Se é verdade que os opostos se atraem, Angélica Duarte se debruça sobre as contradições do desejo e da luxúria em um single que brinca com as dissonâncias. Kero Kero é uma canção que já nasce dual e chega às plataformas em duas versões: uma, pungente e elétrica; a outra, intimista e intensa. A produção é assinada pela própria Angélica em parceria com Rômulo Mendes.
As duas faixas do single compartilham a mesma letra e melodia, porém apresentam sonoridades distintas. A versão acústica destaca-se pelo dedilhado constante do violão de aço e por efeitos vocais psicodélicos, enquanto a elétrica traz uma combinação envolvente de baixo, guitarra, synths e beats programados.
A essência que conecta ambas as encarnações de Kero Kero é clara: um sentimento indie, com timbres e frases influenciados pelo rock alternativo dos anos noventa. Esse contraste musical demonstra a versatilidade de Angélica Duarte, uma artista plural que expande com desenvoltura os limites da MPB com que despontou no cenário independente.
Seu primeiro trabalho de destaque veio ainda em 2018, quando lançou o EP Odara, uma releitura de canções de Caetano Veloso. Em 2021, revelou seu primeiro álbum solo, Hoje Tem, onde assina todos os arranjos e conta com participações especiais de Letrux e Juliana Linhares. Singles como Pakera Fraka, Grudinho e Outro Verão (com Luisa Lacerda) mantiveram a artista como uma das mais interessantes de sua geração.
O novo single Kero Kero tem um propósito claro: marcar a transição entre a fase acústica de Angélica e a próxima etapa que será apresentada em seu segundo álbum, no qual a artista trabalha no momento.
A canção traz a voz doce e assertiva da cantora, que em seus versos faz referência ao tema infantil Head Shoulder Knees and Toes, apresentando partes de um corpo que desfilam sob a mirada de uma mulher desejante. Ela se reapropria da narrativa com um olhar feminino libidinoso – e, tal qual o pássaro que inspira o título da faixa, vai atrás dos corpos que mais lhe apetecem.