A banda de rock alternativo mineira Legrand teve foco e maturidade durante a longa jornada do segundo álbum 1991, que chega às plataformas de streaming com sete músicas embaladas pela verve noventista com tempero equilibrado do início dos anos 2000. Neste registro, que é a primeira parte do disco, o destaque fica para as paredes de guitarra e aos riffs.
1991 é o sucessor do debut Antares, de 2019, e começou a ser pensado e estruturado antes mesmo da pandemia. Foram anos de planejamento, demos, erros e acertos até o resultado final.
Diego Neves, vocalista e guitarrista da Legrand, conta sobre este processo. “Não queríamos dar um passo em falso sequer, então passamos o ano de 2023 inteiro entre planejamentos e acertando os detalhes de mixagem e masterização. O processo foi longo, complicado, o futuro era muito incerto, mas no fim de 2023 e início desse ano, tudo se alinhou, desanuviou e os detalhes que faltavam se acertaram”.
O novo disco da Legrand é, para eles, o início de um novo ciclo. Mais maduros do que nas primeiras apresentações, lá em 2015, e bem mais seguros do que no primeiro registro, o EP de 2017, o trio soube construir uma identidade como artista. “Agora é uma fase mais ‘adulta’ pra banda”, reflete Neves.
A sonoridade é potente, tem vigor e tem balanço. Em 1991 a Legrand arriscou a soar mais como uma banda de rock atual, focando em sons como Slow Joy, Gleemer, Hail the Sun, Citizen e Basement. Também tem um gostinho de Smashing Pumpkins, Weezer, The Promise Ring e American Football.
Há alguns elementos diferentes de qualquer coisa que já usaram, como cordas, por exemplo, remetendo muito às baladas noventistas ao estilo Oasis e The Verve. É um disco com frescor e força, bem dosado e um pouco mais pesado que todos os trabalhos anteriores.
Nas letras, a Legrand expurga a contemporaneidade, isto é, aborda dilemas, dramas e pequenas vitórias do cotidiano.
“No 1991 eu repenso mais a questão da raiva, do quanto é frustrante fazer parte de uma geração que parecia ter o mundo na mão e o futuro lindo como uma pintura do Klimt, mas o que nos foi dado como realidade é chegar aos 30 – e passar dele, como eu – tentando entender como é viver num mundo onde fomos reduzidos a números, horários e doses de antidepressivos”, fala o também letrista Neves.
A falta de tempo, o cansaço, os auto-enganos, as insistente ligações de telemarketing que caem antes mesmo do primeiro alô, a reflexão sobre não sermos assim tão diferentes dos que tomamos por antagonistas, a luta pelo “trono da verdade” onde parece que todo mundo quer ser rei, a pandemia e a desigualdade também estão presentes em 1991.
Além de muitas guitarras, 1991 é um disco de muitas vozes. Tem a participação do ex-baixista da banda, Jão Calderaro, que gravou o disco, inclusive, em backing vocals de várias faixas. Em Inferno, quem participa nas vozes de apoio é o produtor do disco, Luke Mello. Tem ainda um easter egg em Paris, Texas, com participação dos músicos e amigos da banda Varanda.