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Blog n' Roll na AT - Lucas Krempel

Futuráfrica – 10 anos de um caldeirão de música negra

Criatividade sempre foi uma característica forte dos músicos da banda de reggae santista Casa Rasta. E três deles, Mauro Mariano, Luiz Dias Lufer e Sandro Bueno, iniciaram há dez anos uma fase ainda mais inovadora, com o projeto paralelo Futuráfrica. Na base de tudo está a amizade de longa data entre os integrantes, o amor ao poder da música negra universal e o desejo de colocar Santos no circuito nacional e internacional de cidades que produzem festas que propagam os ritmos do Atlântico negro.

“Falo do dub, reggae, afrobeat, cumbia e tantos outros conhecidos. Aqui cabe tudo, o rap com baião, o repente com eletrônico, enfim, somos um grande Baobá Sonoro. E tudo isso dentro da estética afrofuturista, que ressignifica o protagonismo negro nas artes”, comenta Lufer.

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Quem acompanha o Futuráfrica desde o início certamente notou a mudança de proposta do coletivo. No início era mais voltado à atividade de discotecar e receber convidados, como em festas no Torto Bar, junto com o falecido DJ Wagner Parra. Depois, o Futuráfrica agregou MCs locais para rimar nas batidas dos seus discos. Agora, o caminho é mais próprio.

“Estamos mais focados em produzir nosso som autoral. Há três anos, montamos a Futuráfrica Equipe de Som, com o nosso Black President Mauro Marianno (Casa Rasta/Dubkilla) no baixo, o percussionista Sandro Bueno (Casa Rasta), Marcos dos Santos, o famoso Tio Ozi do underground hardcore de Santos, ex-integrante da Same Flann Choice), além do cantor santista Wylmar Santos (Banda Canal 4), que possui uma longa carreira solo, com disco autoral e tudo”, explica Lufer, responsável por tocar os discos e fazer os beats.

A evolução na proposta de som da Futuráfrica veio acompanhada de mudanças do perfil de público também. Lufer vê uma presença maior em seus eventos de alunos da Unifesp que, segundo ele identifica no trabalho do coletivo “algo diferente na região”.

“Temos a música e as artes como uma forma de combate. Tal qual falava o grande músico nigeriano Fela Kuti, a música é nossa arma. Essa é a nossa real política: expressar, protestar, denunciar através das artes. Tanto nas questões raciais, como outras muito importantes, que é a discussão de gênero, luta contra o machismo, um mundo mais igualitário”.

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O público que quer acompanhar ou conhecer a Futuráfrica precisa se deslocar para a Baixada Santista. Por trabalharem em outras áreas além da música, os integrantes dificilmente conseguem conciliar suas agendas para fazer turnês pelo Brasil e no exterior. Lufer, no entanto, conta que eles dão um jeito de manter viva a esperança de compartilhar o trabalho com outras regiões.

“Já levei o nome da Futuráfrica apenas na discotecagem para Bogotá (Colômbia), Atlanta (Estados Unidos) e muitas outras cidades brasileiras. Agora, com nosso som se consolidando, e um possível disco para o começo de 2019, pretendemos focar nas gigs em outras cidades. Somos aqueles caiçaras da beira-mar, sem pressa de chegar longe”, argumenta, aos risos.

A linguagem sonora da Futuráfrica é bastante conectada com o que está rolando hoje no cenário independente, que é revisitar o que está posto e dar uma cara mais autoral. E o som já desperta a atenção de grandes músicos de renome. BNegão, do Planet Hemp, por exemplo, é o padrinho do coletivo. Ontem, eles dividiram o palco em uma das apresentações do Santos Jazz Festival, no Arcos do Valongo.

“Conheci ele em 2005, quando eu trabalhava na produção do Radiola Santa Rosa e o BNegão veio tocar no Sesc Santos com eles. É a maior honra dividir o palco com um dos caras mais importantes da música brazuca da atualidade”.

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Conhecidos por terem posicionamentos fortes em assuntos, muitas vezes, esquecidos pelo grande público, os integrantes são contrários a qualquer tipo de discriminação.

“Sempre vamos combater o sistema que alimenta toda e qualquer discriminação de raça, gênero, religiosa. Somos sempre em favor de uma sociedade mais igualitária. Já realizamos evento contra a homofobia, recebemos cientista político cubano que é um importante militante negro, o Carlos Moore. O foco, agora, além de toda luta pelo protagonismo negro, está se dando na desconstrução do machismo. O respeito às minas, as monas e as trans é algo muito sério para gente”.

Quem quiser conhecer mais sobre o som da Futuráfrica, pode buscar pelo single e videoclipe de Guarda Roupa, disponíveis no Bandcamp e Youtube, respectivamente.

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“Nosso disco sai ano que vem, sempre bebendo da fonte do dub, reggae, influências do samba e da música latina negra. Claro, BNegão vai gravar uma faixa com a gente e vamos receber outros músicos da cena independente santista”, adianta Lufer.

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