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Entrevista | Biquíni – “Não fazemos música com bula”

Já são quase 40 anos de história, mas o Biquíni não dá nem sinais de cansaço. Pelo contrário, agora sem o Cavadão no nome, a banda segue inovando e buscando formas de entregar experiências inéditas para os fãs.

Neste domingo (26), na abertura do segundo dia do Santos Rock Festival, no estacionamento da Arena Santos, o Biquíni fará um show com seus maiores hits. O show começa às 16h. Detonautas toca às 18h, enquanto Humberto Gessinger fecha o evento às 20h. Ainda há ingressos disponíveis.

Em conversa com o Blog n’ Roll, o vocalista do Biquíni, Bruno Gouveia, falou sobre o atual momento da banda, mudança no comportamento dos festivais, expectativa para a apresentação em Santos, além dos próximos passos.

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Como está a expectativa para o show em Santos?

A expectativa é a melhor possível, porque a gente tem realmente feito shows muito bons em cada região de São Paulo. E estamos sempre fazendo shows por perto. 

Recentemente, teve uma coisa muito legal, a gente andou fazendo alguns shows partindo para cruzeiros, saindo do Porto de Santos. E foram marcantes pra gente porque os caras decidiram que nós íamos tocar no palco na hora que nós estivéssemos zarpando. Então, a gente tocou para todos os prédios ali, na Ponta da Praia. Foi um festival de apagar a luz, piscar todo mundo, foi muito mágico.

A gente tá louco pra poder fazer essa festa junto com artistas que já conhecemos, já dividimos palcos várias vezes, é sempre bom encontrá-los. É um clima muito gostoso realmente encontrar o pessoal todo.

O que o público pode esperar do repertório do Biquíni pra esse show no Santos Rock?

Festivais costumam ter uma limitação de tempo, é muito comum isso, até porque acho que o festival serve mais ou menos como se fosse um menu degustação, sabe? Ele vai te oferecer um best of de cada artista, e a gente vai naturalmente fazer isso, um apanhado de 39 anos de carreira, sem nunca ter parado, com grandes músicas nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010.

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Acho que se der um tempinho, a gente consegue ainda emplacar alguma coisa mais específica, né? Tocar alguma música mais relacionada aos nossos trabalhos mais recentes.

Tem algum hit que mexe mais contigo na hora de tocar nos shows? Por que?

Tem várias canções que se destacam nesse sentido. Acho que quando a gente toca Tédio é especial. Toda vez que eu tô no palco cantando Tédio e vejo a galera cantando, volto no tempo em que tava ensaiando com meus amigos, ensaiando dentro de casa, nessas quatro paredes aqui, onde eu tô agora. 

Nós éramos muito adolescentes, querendo fazer um som e sem ter a menor ideia do quanto essa música ia chegar aos corações das pessoas. Ou seja, quase 40 anos depois, é um hit no show do Biquíni, a gente toca e a galera vai e faz uma festa enorme.

Talvez essa música tenha essa característica mais especial por conta disso. Foi a primeira música que nós fizemos, então sempre falo, caramba, cara, tudo começou com isso aqui e olha só o resultado que deu.

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As músicas também ganham sentidos novos a partir do momento que chegam ao público, certo? Você já presenciou isso? Pra mim, Impossível, por exemplo, virou a trilha do Grêmio na Libertadores de 2007, em função das viradas históricas do clube.

Incrível, eu não sabia dessa história do Grêmio. O Grêmio tem um hino lindo, um dos mais bonitos, inclusive. Essa é uma novidade pra mim.

Mas sempre falo assim: a partir do momento que a gente apresenta uma música, ela meio que deixa de ser nossa, sabe? As pessoas vão cantar e vão contar alguma coisa muito especial para elas. Cada música vai entrar na vida da pessoa de uma forma.

Me lembro muito de uma mãe no Paraná. Ela tinha uma filha que nasceu com um problema de nascença, que envolvia o coração e tudo. Ela tinha que ir com uma certa constância ao hospital e quando ela ficava no hospital, ficava por 30 dias.

E aí a música Quando Tempo Demora Um Mês era o alento dela. Era sempre muito difícil, mas ela cantava essa música “daqui a um mês, quando você voltar, a lua vai estar cheia e no mesmo lugar”. Ou seja, era uma música cantada para os 30 dias. Existem interpretações lindas como essa, né?

