Em 2000, quando o lançou o álbum Acústico MTV, o Capital Inicial consolidou de vez o seu ressurgimento, processo iniciado com o disco anterior, Atrás dos Olhos (1998), que marcava o retorno de Dinho Ouro Preto ao vocal. Reunindo os grandes sucessos da banda em nova roupagem, o Acústico emplacou seis músicas nas paradas.
Hoje, 16 anos depois, o Capital Inicial resgata o formato desplugado, com o disco Acústico NYC, gravado em Nova Iorque. A turnê de divulgação chega a Santos neste sábado, às 22h, no Mendes Convention Center. E Dinho afirma estar disposto a fazer um show longo.
“Nós vamos tocar o Acústico NYC completo, que tem 23 canções, e depois emendamos mais uma sequência grande de sucessos. Calculo que será uma apresentação de quase três horas de duração. Tocamos, em média, umas 2h30, 2h40”.
A parte do acústico, segundo Dinho, contempla as canções produzidas de 2002 em diante. A sessão pós-acústico prioriza os hits da década de 1980 até 2000. O vocalista conta que o público tem pedido bis mesmo após esse repertório extenso. E se mostra surpreso com a reação dos fãs.
“Não sei o que fizemos, mas parece que escolhemos uma sequência de canções que faz o tempo correr rápido. Nós nem percebemos que estamos por tanto tempo no palco. E os fãs também não cansam”.
Sobre a duração do show, o vocalista brinca e faz uma comparação com Bruce Springsteen. “Ele faz apresentações com mais de três horas de duração. E o público não cansa também. O Green Day também faz shows extensos, mas tem muita enrolação. Outro dia vi um show deles na TV e tem música que dura oito minutos, incluindo o tempo da interação com os fãs. O nosso é música o tempo todo”.
Escolha do Capital pelo acústico
Dinho acredita que o público esperava por um álbum elétrico de estúdio após o EP Viva a Revolução (2014), que foi base da última apresentação dos brasilienses em Santos, no ano passado. Mas quis fugir do óbvio, evitar algo repetitivo.
“Decidimos fazer o acústico e convidar artistas que não são exatamente do rock, mas que tem um elo com o som. Foi por isso que chamamos o Seu Jorge e o Lenine para a gravação. E Nova Iorque também se insere nesse contexto. Todos esses elementos fazem parte do mesmo propósito, algo fora do comum”.
A própria escolha das releituras do repertório (Charlie Brown Jr e Legião Urbana) partiu de um dos convidados.
“O Lenine que pediu para gravarmos Tempo Perdido. Ele disse que queria celebrar o rock and roll brasileiro”, diz. “O Seu Jorge pode ser do samba, mas ele tem o pezinho ali. Eu vi o cara cantando David Bowie no filme do Wes Anderson (A Vida Marinha com Steve Zissou). Depois vi quando ele cantou Kraftwerk com o U2, no Morumbi. O cara tem alguma coisa de rock and roll ali”, completa sobre o outro convidado.
Novo álbum e outras bandas
Atualmente no meio da fase de divulgação do Acústico NYC, Dinho afirma que um novo álbum de inéditas já está em andamento.
“Tenho um monte de músicas, um monte de letras, mas elas estão separadas. Ainda não juntei uma com a outra. Como a gravação é para daqui um ano, ainda temos tempo para fazermos isso”.
Na contramão dos críticos e bandas que costumam “decretar” a morte do rock de tempos em tempos, Dinho afirma que o objetivo nunca foi tocar no rádio ou na TV. “A molecada de hoje age como agíamos há 35 anos. Dane-se que não vai tocar na rádio. Nunca foi o objetivo”.
Ele destaca bandas como o Far From Alaska, Vespas Mandarinas, Instinto e Dona Cislene. “Sou acessível, gravo com todo mundo. Se o som me agrada, eu gravo. Eu levanto a bandeira do rock. É uma causa para mim”.
