Formada em 1991, na pequena cidade de Denton, no Texas, pelos irmãos Toby e Todd Pipes, a Deep Blue Something se encaixa perfeitamente na categoria One-Hit Wonder (o famoso por apenas uma música). No caso deles, Breakfast at Tiffany’s foi a canção que estourou nos anos 1990.
Reverberando até hoje, a faixa marcou presença em trilhas de filmes e séries, como Top Gear, New Girl, Orange Is the New Black e Everything Sucks!
Ficar marcado por ser uma banda de one-hit wonder não é o fim dos tempos para a banda. Todd Pipes, guitarrista e compositor da música, disse ao Blog n’ Roll que não é incômodo para os integrantes essa alcunha.
“Mesmo que só tivéssemos um sucesso, ainda levaria as pessoas a escutarem nossas outras músicas às vezes”, explicou Todd, que conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom.
Em pouco mais de 30 anos de carreira, o Deep Blue Something lançou apenas quatro álbuns oficiais: 11th Song (1993), Home (1994), Byzantium (1998) e o homônimo (2001).
11th Song, que já contava com o hit Breakfast at Tiffany’s, foi lançado por um selo independente, Doberman Records. No ano seguinte, relançou a faixa no primeiro álbum por um major. Home chegou às lojas pela Interscope, da Universal Music.
Na entrevista, que durou cerca de 40 minutos, Todd se mostrou muito confortável para detalhar a origem da música, o desenvolvimento da carreira pós single, além do atual status da banda. Confira abaixo.
Como era Denton antes do lançamento de 11th Song? Vocês frequentavam shows de bandas locais? Tinham um cenário ativo?
Tinha uma cena musical muito ativa. Denton é uma cidade universitária ao norte de Dallas, no Texas. Formamos a banda pois haviam muitas outras bandas por todo lugar, isso foi muito inspirador, eram todas bandas autorais, não haviam covers, o que requer muita coragem. Então tivemos que começar a compor imediatamente para conseguir ser parte daquilo. Não poderíamos sair para tocar músicas dos outros, as pessoas não aceitariam isso, e isso é provavelmente a melhor coisa dessa cena musical.
11th Song marca a estreia da banda, mas ainda por um selo independente. Vocês já imaginavam que iriam alcançar um sucesso comercial?
Imaginávamos no começo, mas demorou um tempo até chegar. Fizemos o 11th Song e gerou um interesse dos fãs e tal, mas não das gravadoras, e por isso nós íamos gravar o Home, pois tínhamos que continuar em frente.
Porém teve um ponto que não tinha certeza se conseguiríamos, e foi nesse momento que começamos a tocar na rádio e ter o interesse de algumas gravadoras. Nós imaginamos, mas não achei que iria acontecer.
No primeiro álbum, aliás, o maior hit já estava presente: Breakfast at Tiffany’s. Como surgiu essa canção?
Na época que a banda se formou, eu estava na graduação, iria pegar um diploma em Literatura. Naquele momento, estava fazendo uma aula que falava de Arthur Rimbaud, Charles Baudelaire, esses caras. E comecei a pensar, se esses caras podem escrever poesia que não rima, será que posso escrever uma música de sucesso que não rime? Talvez ninguém note.
Essa foi a principal inspiração, não que eu fosse um grande fã da Audrey Hepburn. Foi pelo desafio. Pensei que se colocasse a frase Breakfast at Tiffany’s na música, e ela soasse bem, esconderia o fato de que a música não rima. Assim que comecei, vi que fiz uma música de término, mas não era sobre mim.
Mas você gosta do filme Breakfast at Tiffany’s?
O livro é melhor do que o filme. O livro é mais obscuro, o filme é interessante para aquela época.
Mas incomoda ter a trajetória marcada pelo one-hit wonder?
Não muito. Para a maioria das pessoas, eles conhecem aquela música, e tá tudo bem. Não me incomoda, mesmo que só tivéssemos um sucesso, ainda levaria as pessoas a escutarem nossas outras músicas às vezes. Então, tudo bem, ainda está fazendo o seu trabalho, nos dando uma oportunidade.
Com o segundo álbum, Home, vocês conseguiram um contrato com uma gravadora. O quão isso foi importante para vocês?
Foi importante, e houve uma época, devido a estarmos tocando muito e vendendo muito, que nosso agente disse que não tínhamos que assinar com uma grande gravadora, isso talvez continuaria acontecendo sozinho.
O problema era que a MTV na época passava clipes, e precisávamos de capital para produzir clipes, mas não tínhamos esse capital. Estavam oferecendo muito dinheiro, então escolhemos a gravadora que parecia que iria nos apoiar mais.
Mas descobrimos muito cedo que quando se assina com uma gravadora grande, você perde o poder de decisão como banda. Eles dizem que você tem o poder criativo, mas não muito. Você tem desde que concorde com o que eles querem.
Sempre leva tanto tempo para se tomar uma decisão, era muito frustrante para nós, pois vínhamos de uma cena independente onde fazíamos o que queríamos.
Mas não teríamos sucesso internacional sem estar em uma gravadora. No final, foi bom, mas tem dois lados para tudo.
