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Crédito: Léo Muniz

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Entrevista | CPM 22 – “O show é aquele momento de confraternização”

Atração de sábado (25), no Santos Rock Festival, o CPM 22 chega para a sua terceira vez no evento com novidades. Na bagagem, Badauí e companhia trazem o recém-lançado álbum Enfrente, o primeiro em sete anos.

O álbum foi antecipado pelo lançamento dos singles Mágoas Passadas, que ganhou videoclipe dirigido por Rodrigo Giannetto, Dono da Verdade, Alívio Imediato e Covarde Digital. Em resumo, as faixas abordam histórias e experiências pessoais, a era digital e a pandemia, período no qual o álbum começou a ser composto.

Em conversa com o Blog n’ Roll por telefone, o vocalista do CPM 22, Badauí, adiantou que pretende mostrar algumas dessas novidades no repertório do show em Santos.

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“Vamos tocar músicas de vários discos, mas a gente também já vem tocando umas seis músicas desse novo disco. Com certeza vai ter músicas novas, estamos na turnê do disco novo, mas vamos tocar músicas de toda a carreira. O show é aquele momento de confraternização, se eu tocar só música nova, o show não vai ser tão satisfatório para as pessoas”.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com Badauí.

Foram sete anos até a chegada de um novo álbum cheio do CPM 22. Por que demorou tanto?

Foi uma junção de coisas, na verdade. A gente começou a falar sobre isso em 2020, mas não pela necessidade de que o último tinha sido em 2017. Uma banda de três décadas, acho até bom valorizar o último lançamento, o Suor e Sacrifício. A gente lançou alguns singles na pandemia, que também atrasou o lançamento do Enfrente.

Mas a gente não teve essa pressa como teve já no começo. A gente tinha que lançar o disco que a gente tava afim de fazer, sabe? Tem algo a dizer, a gente senta e faz as músicas. 

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Quando comecei a falar de fazer o novo álbum era 2020, três anos depois do Suor e Sacrifício. Então, mesmo assim, é um período razoável. Teria sido acho que quatro ou cinco anos, não sete. 

O CPM 22 consegue manter firme a sonoridade que carrega desde o início da banda. É nítida a influência de Pennywise, Nofx, entre outras bandas, mas vocês conseguem aprimorar. Qual é o principal desafio quando entra no estúdio para gravar? 

A gente já tem uma identidade muito definida. Mesmo com algumas diferenças de disco para disco, se eu pegar o Felicidade Instantânea é diferente desse disco, que é diferente do Cidade Cinza, mas tá dentro do mesmo DNA, das mesmas influências. 

Elas saem assim por causa das influências que a gente tem, das coisas que a gente ouve, né? Mas a gente não tem uma preocupação de soar diferente.

Obviamente, talvez com a bagagem que você citou, a gente não fica só no punk rock, hardcore melódico, a gente faz um disco com essa essência, mas tem elementos. Por exemplo, na Mágoas Passadas, a gente tem ali um teclado com uma sonoridade um pouco diferente. Isso aí são coisas que a gente acaba aprendendo a usar dentro da nossa identidade, que não fique algo que não tenha muito a ver com o estilo. 

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Acho que isso está relacionado com mais experiência que a gente tem, mas basicamente é a nossa identidade, tá dentro do punk rock, hardcore melódico, não tem como fugir muito disso.

Algo que também é nítido é a mudança nas composições. No Enfrente, o CPM 22 aborda temas sociais, algo diferente do que era feito no início da carreira, por exemplo. Foi natural essa transição?

O Enfrente é mais claro com esse propósito, são músicas que você consegue visualizar melhor isso. Mas  se você pegar Desconfio,  música de 2002, ela era mais ou menos essa pegada com uma outra forma de escrever, uma outra gramática, um pouco mais abstrata, com metáforas e tal. 

A gente continua usando muito isso, mas, não sei, acho que tem o amadurecimento, as coisas que acontecem no país, o momento atual social e político que o país atravessa, atravessou nos últimos anos e atravessa. Então, tudo isso acaba refletindo nas músicas. 

Mas no Cidade Cinza já tem grandes críticas sociais, mas, com certeza, acho que a forma como a gente expressou nesse disco é bem mais direta, mas sem ser caga regra.

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Realmente queria passar esse contexto de reflexão social no disco, e acho que a gente conseguiu fazer bem. 

Qual é o grande mérito do Enfrente? O que o deixa orgulhoso depois de ouvir o trabalho? É justamente a questão da composição ou você enxerga um outro mérito nele?

Acho que a temática principal do disco, que é esse contexto que a gente tem vivido, não é uma lamentação, mas algo como a gente pode fazer mais e não consegue, sabe? O foco era mais ou menos esse, tem críticas mais direcionadas, com certeza. 

