Sete é mais do que apenas um número. Para o cantor e compositor Di Ferrero, o 7 representa ciclos, transições e renascimentos e, agora, é o fio condutor de seu novo EP, 7, que chegou ao streaming nesta segunda-feira (7), às sete da noite, acompanhado de um lindo trabalho audiovisual.
“O fim do dia e o começo da noite, essa hora azul, me inspira muito. É como uma mudança de fase. E esse EP é justamente isso: um novo começo pra mim”, contou o vocalista do NX Zero ao Blog n’ Roll, que optou por lançar três faixas conectadas por um conceito mais subjetivo, reflexivo e visual.
Com uma estética musical mais orgânica e crua, o EP 7 surgiu de forma espontânea, quase despretensiosa, de acordo com Di Ferrero. “Dessa vez, não fui buscar sons, eles simplesmente vieram. O EP é mais tocado, mais cru, mais transparente, como eu tô me sentindo agora”, revela.
A produção ficou por conta de Felipe Vassão, com co-produção e composição de Bruno Genz (ex-Cine), um dos grandes parceiros do artista nessa nova fase.
Projeto novo de Di Ferrero terá sequência
Acompanhando as músicas, o cantor lançou três visualizers especiais, gravados em plano-sequência, que juntam as três canções em uma só – compondo uma trilogia. Bruno Bock (Som da Desilusão) e César Ovalle (Além do Fim e Universo Paralelo) assinam a direção.
“A trilogia é uma sequência do EP, como se ele nunca parasse. Tudo começa em um sonho lúdico, o Som da Desilusão, trazendo um pouco do conceito da capa. Depois, encaminhamos para a virada, chegando nas sete horas, no horário e na cor do EP. Na sequência, em Além do Fim, retratamos um lugar onde apareço isolado, em outro mundo. Por fim, entramos no Universo Paralelo, onde temos vários Di’s com personalidade diferentes, cada um com seus próprios questionamentos”, explica Di Ferrero, revelando também a participação de nomes como Maurício Meirelles, Patrick Maia, Luccas Carlos, Day, Hodari, entre outros.
Apesar de 7 ser um EP, ele não é um trabalho isolado. “Esse é só o primeiro episódio dessa nova série minha que vai começar. Já tem mais músicas prontas, e esse ano ainda vem mais lançamento. Eu tô me identificando com esse som, tô feliz e quero mostrar isso pras pessoas”.
Confira a entrevista completa abaixo.
O número 7 carrega muitos significados simbólicos. Em que momento da sua vida você percebeu que ele seria o fio condutor desse EP?
Realmente é um novo momento pra mim. O 7 traz isso, aquela coisa que você vem pra esse mundo, até os seus sete anos, você não entende direito o que está pegando. Dos sete aos 14, você já vai tendo suas experiências que marcam sua vida na adolescência.
Até os 21, seu corpo para de crescer. Depois, até os 28, tem toda aquela mudança. Mas o principal que me deu o lance de colocar o nome de 7 foi a hora do dia. Porque o fim do dia e o começo da noite, essa hora (7) me traz uma reflexão muito louca. Amo esse momento do dia, me dá inspiração. É um momento que você para, é uma mudança.
O claro para o escuro. Aquele momento dessa mudança, o azul, que não é nem o amarelo do sol, nem o escuro da noite, é aquele azul. Aquela fase, aquela hora azul.
Aquilo ali foi a ideia que vai ser o fio condutor do EP. E o sete é mais ou menos umas sete horas, junto com toda a simbologia desse número. E é um começo de ciclo para mim. É só o primeiro episódio dessa série nova minha que vai começar.
Você falou de uma nova série. Até queria então emendar uma pergunta a respeito. Ele é um EP que vai ser seguido de outros EPs? Ou é algo que vai preparar para um álbum cheio?
Ele tem sim uma continuação, posso dizer assim. Ele é o começo de um momento da minha vida. Estou há um tempo sem lançar músicas inéditas. Um ano, solo, lancei algumas coisas, mas mais pontuais. A gravação que fiz do Paralamas, que foi muito bem, por exemplo.
E aí, agora sim, com essa nova fase, já tenho bastante músicas. Estou amarrando isso tudo muito com cuidado para passar da melhor forma possível para as pessoas. Venho me identificando muito com esses sons do EP.
Mas posso dizer que esse ano ainda vai ter mais lançamento, mais coisas que têm a ver com essa nova fase. Esse é só o início dessa nova fase mesmo.
A sonoridade de 7 é descrita como mais orgânica e musical. O que mudou no seu processo de criação em relação aos seus trabalhos anteriores?
Foi muito louco porque fico buscando sons, mas nesse caso foi sem buscar mesmo, foi despretensioso. Tanto é que ele está bem orgânico mesmo. São canções que depois coloco sintetizadores e várias coisas legais junto com o Vassão, o produtor do EP. Ele é um cara que admiro, um produtor incrível.
Como ele também é muito sensível, vai tirando várias coisas de mim. Esse trabalho é mais tocado, mais orgânico, mais cru. E é como estou agora, mais transparente. É um pouco uns passos pra trás, no bom sentido, de tocar junto e tal.
