floresta (1977), e Blow Up, que chegou a emplacar a canção Rainbow na trilha sonora da novela Anjo Mau (1976), a cena local se resumia aos festivais colegiais.
Tal característica é notada ao longo dos tempos, como se o rock local vivesse como safras. Algumas bem produtivas e volumosas, outras mais ralinhas e sem tanta qualidade. Cruz consegue enxergar uma diferença notável entre os dois filmes do Califórnia Brasileira. O primeiro teve foco no cenário punk e hardcore dos anos 1990.
“Basicamente, o hardcore punk nos anos 1990 em Santos era situação, era o som jovem da época. O metal nos anos 1980 não era visto com bons olhos por boa parte da pessoas, era oposição. Apesar de certa popularização pós-Rock In Rio, ainda tinha muita desinformação e preconceito, além das dificuldades na realização de coisas simples, como adquirir um LP importado, por exemplo. Se nos anos 1990 foi complicado, nos 1980 era muito mais, pra tudo”.
Personagens
Tal como foi feito no primeiro filme, os diretores deverão ter alguns personagens centrais para contar essa história. O primeiro teve um foco maior no Garage Fuzz, o segundo pode ser mais amplo, tendo em vista personagens marcantes. Alexandre Macia, o Pepinho, além das bandas Vulcano, Angel e Santuário, sem falar no hard rock, caso seja incluído na mesma turma, são alguns deles.
“Documentário é um bicho vivo. Nós temos um mapa que vai nos guiar, principalmente nessa montagem, mas as captações sempre trazem surpresas muito boas. Porém, eu e o Wlad temos nossa maneira de contar as histórias e ter um personagem que conduz os fatos é uma característica forte desse nosso “estilo” de montagem. Então, os planos são seguir por esse caminho e conseguir o máximo de elementos para ilustrar tudo”, explica Assunção.
Pandemia
A montagem de Califórnia Brasileira 2 também tem sido diferente em função da pandemia do novo coronavírus.
“Obviamente nos faz ter muito mais cautela, principalmente no quesito entrevistas, onde obrigatoriamente o contato existe. Mas, uma das características dos filmes indie é a equipe reduzida, no nosso caso isso é regra desde o documentário do Vulcano. Somos sempre só nós dois e o entrevistado. Vamos criar protocolos de segurança e seguir as orientações dos órgãos que tem foco na área audiovisual que já estão pensando quais seriam essas boas práticas. A realidade é que vivemos um momento de testes em todos os aspectos das nossas vidas, estamos vendo o que cabe ou não fazer, e no audiovisual isso não é diferente”.