O hardcore melódico no Brasil ainda não era muito forte no início dos anos 1990. Poucas eram as bandas que se arriscavam mostrar algo influenciado principalmente pelo cenário californiano. Em Santos, o White Frogs foi uma das primeiras. Surgiu em 1993, quando o baixista Joao Veloso Jr, ex-Abuso Sonoro, reuniu alguns amigos para fazer um som diferente do qual vinha fazendo.
“Não havia um objetivo fixo. A ideia era tocar hardcore melódico. A primeira formação, que gravou a única demo tape, tinha o Vicente Godoy na guitarra – que morava na esquina da minha casa, o Luis “Batata” Carlos na bateria – que era vocal do Chemical Disaster e tocava bateria no KxOxVx, Mario no vocal e eu no baixo. Essa foi a primeira formação que se estabilizou e em setembro de 1993 lançamos a Too Much Noise”, explica Jr.
A demo foi bem aceita pelo público. Foram mais de 400 cópias vendidas em três meses, segundo o baixista. O resultado influenciou em um acordo para lançar o primeiro vinil da banda, Trying to Find a Way…, pela Low Life Records pouco tempo depois. “Essa demo se perdeu. Recentemente, encontrei em um site de demos”.
A base de influência para o White Frogs eram as bandas Bad Religion, Fugazi, Minor Threat, 7 Seconds, Fugazi e Dag Nasty. Mas o músico revela que nomes regionais foram mais fortes no desenvolvimento da banda. “O que realmente nos motivava e influenciava eram as bandas que a gente via shows quase toda semana: Safari Hamburguers, IHZ, Garage Fuzz e outras bandas de Santos”, comenta.
Em 11 anos de banda, o White Frogs contou com várias formações diferentes. Segundo Jr, não houve um motivo específico para as trocas. “Cada um vivia um momento e foi algo natural”, resume. Na lista de integrantes estão: Antonio “Mr. Atibaia” Carlos – guitarra (Safari Hamburguers), Matheus Florido – guitarra (Primal Therapy), Patrick Theodoro – guitarra, Dênis Trombino – guitarra (Overjoyed), Vicente Godói – guitarra, Gustavo Porto – vocal (Safari Hamburguers), Fábio Prandini – vocal (IHZ, Safari Hamburguers, Paura), Henrique Nardi – vocal, Luis Pacheco – bateria (Carnal Desire), Enrico Bagnato – bateria, Fred – bateria (Neofrenia, Sociedade Armada), Luis Carlos “batata” – bateria (K.O.V., Blind, Carnal Desire) e Paulo Ferramenta (No Sense).
Entre os grandes
A trajetória do White Frogs é repleta de shows marcantes. Foram mais de 400 apresentações, boa parte acompanhada de grandes nomes como Bad Religion, Nofx, Millencolin, Down by Law, No Fun at All, Agent Orange, Man or Astro Man, Shelter, Rhythm Collision, Bambix, entre outros.
“Tocar com o Bad Religion, em Santos, foi especial. Foi a banda que me fez escutar hardcore depois de ouvir o Against the Grain na casa do Gustavo (Primal Therapy). Cancelaram nosso show por causa do blecaute, pois o Bad Religion precisava tocar rápido pra pegar um voo ao próximo destino. O país inteiro ficou sem luz e, o show todo, inclusive o deles, foi cancelado logo depois. Rolou uma certa frustração quando a empresária deles na época veio ao nosso camarim e pediu pra gente subir no palco. A luz tinha voltado e o Bad Religion já estava no hotel. Tivemos de subir correndo enquanto eles eram avisados pra voltar”, diz sobre o show de 1999, na extinta Jump, no Morro da Nova Cintra.
Entre os momentos mais inusitados com o White Frogs, Jr destaca uma passagem pelos Estados Unidos. “Quando tocamos em Washington, em 1999, Dave Smalley (All, Dag Nasty e Down by Law) e o Brian Baker (Minor Threat, Dag Nasty, Bad Religion) estavam no público. Foi divertido ver metade do Dag Nasty ali na nossa frente quando, na verdade, a gente queria estar no chão vendo eles no palco. Não era tão comum ter esse contato naquela época. Legal que ambos participaram do Twenty One Jay, disco que gravamos nos Estados Unidos na mesma viagem”, comenta o baixista.
De fato, o contato com bandas internacionais não era tão comum nos anos 1990. Sem internet, os integrantes trocavam cartas. “Muitas vezes, pra descobrir bandas novas, a gente olhava lista de agradecimentos dos discos que a gente gostava e, quando encontrava um nome de banda, saía correndo atrás do material. Muitos dos contatos eram também feitos por fanzines, dos maiores como os americanos Maximum Rock and Roll e Flipside até os feitos em cópias de xerox”.
O ex-baixista do White Frogs revela que a banda chegou a receber mais de 200 cartas por mês em alguns momentos, de todos os lugares do mundo. “Entre vinil, CD, coletâneas e material oficial, foram mais de 30 discos lançados em 18 países. Tocar e gravar nos EUA e receber cartas de todo o mundo, de países como Mongólia, Israel e vários outros, onde o punk e o hardcore não eram tão populares, foram momentos bem especiais pra gente”.
Jr lembra que o White Frogs tocava poucos covers nos shows, mesmo tendo gravado alguns. “Músicas autorais marcaram diferentes momentos. Trying to Find a Way marcou muito o começo da banda. Logo depois, veio Rufino’s Song, que contava a história de um técnico de som do estúdio onde a gente trabalhava, com um final inventado pela gente depois que ele sumiu. Isso, na época do Gustavo Porto cantando. Já com o Fábio, acho que Wasting Time, Different Ways e Changes foram as que mais marcaram. Na época do Henrique, Reach Out teve também uma boa repercussão. Foi a última música que gravamos”.
Com toda essa credencial, o White Frogs desperta interesse no público contemporâneo e nos mais novos.
Várias foram as tentativas de retornar com o White Frogs. Os trabalhos dos integrantes e a ausência dos bateristas, quase todos morando no exterior, impediu por vezes esse regresso. No início do ano, o White Frogs fez um show na festa de pré-lançamento do documentário Califórnia Brasileira, do jornalista Wladimyr Cruz.
No dia 1 de setembro, no Mr Dantas (Avenida Senador Dantas, 401, em Santos), o White Frogs fará mais uma apresentação, agora no Fuzz Fest, dos contemporâneos do Garage Fuzz. Eles vão celebrar os 20 anos do álbum Urban Songs. No palco, além de Jr, Porto (vocal), Patrick e Atibaia (guitarras) e Enrico (bateria) completam o atual time do White Frogs. “Todos tocaram no Urban Songs, menos o Enrico que gravou o Twenty One Jay“.
O baixista acrescenta que o retorno não será algo pontual. “Estamos escrevendo material novo e com alguns shows marcados. Hoje, a ideia é celebrar 20 anos do Urban Songs e gravar algumas coisas novas”.
Além das duas bandas, tocam o Surra e Alcantara. Os ingressos para o Fuzz Fest custam entre R$ 25,00 (lote 1), R$ 30,00 (lote 2) e R$ 35,00 (lote 3) e podem ser adquiridos no site Sympla.