Coletânea de Elis Regina resgata canção inédita em formato digital

Coletânea de Elis Regina resgata canção inédita em formato digital

Parece mentira, mas, em janeiro de 2022, completam-se quarenta anos que o Brasil perdeu uma de suas maiores cantoras: Elis Regina. E o que é mais incrível ainda é a importância de Elis na música popular brasileira hoje. Celebrada por fãs contemporâneos de seus discos e shows, Elis conquista novos e atentos ouvintes e influencia novos artistas.

Por isso, a coletânea Elis – Essa Saudade, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (3), se faz nada menos que necessária. Festejar Elis, essa ausência tão presente, com o perdão da antítese, nunca é demais.

Esta compilação produzida pelos jornalistas Danilo Casaletti e Renato Vieira tem como base a fase final da carreira da cantora, especialmente a passagem dela pela Warner, companhia na qual Elis lançou dois importantes discos de estúdio, Essa Mulher (1979) e Saudade do Brasil (1980), além de dois álbuns póstumos ao vivo.

Neste mesmo período, Elis participou de um disco do cantor e compositor Raul Ellwanger, gaúcho como ela. A canção que eles interpretaram juntos, Pequeno Exilado, jamais foi reeditada e chega pela primeira vez ao formato digital em Elis – Essa Saudade, atendendo a um pedido antigo dos admiradores de Elis.

A letra de Pequeno Exilado retrata a história de um menino que, exilado com seus pais nos terríveis anos de chumbo da ditadura militar brasileira, ansiava por conhecer suas origens. A canção fala de bairros de Porto Alegre e, na gravação, é possível perceber a emoção que brotou de Elis ao cantar lugares que também eram sua infância. Por questões profissionais, a cantora que saiu cedo da cidade onde nasceu também era, de certa forma, uma exilada de sua terra.

Pequeno Exilado ainda guarda uma curiosidade: Elis gravou a canção no início de 1980 em uma manhã nos estúdios Reunidos, em São Paulo. Após enxugar uma lágrima do rosto, partiu para outra sala de gravação no mesmo local, e, com sua banda, em um clima totalmente diferente da faixa que acabara de cantar ao lado de Ellwanger, registrou Alô, Alô, Marciano para um compacto que saiu antes da versão mais conhecida, incluída em Saudade do Brasil.

Nela, mostra-se cantora leve, debochada, como a música de Rita Lee e Roberto de Carvalho pedia. Na coletânea, Pequeno Exilado e Alô, Alô, Marciano (cuja versão de compacto também estava indisponível nas plataformas digitais até agora) aparecem na sequência em que foram gravadas. Assim, o ouvinte poderá ouvir o que – só – Elis era capaz de fazer e sentir.

Antigos admiradores e novos fãs poderão ouvir na compilação O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), Cai Dentro (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), Essa Mulher (Joyce Moreno e Ana Terra), Altos e Baixos (Sueli Costa e Aldir Blanc), As Aparências Enganam (Tunai e Sérgio Natureza) e Aos Nossos Filhos (Ivan Lins e Vitor Martins).

Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro), Upa, Neguinho (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri) e Águas de Março (Tom Jobim), três de seus grandes sucessos, saíram do álbum Elis Regina Montreux Jazz Festival (gravado ao vivo em 1979 e lançado em 1982). Do disco Elis Vive (1998), com registro de show feito na cidade de São Paulo em 1979, foi extraída a faixa Corsário (João Bosco e Aldir Blanc).

Elis – Essa Saudade ainda resgata No Céu da Vibração, música que Gilberto Gil fez para o médium Chico Xavier lançada em compacto, Velho Arvoredo, de Hélio Delmiro e Paulo César Pinheiro (sobra de Essa Mulher que foi retrabalhada para o projeto póstumo Luz das Estrelas, ainda inédito nas plataformas) e o bolero Me Deixas Louca, versão de Paulo Coelho para o original de Armando Manzanero. Esta foi a última faixa gravada por Elis, no fim de 1981, para a trilha sonora da novela Brilhante.

Notem: a coletânea contempla quase a totalidade dos autores mais significativos da carreira de Elis. Com isso, conseguimos homenageá-la duas vezes: por meio de sua voz, registradas nessas eternas gravações, e pela reverência a compositores que ela tanto prezava. Elis, essa saudade é real.