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E existem interpretações como, por exemplo, Zé Ninguém. Zé Ninguém é muito doido, é uma música que já foi usada em todo espectro político que você possa imaginar, entendeu? E eu sempre falo, não é uma canção política, é uma canção sobre a sociedade.

Ela é muito mais uma crítica social, muito mais sobre o Zé Ninguém do que qualquer tipo de ideologia que o Zé Ninguém acredita.

Então já foi cantada em várias passeatas, independente do viés que estava tendo ali. Porque entendo que, naquela hora, as pessoas não estavam no viés político, elas estavam no desabafo, contra alguma coisa e estavam usando a letra pra isso.

A gente não faz música com bula, sabe? Eu acho que quando a gente faz uma música, a música não tem bula.

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Ela não foi feita assim: “essa música é pra quando você estiver deprimido”, “essa música é pra quando você estiver viajando”, “essa é pra quando você estiver com saudade”. Não, as pessoas buscam as suas memórias afetivas e cantam a música com base nisso, com alguma coisa que lembre, toque o coração delas.

Por falar em sentido para as canções, o Biquíni tem um projeto muito bacana, o Vou Te Levar Comigo, no qual vários artistas gravam com vocês sucessos da banda. Como surgiu esse projeto?

Acho que essa pergunta tem muito a ver com a resposta que eu dei atrás. Porque, na verdade, essa história toda começa quando o Matheus & Kauan entram em contato com a gente, porque nós íamos tocar em um teatro em São Paulo, e eles falaram: poxa, nós queremos assistir o show de vocês. Fiquei meio assim, uma dupla sertaneja querendo ver um show de rock? E eles responderam que adoravam o trabalho do Biquíni. 

Nessa hora, caiu uma ficha muito importante. Se a música não tem bula, muito menos ela é direcionada para cidadão A, B, C ou D, ou gostos A, B, C, D, não importa. Nós fazemos música pra quem abraça as nossas ideias, quem quer ouvir a gente cantar.

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Isso é muito legal. A mesma coisa acontece do outro lado. Muitas vezes você vê aquele roqueirão todo tatuado, camisa preta e tudo, se derretendo cantando Evidências, que é uma grande música, por sinal. 

É nesse sentido que a gente chega para Matheus & Kauan e fala: querem gravar uma música com a gente? Eles responderam pra já. Aí ele falou assim: a gente pode escolher a música? Claro. Pensei que eles fossem escolher Vento Ventania, Timidez, Tédio, alguma coisa assim, mas eles falaram Quanto Tempo Demora Um Mês.

E aí vieram outros convidados, veio o Péricles cantando Janaína, o Fagner cantando Vou Te Levar Comigo, o Alex Escobar cantando Tédio, o Falamansa com Dani

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E já tem planos para mais?

O próximo convidado é o Guilherme Arantes, com Impossível, tocada no piano. A gente queria muito que ele soltasse a mão dele no piano. Ele toca lindamente a canção e cantou comigo. A gente trocou várias ideias e tal. Foi uma tarde… Nossa, incrível!

Até a hora que eu não resisti, tive que bancar o tiete mesmo. Pedi para ele tocar Meu Mundo e Nada Mais. Ele topou e a gente ficou cantando juntos. 

Então, eu tô tendo a oportunidade de encontrar pessoas que eu admiro e, em alguns casos, que são meus ídolos, né? Tá sendo muito legal.

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Vocês pretendem lançar um álbum com essas músicas?

Até o final do ano, a gente ainda tem mais surpresas. Estamos conversando, sempre buscando artistas que não sejam do rock. Então, por isso o Fagner, Falamansa, sempre vai ser uma surpresa nesse sentido. O álbum sai até o final do ano com essas canções todas reunidas. 

É uma coisa muito moderna que a gente tá fazendo, essa coisa de lançar singles e depois transformar num álbum, sabe? Tinha uma banda chamada The Beatles, que eles costumavam fazer isso (risos). Moderno, né?

Vocês se sentem pressionados para gravar canções inéditas?

Tem duas coisas aí para falar. Primeiro, que se eu quisesse lançar todas as músicas que o Biquíni tem arquivadas, que estão ali esperando a chance de entrar num álbum de inéditas, acho que a gente teria três ou quatro álbuns aí pra lançar. 

A gente quando começa a se reunir pra falar de um álbum de inéditas, a gente vem normalmente com 20 a 30 músicas, das quais vão virar de oito a dez, normalmente. A gente sente justamente essa coisa de não desperdiçar música.