O mérito é uma coisa muito louca, quando a gente viu o resultado do disco, as coisas casaram muito bem, as letras com as melodias, a sonoridade do disco, o nome do disco, sabe? A capa, como as músicas se completam, isso é uma coisa que você não consegue controlar. Você sabe o que está escrevendo, você sabe o que a sonoridade está criando, principalmente na pré-produção, mas é um sentimento, como obra, ele vem depois da gravação, sabe? Então, realmente é um disco que a gente acertou muito no em cheio. 

A galera tem se identificado pra caralho, ele tem uma energia muito forte, o Suor e Sacrifício, pra mim, sempre foi um dos melhores discos, adoro esse disco, mas esse tem um algo a mais, não sei porquê, não consigo te explicar.

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Esse disco, por sorte nossa, ou por competência também, ou as duas coisas, a gente conseguiu trazer essa reflexão que eu te digo, um sentimento também nas músicas, sabe? Sem ficar apontando o dedo para esse e aquele, mas realmente fazendo refletir, mas não perdendo aquela sensação de satisfação quando você ouve o disco, sabe? Então, a gente está muito contente, orgulhoso com o resultado. 

No início da carreira, o CPM 22 tocou muito com bandas do cenário underground de Santos, a época de ouro da Califórnia Brasileira. Mas hoje a cidade não tem mais a mesma força. O que você acredita que pode ter impactado?

É uma mudança geral, não é só de Santos. A nova geração tem ouvido menos rock, mesmo ainda tendo um número grande de pessoas da juventude nos shows, montando banda, mas o trap tomou esse lugar. É uma coisa cíclica, normal, acho que o punk rock e o hardcore sempre viveram às margens, o rock no geral sempre viveu às margens dos outros estilos. Tem momentos de mais evidência, de mais interesse, mas é uma coisa cíclica.

Teve um momento mais forte nessa cena, principalmente em Santos, com certeza, mas isso não quer dizer que esteja enfraquecida, só não está tão forte como já foi em outras épocas, o que também não impede isso de acontecer novamente.

Por outro lado, o punk e o hardcore estão ocupando espaços de maior destaque, vide a turnê do Nx Zero por estádios, a estreia do Wanna be Tour, além da presença de bandas como Blink-182 e Offspring no Lollapalooza. Como você enxerga isso?

De repente, por um lado, o cenário um pouco mais underground não tem tanto interesse da molecada, mas, por outro lado, essa molecada tá indo nos estádios ver essas bandas. De repente, o gap ficou maior, a distância. Isso não é bom. 

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Acho que a gente, que é uma banda que representa tanto o underground quanto o mainstream, sabe como é desafiador você manter essa ligação. O Dead Fish faz isso também muito bem, outras bandas também fazem. 

Agora, essas bandas também estão tocando no estádio por conta ser um festival grande com várias bandas, bandas gringas, ou porque é despedida ou volta. O CPM, que nunca parou, se fizer em estádio é arriscado. Porque o cara pode escolher ir no show no Allianz Parque e pagar a maior grana ou ele pode ir no show em Campinas, na semana seguinte. 

Mas não vejo como algo que se sustente por muito tempo para tantas bandas. A não ser quando seja algo de despedida, como é o Natiruts ou o Nx Zero.

Depois de três décadas de banda, tocando em tudo que é lugar, gravando com ídolos, existe algum sonho pendente? 

Sonho é uma coisa quase improvável. Mas a gente já realizou muita coisa fazendo esse tipo de música, que não é tão simples. A gente já gravou com artistas que a gente gosta, que a gente idolatra, como o caso do Trever, do Face to Face.

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Mas já dividimos o palco com várias bandas que a gente gosta também. Acho que o que eu gostaria que pudesse ter mais, mas é um pouco difícil por conta do idioma, é ver bandas brasileiras de punk rock participarem de festivais grandes fora do Brasil. Isso é uma coisa que seria muito legal, ir para festivais segmentados, como o Punk Rock Bowling, em Las Vegas, ou o Riot Fest, em Chicago. Até o Rebellion, na Inglaterra, que já tem uma abertura para bandas brasileiras, isso já é um avanço. A gente já tem possibilidade grande de tocar lá em alguma edição próxima. 

Mas realmente é uma vontade de abrir esse leque, tanto na América Latina quanto na Europa, nos Estados Unidos, mesmo com a barreira do idioma. 

Ser reconhecido por bandas que eu gosto, os caras vêm tocar no Brasil, Face to Face, Nofx, e a gente vai no camarim dos caras. Os caras chamam até pelo nome, fumam um baseado junto, isso já é algo que era inimaginável quando eu tinha 18 anos.

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