CARLOS DA HORA
Quando dei play na música inicial de Bluesman, que curiosamente também é a faixa-titulo do álbum, eu não imaginava o quanto as nove músicas do álbum poderiam mexer tanto comigo e de diferentes formas. O grande Diogo Moncorvo, mais conhecido como Baco Exú do Blues consegue mesclar de forma genial mensagens fortes, sensibilidade e um repertório colossal de referências culturais.
Bluesman é o segundo álbum de estúdio de Baco e está saindo hoje (23) em todas as plataformas digitais. Junto com ele foi lançado também um curta com cerca de 8 minutos que faz jus ao trabalho sonoro impecável do cantor. De acordo com Baco, o filme é a interpretação audiovisual do álbum.
Com pouco menos de 30 minutos, o novo álbum teve a complicada missão de ser tão bom quanto seu antecessor, Esú (2017). E ele consegue. Em seu segundo trabalho solo, Baco te leva para fazer uma viagem de ponta a ponta pelo mundo com diversas referências musicais, que vai da suave música europeia presente em sua love song chamada Flamingo ao batidão brasileiro em Preto e Prata. Nesta jornada, ele também consegue dar uma passadinha no swing caribenho na espetacular Kanye West da Bahia.
Esse mix tão bem construído de culturas e raças só podia ser feito por uma divindade, que curiosamente é como o próprio artista se intitula durante o álbum. Além de toda essa mescla de ritmos, Baco traz uma sensibilidade que comove quando trata de sua vida pessoal.
Com um refrão poderoso, Me Desculpe Jay Z trata da confusão de sentimentos do cantor; tenho certeza que vai virar hit em breve. A sofrida Queima minha pele também não pode ser esquecida: retratando um relacionamento bastante complicado, ela apresenta a voz e arranjos de piano de Tim Bernardes (O Terno) que acrescenta um tom completamente tocante.
Criticas políticas e manifestos contra preconceitos são marcos no rap; e em Bluesman não é diferente. A própria faixa-título do disco trata isso de maneira cirúrgica e esse também é o foco da já citada Kanye West da Bahia. Ambas possuem letras muito fortes e imediatas, essenciais para todos.
Mesmo passando por algumas mudanças extremas de uma faixa para a outra, como na transição de Girassóis de Van Gogh para Preto e Prata, o disco não fica desagradável e nem estranho em nenhum ponto. Posso dizer que apesar das músicas serem diferentes entre si, elas estranhamente se conectam. Isso faz o álbum ser um conjunto muito agradável e não um punhado de músicas aleatórias.
Existe uma semelhança inegável entre o músico e os norte-americanos Kendrick Lamar e Childish Gambino. Os três têm suas raízes principais no rap, entretanto conseguem expandir suas ideias para outros gêneros com letras profundas e que cativam os ouvintes. E enquanto os dois nomes internacionais foram grandes responsáveis pelo rap ser o estilo musical mais consumido dos EUA em 2017 e Baco vai se consolidando cada vez mais no cenário musical brasileiro.
Para terminar, vou deixar o encerramento da canção “BB King”, uma homenagem a Riley Ben King, grande nome da história do blues. A música da um ponto final digno ao disco com uma citação digna de arrepio:
“O que é ser “Bluesman”?
É ser o inverso do que os “outros” pensam.
É ser contra corrente, ser a própria força, a sua própria raiz.
É saber que nunca fomos uma reprodução automática da imagem submissa que foi criada por eles.
Foda-se a imagem que vocês criaram.
Não sou legível. Não sou entendível.
Sou meu próprio deus. Sou meu próprio santo. Meu próprio poeta.
Me olhe como uma tela preta, de um único pintor.
Só eu posso fazer minha arte. Só eu posso me descrever.
Vocês não têm esse direito.
Não sou obrigado a ser o que vocês esperam!
Somos muito mais!
Se você não se enquadra ao que esperam… você é um “Bluesman”.”
As pessoas de sampa terão a oportunidade de serem um dos primeiros a contemplar o Bluesman de Baco ao vivo e vários outros artistas no festival “No Ar Coquetel Molotov” que acontece no dia 30 de novembro. Atrações como Boogarians e Tuyo também estão confirmadíssimas no evento.