Ligação com Santos e o Charlie Brown Jr
Um dos nomes mais fortes do rock brasileiro desde os anos 1980, o Capital Inicial possui uma ligação forte com Santos. O santista Murilo Lima, por exemplo, foi o vocalista da banda durante o tempo em que Dinho se ausentou, entre 1993 e 1997.
A Cidade também foi uma das primeiras fora Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília a receber um show da banda de Dinho.
“Tocávamos na Heavy Metal (entre o Canal 3 e a Avenida Conselheiro Nébias, na praia) sem ter nem álbum gravado. E o público comparecia em peso. Depois fizemos muitas apresentações marcantes no Caiçara. No Caiçara, já estávamos todos com discos gravados. O local ficava abarrotado. Galera ia em peso para lá. O lugar tremia. Rolava uma fúria rock and roll ali. Santos sempre foi uma cidade muito rock and roll”, conta Dinho.
E o apoio às bandas autorais era muito comum. “Foi assim com o Titãs, Paralamas, Legião, Ira! Quando o Ira! lançou o primeiro disco, eu já sabia o repertório deles completo. Com o Capital idem. A galera de Santos, São Paulo e Rio também já cantava junto”.
Na atual turnê, o ex-guitarrista do Charlie Brown Jr, Thiago Castanho, é integrante fixo do Capital Inicial. “Eu e minha família temos o hábito de passar férias na Barra do Sahy, no Litoral Norte. E o Thiago também ia. Ele ficava duas casas de mim. Tinha o envolvimento profissional durante o ano, nos encontros das bandas, mas também a relação pessoal, no fim do ano”.
Essa aproximação entre os dois se manteve até as trágicas mortes de Chorão e Champignon, integrantes do Charlie Brown Jr. “Passou quase um ano da morte do Chorão e eu vi que o Thiago estava arrasado ainda, sem rumo. O cara é meu amigo, foi horrível ver aquilo. Fazer música é a melhor forma de sair do buraco. Fizemos duas músicas no Viva a Revolução (Coração Vazio e Melhor que Ontem) e intensificamos a parceria para o acústico”.
Política
Uma das marcas de Dinho nos shows do Capital Inicial ou mesmo em entrevistas é expor sua opinião sobre o cenário político do Brasil. Ele não costuma poupar nas críticas.
“A polarização na política é algo quase infantil. Beira o ridículo. Tanto o ódio anti-petista quanto o contrário. As extremas direita e esquerda se igualam em falta de sensatez. Eu sou uma pessoa de centro-esquerda. Não votei na Dilma. Acho que a grande virtude de um líder é manter o que está bom e melhorar o que está ruim. A Dilma destruiu o legado do FHC e do Lula. Ela vai ser lembrada como uma das piores governantes dos últimos tempos. Possivelmente só o Sarney ou algum chefe militar se iguala”.
Apesar das críticas, Dinho ressalta que não concorda com o impeachment da forma como ele está sendo conduzido.
“Me parece uma punição em excesso. Se o Brasil não estivesse passando por uma grande crise econômica, crescendo 4 ou 5% ao ano, isso não estaria acontecendo. Criou-se a tempestade perfeita. O perigo do motivo contábil pelo qual ela está sendo julgada me faz lembrar de Maquiável: Aos amigos os favores, aos inimigos a lei. Um presidente impopular poderá ser caçado por uma pequena infração. É um precedente perigoso”.
De acordo com o vocalista, a presidente afastada deveria ser julgada por outras razões. “Comentam-se que entrou dinheiro desviado da Petrobras, através de empreiteiros, na campanha dela e do Temer. O foco está no crime de responsabilidade fiscal, mas se ela fez isso, foi algo muito pior”.
Ingressos
O show do Capital Inicial será amanhã, a partir das 22 horas, no Mendes Convention Center. Os ingressos custam entre R$ 80,00 (pista) até R$ 160,00 (área vip com open bar). Assinantes de A Tribuna pagam R$ 56,00 (pista) e R$ 70,00 (pista premium). Site: www.ingressonanet.com