Byzantium, o terceiro álbum, saiu primeiramente em outros países, mas não nos EUA. O que motivou isso?
Haviam muitos problemas com as gravadoras nesse ponto, pois nos EUA havia muito a questão dos downloads ilegais. Então, todos estavam hesitantes, pois muitas gravadoras estavam demitindo, pois as vendas tinham caído devido aos downloads.
O selo americano queria esperar para lançar, enquanto os outros pelo mundo queriam lançar, por isso saiu em alguns lugares. Devido ao selo americano ter esperado tanto, eles deviam entregar o disco para nós, pois estava no contrato. Terminamos tendo os direitos dele, porém foi frustrante pois queríamos ter lançado, as pessoas que ouviram pareciam ter gostado, os fãs estavam se perguntando o que aconteceu conosco. Foi frustrante.
O que freou o crescimento da Deep Blue Something após esse início tão promissor? Fariam algo diferente hoje para corrigir o passado?
Não, pois as coisas acontecem quando desaceleramos. O disco saiu nos EUA, depois na Europa, depois no Oriente, então estávamos seguindo pelo mundo. Na época que voltamos para casa, já tinham se passado dois anos e meio, a música tinha mudado muito. Não tinha muito o que poderíamos fazer para alterar o modo como as coisas aconteceram, foi apenas diferente.
Transitamos para o pop, mas na época o pop estava virado mais para as crianças da Disney, boy bands, não nos encaixamos. O outro sucesso era o rap metal, também não nos encaixamos. Então, não tem nada que poderíamos fazer para mudar as coisas, acredito que tenha sido o melhor, pois todos sobrevivemos, ainda estamos juntos, ficou tudo bem.
Agora podemos voltar ao ponto em que estávamos na época que éramos independentes, fazendo o que queremos, e é divertido novamente. Vamos tocar em Nova York em alguns dias, não vejo os rapazes há alguns meses, iremos lá tocar, será muito divertido, depois voltamos e fazemos outras coisas por um tempo, é um cenário perfeito para nós.
Qual é o atual status do Deep Blue Something? Vocês pretendem gravar álbuns novos, fazer turnês? Quais são os planos?
Todos fazemos coisas diferentes, temos nossos negócios e todos têm filhos e tal. Agora que nossos filhos estão mais velhos, foi o que nos fez decidir a fazer shows novamente. Vamos gravar algumas músicas e lançá-las, então é basicamente, quando quisermos fazer algo, faremos, mas não temos que fazer nada. Isso é fantástico, não depender da música, fazer apenas por diversão.
É exatamente igual quando éramos mais novos. Muitas bandas da nossa época, que ainda tocam, trabalham com música em tempo integral, tem que tocar a todo tempo, nós não. Só tocamos as que acreditamos que serão muito legais, pois fazemos outras coisas. É muito legal para nós.
Em algum momento da carreira surgiu a possibilidade de vir ao Brasil? O que sabem sobre o país?
Nós tivemos a oportunidade. Aconteceu na América do Sul em geral, a gravadora que estávamos não tinha um bom contato no Brasil, pois parece que íamos em todo lugar, mesmo assim não íamos para aí, mas sempre quisemos, ainda queremos.
Tivemos um pouco a oportunidade, mas a gravadora não tinha alcance nessa parte do mundo, e eu queria que tivesse, mas as gravadoras têm seus pontos fracos também. Acredito que eles não tinham um bom parceiro na América do Sul.
O Brasil parece incrível, tenho um amigo que cresceu no Brasil, ele sempre falou sobre o país, o que me dá vontade de visitar. Têm alguns pilotos de Fórmula 1 do Brasil que sou fã também, esse tipo de coisa me faz querer visitar.
Eu amo Fórmula 1, assisto religiosamente com a minha filha. Meu preferido é o Verstappen, mas também gosto do Sérgio Perez, do Alonso, ele é tão bom, divertido. O Leclerc é um ótimo piloto, gostaria que a Ferrari estivesse melhor.
Essa é uma coisa sobre a F1, gostaria que todos os pilotos pudessem fazer o seu melhor, mesmo que ache o Verstappen o melhor, quando o Leclerc vai bem, fico empolgado. Quando Alonso vai bem, também fico.
Consegue listar três álbuns que foram fundamentais para a tua formação como músico?
O primeiro que comprei com meu dinheiro foi Kiss Alive, ouvi que nem doido. O segundo é The Kids Are Alright, do The Who, aprendi a tocar baixo ouvindo esse disco, assim como Moving Pictures, do Rush, além do II, do Led Zeppelin.
Esses quatro discos me formaram como baixista, tudo que sou como músico vem deles. Sou um baixista mais do que qualquer outra coisa, esses discos me fizeram um bom baixista.
Não sabia quem era Geddy Lee, John Paul Jones ou John Entwistle, não sabia que eram os melhores de todos os tempos e quão difíceis são suas músicas, era apenas uma criança com um baixo grande querendo tocar, mas trabalhei duro.
Conseguia tocar todas do Led Zeppelin II aos 12 anos, tinha muito orgulho disso. Eles foram ótimos professores.