SPVIC (Haikaiss) e Neto (Síntese) se conheceram pessoalmente em 2012 nos bastidores do programa Manos e Minas, da TV Cultura. O Haikaiss tinha acabado de lançar o seu álbum de estreia e o Síntese estava prestes a lançar o seu. A sintonia foi imediata.
Mais de dez anos de amizade depois, SPVIC e Neto decidiram tirar do papel a ideia de fazer música juntos. Inspirados na ideia de Champion Sound, de J Dilla e Madlib, começaram a trocar beats.
“A gente queria algo que evidenciasse esse nosso papel de produtor, que sempre tivemos nas nossas outras bandas, e que víamos cada vez mais escasso da nossa geração para frente. Esse lance do MC também produzir as próprias músicas, pra nós é muito valioso”, conta SPVIC.
A partir desse primeiro passo, começaram a se encontrar semanalmente na casa do mestre e amigo de longa data DJ Mako e o projeto Olímpico foi ganhando forma. Produziram metade do álbum e os encontros formataram melhor o projeto.
“Ali a gente viu, que além dos beats que a gente tava fazendo, também tinha uma parada de dupla de MC mesmo, tipo um Blackstar (Mos Def e Talib Kweli), que a gente ama. E tudo isso fluindo ali no templo do nosso DJ e Sensei Makotchan”, disse Neto.
“Essa atmosfera ritualística do processo, de samplear do vinil, de usar desde o Fruity Loops 20 Demo até as máquinas mais antigas do Mako, escrever no papel, sabe? Com certeza refletiu muito na aura do Olímpico”, conclui SPVIC
Depois dessa imersão, Vic e Neto foram para o estúdio do músico e produtor VG, gravar o material que já tinham, e lá o projeto tomou outras proporções. Crises e reflexões sobre amor, dinheiro e o ofício, nasceram as letras sobre conflitos pessoais e relacionamentos turbulentos, que foram ganhando espaço no álbum junto com beats do VG, que acabou produzindo a outra metade das músicas.
“O estilo e o gosto do VG casaram muito com o que a gente queria pro Olímpico. Vendo como o Vic cria com liberdade sobre qualquer tema, mais o lance de não ter o ‘peso’ de estar escrevendo pro Síntese, me trouxeram uma leveza maior pra escrever sobre o que nunca tinha me permitido”, explica Neto.
“Foi uma sinergia muito especial, as músicas surgiam rápido no estúdio com o VG. E digo o mesmo, o Neto me permitiu escrever de um jeito que nunca escrevi antes, falando sobre coisas que têm a ver com a gente”, disse SPVIC.
As participações foram escolhidas a dedo. Dukes, a lenda do ABC, participa em duas músicas. Wesley Camilo rouba a cena no refrão de O Que É o Amor? Leo Gandelman, o expoente do sax brasileiro, dá o ar de sua graça em três das nove músicas do Olímpico. E a cereja do bolo, aos 45 minutos do segundo tempo, o MC e produtor lendário de Niterói Marechal participa com uma produção no Olímpico.
Fora do Tempo é o álbum de estreia Olímpico, numa menção aos gregos, nasce da convivência de deuses imperfeitos. É como um monumento à cultura hip hop e ao rap nacional erguido por mestres de seus ofícios.
“Nosso maior objetivo era ter a liberdade para fazer um rap maduro. Celebrar a escola de rap que nos formou; chamar quem a gente gosta, fazer do jeito que a gente queria, diferente por não estarmos produzindo para nossos projetos ‘principais’, que já têm um conceito, uma história e muitas outras pessoas envolvidas”, comenta Neto. “E é só o começo dos trabalhos”, conclui SPVIC.
Toda a produção executiva foi feita pela EME Cultural. “Para nós é um projeto muito especial. Desde o começo trabalhamos juntos para esse projeto acontecer e é uma alegria conseguir concretizar e ver ele nascer de forma tão bonita”, comentou o diretor artístico da EME, Raphael Damiati.
Olímpico é um projeto da produtora Eme Cultural, e foi contemplado pela 7ª Edição do Edital de Apoio a Música para a cidade de São Paulo através da Secretaria Municipal de Cultura.