Quando falamos sobre o metal na Baixada Santista, muitas vezes mantemos o foco quase exclusivo na Vulcano, listada como a maior banda de rock da região em todos os tempos, em uma pesquisa feita com jornalistas, músicos, produtores e agitadores culturais, no ano passado, pelo Blog n’ Roll e A Tribuna.
Mas o correto é afirmar que a região também teve uma outra banda muito relevante nos anos 1980. Mais especificamente em São Vicente, a Santuário alcançou um status interessante para a época. Seu grande momento foi com a coletânea SP Metal Volume 2, lançada pela Baratos Afins.
Surgida em 1982, a Santuário tinha em sua formação original: Julio Michaelis Jr (vocal), Ricardo Micka Michaelis (guitarra), Jorge Rato Bastos (baixo) e Alessandro Marco (bateria). Também tocaram na banda César Cachorrão (vocal), Beto Damião (vocal), Marcelo (teclado) e Armando Bandech (vocal).
E citar Vulcano e Santuário na mesma matéria tem tudo a ver com a trajetória da segunda. A vicentina fez seu primeiro show, em 1982, no Ébano Clube, em São Vicente, com o grupo de Zhema e Trava, outro nome relevante do cenário regional.
Além disso, foi depois que Julio levou seu irmão Ricardo para um ensaio da Vulcano que a vontade de montar uma banda ficou ainda mais evidente.
As inspirações dos irmãos Michaelis sempre vieram do New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), mas com uma predileção maior pelo Def Leppard, que veio ao Brasil, recentemente, e se apresentou nos festivais Rock in Rio e São Paulo Trip.
Mesmo sem a Santuário em atividade, Micka seguiu com a sua ligação bem próxima com o heavy metal. Ele é o cara por trás do documentário Brasil Heavy Metal, que narra a história do gênero em nosso País. Quem quiser conhecer um pouco do som da Santuário, algumas músicas estão disponíveis no YouTube.
Curta trajetória deixou marca positiva no público
Pela técnica ou visual, uma coisa é certa: o Santuário deixou muita gente interessada pelo som deles. Proprietário da loja de discos Blaster, no Gonzaga, Rafael Paulino Neto, recorda de ter ido em dois shows da banda, mas guarda bem na memória. “Era excelente, uma das melhores do Brasil na época. Mas não foram bem capturados em disco, rola só uma música no SP Metal (coletânea) que não tem nada a ver com o que era ao vivo, na época boa”.
Vocalista do Carnal Desire, Tarso Wierdak dos Santos foi roadie do Santuário em algumas apresentações. “Nos anos 1980, o Santuário foi o maior representante do heavy metal santista. Eles usavam um visual tipo guerreiros, suas letras abordavam a época medieval, heróis gregos, sempre acompanhado de solos pesados para a época”, explica.
Tarso afirma que os irmãos Micka e Julio, guitarrista e vocalista, respectivamente, se destacavam no palco. “Eles faziam sucesso aqui na Baixada e em São Paulo. Infelizmente a banda terminou devido aos problemas de saúde do Julio, que veio a falecer depois”.
O jornalista Ricardo Batalha, editor da revista especializada Roadie Crew, que acompanhou a trajetória do Santuário de perto, recorda que o grupo ainda resistiu por um tempo, tendo recrutado César Zanelli Cachorrão (futuramente assumiria o vocal no Centúrias) para a turnê na Colômbia. Beto Damião também teve breve passagem pela banda, com dois shows na conta.
“Com o fim oficial anunciado, Micka e Beto se juntaram a alguns ex-músicos da banda Pegasus para montar o Naja. Os antigos fãs do Santuário torceram o nariz, mas mesmo assim o Naja seguiu em frente”, comentou o jornalista em um especial da Roadie Crew, lembrando que Micka se uniu ao vocalista China Lee, criando o Extravaganza.
Obs.: Os vídeos acima foram gravados nos dias 24 e 25 de julho de 2015, quando a gravadora Baratos Afins comemorou os 30 anos do lançamento das coletâneas SP Metal I e SP Metal II. O evento marcou o reencontro do Santuário.