André Paixão já teve muitas personas musicais. Ele ficou conhecido na cena alternativa como Nervoso, tocou com muitos artistas e tem seu nome na história de projetos plurais como Acabou La Tequila, Lafayette e os Tremendões e Tripa Seca. Agora, ele faz o passo mais ousado de sua carreira, em um disco que levou uma vida para ser finalizado e maturado: Fora do Ritmo, onde a bateria – instrumento que se tornou um dos símbolos da carreira de André – ganha holofotes e papel de destaque com diversos artistas icônicos trazendo seu lado autor para o repertório proposto por Paixão.
“Eu pensei em reunir grandes artistas que se expressam pela bateria mas que sabia que poderiam acrescentar muito pro repertório. O nome vem do fato que queria que os artistas trouxessem algo novo para as músicas que separei pro repertório. Estar fora do ritmo aqui funciona estar dentro da canção”, conta André.
“Aqui não tem solos ou malabarismos percussivos, mas tentativas de inserir um instrumento muitas vezes associado à parte rítmica aos caminhos melódicos da canção. A vida inteira cresci com meus ídolos bateristas mirabolantes, com solos intermináveis, e acabei me ligando, com o passar do tempo na bateria como elemento de composição e nesses artistas que mais representam esse lado menos virtuoso e mais ‘cancioneiro’”.
Realizado em um longo processo de produção de 13 anos, o disco funciona não só como um retrato de todas as personas artísticas de André em uma só, mas como um registro sonoro de diferentes facetas da música brasileira das últimas décadas.
Nas baquetas do álbum estão o saudoso mestre do samba Wilson das Neves, grandes nomes da cena do rock alternativo como Pupillo, Leonardo Monteiro (Acabou la Tequila) e Bacalhau (ex-Planet Hemp); Rodrigo Barba, conhecido pelo seu trabalho com o Los Hermanos; Guto Goffi, do Barão Vermelho; Dany Roland, que fez história com o Metrô; e nomes de destaque dos últimos anos, como Domenico Lancellotti e Marcelo Callado.
E vai além dos bateristas, o disco conta com instrumentistas de peso como Kassin, Dengue, Lucio Maia, Billy Brandão e até a Orquestra de St Petersburgo, com o arranjos de André e Guilherme Bernstein sob regência de Kleber Augusto.
“Esse trabalho é um encontro gigante entre artistas que admiro, fazendo música autoral, sem regras, dogmas. Sempre digo e parafraseio o que se diz por aí: ‘A música é um lugar de encontros’. E o Fora do Ritmo representa essa celebração para mim. Este álbum é praticamente um longa metragem da minha trajetória, pois atravessou diferentes momentos da minha vida e, provavelmente, da turma que participou, em certos aspectos, pois continuamos em contato com nossas andanças e mudanças”, conta ele.
Fora do Ritmo não é apenas um conceito musical; é uma filosofia que abraça o ensaio, a experimentação e a liberdade criativa. André Paixão convida o ouvinte e cada músico a participar desse movimento, onde o respeito à canção coexiste com a liberdade de explorar o momento presente.
“Sinto uma forte assinatura minha nesse trabalho. Ele diz muito sobre mim, meus pensamentos, minhas ideias, às vezes, coisas que nem eu sei explicar por que estão ali e que foram aceitas conscientemente por mim sem satisfação. Se você gosta do álbum, então talvez você goste de mim, quem sabe. Se você conhece bem sobre as músicas que estão nele, talvez você passe a me conhecer um pouco mais”, conclui André, que é compositor, produtor, designer de áudio, cantor e músico e agora já sonha em levar esse álbum para os palcos com o mesmo olhar plural do estúdio.