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A gente vai fazer esse trabalho sempre com o cuidado de fazer com que cada lançamento seja especial para cada música, entende? Essa é a questão que mais pega pra gente. Quando tiver uma ideia, ah, eu quero gravar essa ideia, ou tem outra ideia, vai gravando.

O problema não é o desafio de gravar novas músicas, mas chega a ser um estresse na hora de escolher as músicas. O disco passado que a gente lançou, Através dos Tempos, veio com algumas músicas que ficaram de fora de outros discos. 

Fora esses projetos que a gente tem vontade de fazer, queremos manter as homenagens, como a gente fez com o Herbert Vianna (Ilustre Guerreiro). Tem mais coisas nesse sentido.

Bruno, o Biquíni no Hollywood Rock de 1993 é uma das primeiras lembranças que tenho de grandes festivais no Brasil. E muita coisa mudou no sentido de valorização dos artistas nacionais no lineup. Como você vê isso?

Para entender isso, a gente tem que voltar no tempo e entender que eram raríssimos os shows internacionais por aqui. Hoje, você tranquilamente pode olhar a agenda de shows pelo país e não seria de se espantar se todo final de semana tivesse algum artista internacional se apresentando no Brasil. Mas naquela época, não. Naquela época era muito raro.

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O que o Roberto Medina fez com o Rock in Rio foi incrível, porque ele trouxe todas as atrações, as principais atrações para vários dias de festival, aquilo foi muito impactante, marcante, uma coisa que mudou o cenário da América Latina. Fez com que muitos artistas começassem a pensar sobre a viabilidade de fazer shows na América do Sul. 

Mas ainda assim, durante um certo período, aquilo ainda era raro. O Hollywood Rock, por exemplo, acontecia em janeiro. Depois não tinha praticamente nada.

E aí entra naquela coisa que até hoje existe bastante, a história de ficar acampado, você ficar na fila uma semana antes, né? E aí você chega no dia, sol na cabeça, sai correndo, sabe? Vai pra ali para o gramado pra poder ficar o mais próximo possível do palco, ver tudo. As pessoas esperavam por meses para aquele momento.

E aí, então, você começa a assistir o festival e, de repente, entra o Biquíni no palco. Você só quer ver o seu artista que nunca veio ao Brasil. Naquele dia tocamos com o Alice in Chains e o Red Hot Chili Peppers. 

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Então, não importa quem você é nessa hora, aquele cara só quer que você vá embora, saia do palco: tchau, tchau, vai embora

Era algo como: vejo você daqui três semanas aí numa festa, numa casa noturna, na minha cidade.

Vocês foram muito alvo do público?

Isso pegou o Biquíni num momento de extrema popularidade. A gente sobe ao palco, tem 80 mil pessoas no Morumbi, só que 4 mil na nossa frente querendo que a gente fosse embora, que eram os fãs mais fanáticos, aqueles que estavam se espremendo realmente para poder assistir a atração. Mas isso, pra gente, no palco, é até onde a vista alcança, sabe?

Onde você consegue ainda identificar as pessoas falando. No universo das pessoas, você ainda consegue ver se o cara tá te mandando tomar naquele lugar, entendeu? E aí, cara, foi uma escola.

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A gente teve que fazer um show que, quando eu saí do palco, tinha achado que tinha sido horrível, mas depois começou a sair as notas, principalmente a cobertura jornalística que falava completamente diferente. A cobertura jornalística dizia que as arquibancadas estavam tremendo com o pessoal pulando, já a crítica, não.

A crítica estava ansiosa para ver o show dos outros, ela não teve esse discernimento. Estava junto com os fãs naquilo de “acaba logo que seu show não foi bom”.

Você tem que lidar com essas coisas de vez em quando. Mas serviu pra gente, foi muito importante pra gente aprender a fazer show em situações adversas.

E como foi a experiência seguinte em festival?

Nós tocamos no mesmo Hollywood Rock, agora, no Rio de Janeiro. E quando a gente tocou no Rio de Janeiro, me lembro que a primeira coisa que a gente falou foi: acendam todas as luzes. Dane-se o nosso projeto de luz para o palco.

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Primeiro porque não tá tão escuro assim, nós estamos ainda tocando num horário que tá caindo à noite. Segundo, vê de onde estão tacando as coisas. 

E aí, tinha uma coisa muito engraçada. A gente, antes de entrar no palco, falou: nós temos que fazer esse show pra TV!

