Após sete meses de processo, entre ensaios seguidos e composições, Tracajazz gravou o álbum de inéditas Puro Veneno em Pessoa. São oito canções, que, de um modo geral, reagem ao sistema incivilizatório, também violento, que se impõe sob vários disfarces e propõem a pílula do despertar.
“Fizemos um disco que fosse uma explosão, uma reação desordenada. Uma resposta aos que tentam colocar o povo dentro de suas caixinhas, cada vez mais apertadas. Não cabe mais. Explodiu!”.
Tracajazz é um trio formado por Christian Euzébio (violão, guitarra e voz), Maurício Scaramal (contrabaixo, eletrônicos e voz) e Guilherme Azzi (bateria, eletrônicos e voz).
Em 2019, quando lançaram o primeiro trabalho, Zero Um, a sonoridade da banda era guiada principalmente pelo violão e, agora, em Puro Veneno em Pessoa, a guitarra assume o protagonismo – uma escolha do grupo.
“No primeiro trabalho, por conta do violão, o disco ficou meio desfalcado de corpo, de intensidade, o analógico e o digital não conversaram muito bem. Nesse segundo, a coisa mudou. O som chegou onde o Tracajazz estava desde o princípio. Isso é normal, leva tempo mesmo. Pra amadurecer não tem atalho. Esse disco tem mais camadas: todos os integrantes têm seus instrumentos eletrônicos como loop station, MPC, controlador MIDI, pedais de efeitos. Isso cria a sensação de uma banda muito maior do que um trio. E tudo isso não é viagem de estúdio! A banda executa essas músicas com todas essas camadas ao vivo”.
A produção e mixagem é assinada por Renato Cortez e a masterização por Fernando Sanches.
O trabalho é como uma continuação do primeiro, um deságue de ideias guardadas há um tempo. Antes das gravações, o trio se encontrava três dias por semana durante sete meses na casa de Guilherme Azzi para ensaiar e desenvolver as composições.
Foram seis dias de imersão no Mato Records para a gravação, estúdio rural localizado numa fazenda em Carmo de Minas, sul de Minas Gerais. Christian revela que sempre foi um desejo da banda estar lá e, estando tudo ensaiado, puderam aproveitar o momento e se soltar na execução, sem inseguranças.
Peçonhentos é o nome da música de onde é extraído o título do álbum. Assim, questiona a canção…
“Ontem eu pensei que sonhei com peçonhentos / Era a realidade / Realidade em peçonha / Puro veneno em pessoa / Tira o escorpião do bolso, incompetente / Seu Carrapato, Sr. Sanguessuga / Quem é o repelente?“.
Os bichos, contam os integrantes da banda, são referências imediatas aos governantes e patrocinadores da cultura de incivilização que se insinua nas tramas políticas.
O disco todo conversa com esse tema: falando da dor em ser moído e em resistir, do desespero, da mídia ilusionista, da urgência de mudança… Enfim, se tudo está desordenado, por que não estariam os discursos nessa obra? As composições são assinadas pelos três integrantes conjuntamente.
“É um processo muito coletivo. Apesar das ideias serem trazidas individualmente, o que se construiu nos ensaios é muito mais importante para identidade da música. Todos dão pitacos em tudo e numa boa. Todos se escutam. Essa é uma das virtudes da banda. Todos se respeitam muito musicalmente”.
Vito-AFirma assina a capa (e praticamente toda a concepção gráfica da banda). Na imagem, centenas de animais peçonhentos formam o rosto de uma pessoa, que injeta uma substância desconhecida pelos fones de ouvido.