No início da década de 2000, quando liderava a Dip Lik, o santista Celso Bernardes encontrava muita dificuldade para encaixar sua banda nos grandes shows de hardcore que vinham para Santos. Foi quando teve a ideia de iniciar um intercâmbio com outros nomes do cenário nacional.
“Entrava em contato com as bandas de outras cidades e fazia uma troca. Marcava um show aqui e outro na cidade dos caras. E isso começou a ficar quase que semanalmente. Para o público não enjoar da Dip Lik, eu nem tocava mais aqui. Organizava os shows, trazia as bandas e depois tocava nas cidades deles”, diz Celso.
Essa troca, supercomum entre as bandas undergrounds, foi o start para o que viria a ser a produtora especializada em rock mais forte da região, a Rock Show. Agora, em 2018, Celso e o seu sócio, Mauricio Addario (Pivety), completam 15 anos de trajetória, com várias ideias em mente.
“Estamos negociando alguns shows grandes para os próximos meses. Além de CPM 22 e Dead Fish (20 de abril, na Capital Disco), teremos uma atração internacional em breve, além de uma surpresa no Dia Municipal do Rock (13 de julho)”, antecipa Bernardes.
Os últimos dois anos foram quase escassos para a produtora na região, muito em função de outros trabalhos dos sócios. Bernardes, por exemplo, acompanhou a banda Malta em turnês pelo Brasil. Pivety atuava como produtor do NX Zero.
“Estamos voltando com a força de antes, mesmo sabendo que o cenário é outro agora. A molecada que frequentava os nossos shows está mais velha, curtindo outros sons. O povo mais novo só quer saber de funk e sertanejo. Mas nós vamos conquistar o espaço novamente”, aposta Bernardes.
A credibilidade conquistada pela dupla será fundamental para isso. Bandas e promoters sempre enxergaram a Rock Show como referência, desde o início, recorda a dupla.
“Nós trouxemos o NX Zero para Santos antes de eles estourarem nacionalmente. As pessoas nem faziam ideia de quem eram. Os caras foram tocar no extinto Praia Sport Bar (Av. Vicente de Carvalho, 45, em Santos). Lembro que, antes de iniciar o show, eles foram pra praia, molhar os pés no mar. Depois, voltaram para a apresentação”, conta o ex-vocalista da Dip Lik.
A relação se manteve forte nos meses seguintes. Bernardes então agendou outro show, agora no La Fiesta, na Avenida Francisco Glicério, próximo da Capital Disco. Uma casa um pouco maior do que o Praia Sport Bar. Fechou a apresentação meses antes por apenas R$ 2,5 mil.
“Uma semana antes do show, os caras estouraram com videoclipe na MTV, o cachê disparou, mas nós mantivemos o nosso acordo”, lembra Bernardes. “O dono da casa ficou impressionado com a fila imensa que se formou do lado de fora. E, na hora, ele disse que ia precisar de mais dinheiro por conta da multidão. Eu estava tão feliz que paguei e nem perguntei o motivo”, completa.
Depois, a Rock Show continuou com os shows no La Fiesta, mas utilizando a casa como uma espécie de categoria de base das bandas da região. Lá, Pivety era o responsável por cuidar das agendas.
“Quem se destacava lá, mandávamos para abrir os shows grandes na Capital Disco. O Celso agendava bandas gringas, o Fresno, NX Zero, Strike, tudo lá. O Fiesta era bem especial. Teve gente que morou lá, inclusive”, recorda Pivety.
A ilustre moradora foi a banda gaúcha Tri, que venceu um concurso do Caldeirão do Huck (Globo) para tocar no Rock in Rio, em 2011. Os caras vieram para a região por conta de uma suposta proposta de um empresário. Mas era um golpe. Sem dinheiro para voltar, eles foram abrigados pela Rock Show na casa.
E muitas das bandas que iniciaram nesses eventos se mantêm até hoje em atividade. Algumas cresceram bastante, inclusive, como a Zimbra. A banda, que teve outros nomes no início, hoje é considerada uma das principais em alcance nacional. Além disso, tocou em uma das edições do badalado Lollapalooza.
PRINCIPAIS SHOWS DA ROCK SHOW EM SANTOS
Bad Religion. Fã incondicional da banda californiana Bad Religion, Celso Bernardes acredita que a apresentação deles na Capital Disco, em Santos, foi um dos grandes momentos da produtora. Greg Graffin e companhia tocaram por lá em fevereiro de 2014.
Face to Face e Pennywise. Não é todo dia que você consegue reunir dois expoentes do hardcore americano na mesma noite. O encontro do Face to Face com Pennywise, também na Capital Disco, emocionou muito marmanjo. A primeira já havia vindo, a segunda era inédita.
New Found Glory. No auge da carreira do New Found Glory, a banda colocou Santos na sua rota. Em novembro de 2008, quando o hardcore e o emo estavam com força no mainstream nacional, eles simplesmente apresentaram um set com 20 faixas, na Capital Disco.
Dia do Rock. Em 2016, enquanto o jornalista Wladimyr Cruz iniciava as gravações do seu filme Califórnia Brasileira, a Rock Show promoveu um encontro de gigantes do hardcore e punk santistas, na Arena Santos: Garage Fuzz e The Bombers, com Turn Away e Drop Your Guns.
Mxpx. Mike Herrera veio com a sua banda duas vezes para Santos. Na última delas, em outubro de 2011, pelas mãos da Rock Show, a MxPx se apresentou na Capital Disco. Esse foi outro momento muito marcante para o público e os próprios produtores, fãs declarados da banda.
Story of The Year. Hoje é uma banda muito badalada, mas em 2009 não era tanto. Mesmo assim, a Story of The Year arrastou um bom público para a Capital Disco. Na ocasião, São Paulo e Porto Alegre também foram incluídas na rota dos caras pelo Brasil. Que moral, hein?
