Maria Beraldo está prestes a lançar seu novo álbum chamado Colinho, que sairá pelo selo Risco em outubro. Depois de seis anos do lançamento de Cavala (selo Risco, 2018), a cantora e compositora retorna com Colinho que consegue ser, ao mesmo tempo, mais pop e mais experimental que seu álbum de estreia.
Se Cavala foi um grito de saída do armário sapatão, que ecoou em tantas ouvintes e transformou Maria – até então clarinetista de Arrigo Barnabé e outros importantes nomes da música de São Paulo – em uma cantora e compositora ativista da comunidade lésbica, colinho traz a elaboração de Beraldo acerca de sua identidade de gênero não binária e acaba por se tornar um objeto artístico-psicanalítico.
Os processos de composição e produção do disco revelaram elaborações inconscientes da artista, que lança o olhar para sua infância e puxa o fio até os dias dias de hoje, trazendo consigo o piano, o violão, o jazz, o samba, que tocavam em sua casa, o choro – gênero musical e lágrimas – para dentro das sonoridades eletrônicas e pops que Beraldo frequenta e desenvolve.
Nesse fluxo de retorno à infância, além do caráter autobiográfico, o disco ganhou muitas letras em inglês, como é o caso do primeiro single I Can’t Stand My Father Anymore (em português: eu não suporto mais o meu pai). A este fato – também decorrente de um processo inconsciente – Beraldo associa o período de sua infância em que morou nos Estados Unidos, dos 4 aos 6 anos, tendo sido alfabetizada primeiro em inglês e depois em português.
Bem humorado, o primeiro single de colinho chega recusando o colo do pai, numa canção sem melodia, sem altura de notas ou acordes definidos, com muito balanço, sarcasmo e o característico minimalismo de Beraldo, da composição à produção.
Uma boa parte da vida de uma lésbica é, em nossa sociedade heteronormativa patriarcal, tentar entender porque é que ela é, ou “virou”, lésbica. Inúmeras são as vezes em que alguém associa este fato a uma possível frustração ou má relação com seu pai. Rindo (alto) disso, Beraldo lança seu primeiro single, uma canção punk provocativa que garante identificação com a letra a qualquer um: I Can’t Stand My Father Anymore – quem nunca?