Hoje é dia de lembrar as origens do punk. Depois do sucesso da era de ouro do rock n’ roll e da sua fantástica expansão criativa e revolucionaria que se estendeu até meados dos anos 1970, o rock esmoreceu, deixou vencer o prazo de validade.
Para aumentar essa prostração, nesse período crescia os ritmos dançantes com a música pop e a frenética dance music. Elas dominavam as paradas e invadiram todos os clubes e discotecas das cidades.
Sem capacidade de inovação, o rock ficou relegado ao plano secundário do universo musical. Muitos decretaram: “Rock is dead”.
Contudo, ao mesmo tempo que a juventude deixava toda sua energia nas pistas de dança, nos pubs londrinos começa aparecer uma garotada excêntrica e debochada, tocando de forma amadora e espontânea.
Pub rock
Naquele momento a música era o que menos importava. O propósito era ultrajar e afrontar os costumes e o status quo britânico. Mesmo assim, batizaram esse novo som de pub rock. Foi nesse contexto que o rock sai do coma induzido e ressurge como uma espécie de renascimento trazendo consigo seu mais genuíno fundamento: a rebeldia.
Essa música dos pubs passou a ser chamada de punk rock e assim nascia mais uma vertente do rock.
Bem, mas antes de prosseguir, seria oportuno fazer um parêntese para registrar que o rock do final dos anos 1960 já apresentava uma certa inclinação para o que viria a ser o punk rock.
Protopunk
Na cena underground dos Estados Unidos, por exemplo, essa fase ficou conhecida como protopunk (1) e entre seus principais nomes estavam The Stooges do avô do punk rock Iggy Pop, The Velvet Underground, MC5 (Motor City Five), New York Dolls e a poetisa dos punks Patti Smith.
Além das influências dessas bandas, outro fato fundamental para o crescimento do punk rock foi a abertura do Club CBGB (2) direcionado ao publico punk nova iorquino, onde se apresentavam os Ramones, The Dead Boys, Television e outras bandas.
Independente da cena americana, a primeira geração do punk rock britânico que tinha bandas como The Clash, The Damned, Sex Pistols, Buzzcocks, The Vibrators, Eddie and The Hot Roads, surgiu inspirada em grupos do estilo Mods (3), como The Who, The Small Faces, The Troggs, The Kinks e outros…
Termo punk
Voltando ao surgimento do punk rock, o termo “punk” significa imprestável, delinquente, algo sem valor, ruim e representou naquela conjuntura da sociedade inglesa a insurreição suburbana que fundia a música, a moda, a política, a cultura e tudo mais num único movimento social.
É interessante lembrar que foi nesse ambiente que renasce o conceito que pregava as ideias de liberdade, anticonsumismo e as atividades individuais representadas pela sigla D.I.Y. – do it yourself (faça você mesmo).
O punk rock se caracterizava por fazer música barulhenta e de baixo custo, eram curtas, fáceis e com poucos acordes. Em certa medida trazia de volta as origens do rock n’ roll dos anos 1950, porém, com mais potência e riffs mais pesados.
As letras falavam de revolução, anarquia, destruição e das mazelas sociais como o desemprego, violência, as drogas e guerras. Também abordavam temas mais leves sobre os relacionamentos pessoais, sexo e diversão.
Para aumentar o “caos” daquele cenário, eles se vestiam com trajes surrados e rasgados cheios de bottons e acessórios baratos, cabelos curtos espetados, pintados com cores chamativas e completavam o figurino com botas velhas tipo coturnos militares. Moda essa que se popularizou mundo a fora.
Punk renegando o passado
Os punks não faziam questão de tocar corretamente e renegavam todo rock que os antecederam como o glam rock. Ademais, as grandes produções do rock pesado e as rebuscadas e intermináveis músicas do rock progressivo.
Muito embora esse novo estilo de rock tenha sido descriminado por boa parte da critica e do público roqueiro tradicional, o punk rock com o tempo conseguiu afastar esse preconceito e mostrar a sua importância no cenário roqueiro mundial acrescentando assim mais um capítulo na rica história do rock.
Com a popularização do punk rock da Inglaterra surgiram dezenas de bandas do gênero em todas partes do mundo.
Fora as bandas já mencionadas, para finalizar, segue abaixo mais algumas que foram referências do estilo e seus segmentos:
Siouxsie and the Banshees, Sham 69, The Boomtown Rats, The Rezillos, The Dead Kennedys, The Adverts, Generation X, entre outras.
No Brasil, esse movimento foi bem explorado e surgiram bandas como Ratos de Porão, Cólera, Garotos Podres, Olho Seco, Inocentes e muitas outras.
Um punk abraço,
Aldo Fazioli
Referências do punk
(1) Protopunk: Termo usado para identificar artistas que foram importantes precursores do punk rock.
(2) CBGB (Country, Bluegrass & Blues): Foi um clube do East Village em Manhattan, NY, que se notabilizou pelas apresentações de bandas de punk rock americano. Sua história foi retratada no filme CBGB – O Berço do Punk Rock, em 2013 com Alan Rickman.
(3) Mods: Conhecido também como modernists era o estilo das bandas mais comportadas e melhor vestidas que rivalizavam com os rockers. Esses influenciados pelos velhos Teddy Boys ingleses.
Citações do punk rock
“O Rock n’ roll durou 25 anos, tem que ser cancelado; estamos cheios de toda essa porcaria antiga…” Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols
“O Rock n’ roll é uma mulher velha e desdentada” Lou Reed, líder do The Velvet Underground
“Eu sou um anti cristo
Eu sou um anarquista
Não sei o que quero
Mas sei como conseguir
E quero destruir as pessoas…” Trecho da música Anarchy For The U.k., The Sex Pistols
Curiosidade do punk
Os punks difundiram a dança chamada pogo (origem africana) que consistia em se atirar sobre a plateia. Sempre com movimentos de jogar para cima e para baixo.