Vamos fazer o show pra TV! Lembre-se disso! Então, não baixem a bola, não fiquem chateados, pode estar o caos na frente, vamos estar com aquele sorriso, sabe? Dizendo assim, cara, tá muito bom isso aqui!

E a gente entrou no palco assim: uau, tá muito bom! Aí teve uma hora que a fileira da frente toda começou a mostrar o dedo do meio pra gente. E aí eu só fui no microfone e falei assim: a galera aqui da frente tá toda com os braços pra cima. Quero ver todo mundo com os braços pra cima. E todo mundo fazia, mas na televisão só via o movimento, não via os dedos do meio. A gente ganhou muita experiência fazendo algumas coisas assim, a gente venceu. 

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E tem uma coisa tão legal que aconteceu nesse show no Rio de Janeiro, que repito até hoje. Eu sempre chamo alguém do público para cantar comigo. E aí eu pedi para o segurança pegar o garoto lá, que eu estava vendo ele cantando.

O segurança pegou o garoto e foi arrastando ele para o palco. Mas ele veio gritando: eu não fiz nada, eu não fiz nada.

Eu o acalmei e disse: vem aqui, vem cantar comigo. E o cara mandou tão bem. Então, aquele povo inteiro que estava vaiando, abraçou o show. Todo mundo sabia a letra, cara, impressionante. Todo mundo sabia cantar a música, todo mundo sabia a letra.

O tempo passa mais rápido assim. Eu sempre falo, pô, você não tá afim de ver? Senta um pouco no chão, espera um pouco, vai passar, cara. Até porque, olha, estou falando até pra quem tá lendo, o cara terminar mais cedo não vai fazer com que outra banda entre mais cedo, entende? Às vezes a banda nem chegou. A sua atração favorita deve estar ainda no hotel. 

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Esse tipo de comportamento foi muito característico dessa época. E, conforme, naturalmente, o Brasil foi entrando na linha de todas as turnês mundiais de vários artistas, de vários estilos, isso foi meio que se amenizando.

Houve também um movimento forte dos artistas brasileiros para que pudéssemos também ser colocados com condições melhores, com equipamento, com as condições de operar o equipamento. A explicação dos gringos para não nos deixar usar os equipamentos é que queimariamos tudo.

Mas isso mudou. Mudou no Brasil, mudou fora. Hoje em dia você tem artistas brasileiros tocando em Coachella, fazendo festivais lá fora. Tem essa troca que está acontecendo com muita gente.

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Quer deixar um recado final para o público?

Queria só me despedir falando sobre uma coisa que aconteceu nessa semana, que é muito especial pra gente. O canal do YouTube de Biquíni fez uma live com vários artistas mineiros, tô morando atualmente em Belo Horizonte. E vendo o que aconteceu no Rio Grande do Sul, nós criamos um projeto chamado Uai Tchê. E o Uai Tchê fez o quê? Uma grande live com vários artistas da cena local aqui, mas também de artistas conhecidos no Brasil todo. Trouxemos, além de mim, o Henrique Portugal, do Skank, o Ricardo Koctus, do Pato Fu, o Wilson Sideral.

Foi uma live muito legal pra poder arrecadar fundos para o Rio Grande do Sul, não só com artistas conhecidos do Brasil, mas também com artistas da cena local que são muito talentosos. 

Além da turma que citei, também participaram Tianastácia, Fernanda Garcia, Izabella Brant, Trio Amadeus, Baianeiros, Outro Gato Gypsy Jazz, Nolli Brothers, entre muitos outros. 

Como foi uma live na terça-feira, tô convidando todo mundo para aproveitar e assistir. São três horas de muita música boa, de todos os estilos. Foi um encontro único, no qual pedimos, através da live, para as pessoas doarem algum valor, fosse uma garrafa d’água, o preço de uma garrafa d’água, mas que pudesse ajudar qualquer um no Rio Grande do Sul. O pix tá ativo.

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Todos nós precisamos nos ajudar, vai dar tudo certo, vai ser difícil, acho que as coisas não vão ser resolvidas do dia pra noite, por isso as ajudas vão ter que ser constantes, mas acho que vai ser importante. 

Um país que sempre se orgulhava de não ter nenhum desastre natural, agora está vivendo tudo isso. A gente tem que saber como enfrentar, a música sempre uniu as pessoas, nos bons momentos e nos maus momentos também, vamos nos unir mais e fazer a mais pelo país.

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