Quem te acompanhou nesse processo? Tem alguém que foi a voz da consciência ou o braço direito?
Tenho sorte de ter muitos amigos, pessoas que confio. É louco que na vida a gente vai peneirando nossas amizades, ideias, as pessoas que vão se aproximando. O cara que compôs comigo o EP foi o Bruno Gens, que toca baixo comigo, ele era do Cine. Ele é um produtor sensível, o cara produz muito também. Ele é co-produtor junto com o Vassão.
Por serem pessoas próximas, conversamos muito sobre a vida. E falar sobre vida pra mim é a mesma coisa que falar sobre música, é a verdade que vivo. E aí a gente foi achando esse caminho.
Por exemplo, a música O Som da Desilusão não fala necessariamente de desilusão. Desilusão é uma verdade, a gente vive uma desilusão na vida, qualquer um já viveu ou está vivendo. E eu também. Só que qual é o som da desilusão? Qual é a sensação, além da letra? A gente consegue desenvolver isso.
Aí depois vem Além do Fim, que é essa coisa do “não acaba”. Nada tem fim, ela é um pouco mais romântica. Mas é aquela coisa que a gente se completa, mesmo nos defeitos. Você gosta da pessoa, não só porque ela é bonzinha, ela é legal, mas porque ela tem esse lado… Todo mundo tem mil lados. Você gosta do inteiro, não só da metade. Além do fim, você continua, certo? Mesmo com defeitos ou não. O perfeito não existe.
Acompanhado de amigos, gosto muito de falar… É importante dar uma pausa na vida que a gente leva. Ela é dura, complicada. Mas acho que na música a gente consegue ver um pouco de beleza nas coisas, e pode falar sobre isso no som.
Aliás, falando em O Som da Desilusão, você aborda algo que todos já vivemos. Como foi transformar esse sentimento em música sem cair no lugar comum? Qual foi essa desilusão?
Tive um gatilho de amizade, algumas amizades, repensar a minha vida. Aquela coisa de você se doar, talvez não receber isso de volta. E aí você se desilude. Tive isso e foi um gatilho para começar essa sensação, mas não queria que fosse uma coisa triste. Tanto que o som começa a crescer e vem um groovão.
Consegui colocar ali para fora mesmo. De amizade, de coisas que esperava. Também tem muito de expectativa, Você cria uma expectativa sobre alguém, mas não é nada daquilo que você imaginou. Essa parada quis botar pra fora, mas não do jeito leviano. Tentei meio que vomitar o que estava sentindo.
Você falou que o EP tem um conceito mais subjetivo, e cada pessoa pode sentir algo diferente ao ouvir. Qual seria a melhor maneira de escutar 7? Às 7 da manhã ou 7 da noite?
A melhor forma é no dia 7, às sete da noite, na hora que sair. Mas ao invés de ouvir, gostaria que o público acompanhasse no YouTube porque a história que está sendo contada nos três vai ser como se fosse um visual, não tô chamando de clipe, é um curta com as três músicas juntas, como se fosse sem corte mesmo.
Quais são os planos para o período pós lançamento? Pretende excursionar com o EP? Ou a ideia é lançar outros EPs antes de viajar?
Já pretendo já tocar as músicas que tenho no encerramento da minha tour Outra Dose, dia 17 de maio, na Audio, em São Paulo. Estou tocando em várias capitais, vou para a Europa também fazer uma tour, minha primeira Eurotour, mas já vou começar a tocar as músicas do EP. Depois de maio já vem um show novo também com mais a ideia desse novo momento.
Sabemos que o papo hoje é sobre seu novo projeto solo, mas é impossível ignorarmos o NX Zero. Está nos planos futuros mais um retorno?
É muito cedo para dizer, mas o NX Zero não tem porque não fazer uma tour em algum momento mais para frente. Não tem nada combinado, mas é isso, ainda mais depois de uma tour tão legal.
Mas agora realmente está todo mundo se concentrando nos projetos pessoais de cada um, que também é muito importante, muito saudável inclusive para a banda estar viva.
Esse momento atual vai alimentar todo mundo para depois fazer sentido, tem que fazer sentido as coisas, acho que a gente fazer por fazer não vale a pena para ninguém, nem para os fãs.
Agora, um jogo rápido, vou citar algumas bandas do line up da segunda edição do I Wanna Be Tour e você as define em uma palavra.
Glória – Épico. Amo o Mi! O Mi é meu irmão, me apresentou, me pegou e falou: ‘vem cá que vou te apresentar a galera da cena’.
Fresno – Emopai
Dead Fish – Visceral
For Fun – Curtição
Fake Number – O Fake Number vai tocar? Que legal! É reunião deles com a formação original? Fico feliz de saber. Acho que a palavra pode ser Reunion.
Quais os três álbuns que mais te influenciaram na carreira? Por que?
O primeiro e o segundo já sei, mas preciso pensar no terceiro. Vou colocar Nove Luas, do Paralamas do Sucesso. Ouvia muito quando era mais novo, foi uma das primeiras coisas que ouvi quando saí da igreja.
Em segundo, vou colocar um álbum que, pra mim, é perfeito: Channel Orange, do Frank Ocean. Apesar de ser mais novo, ele traz um conceito do começo ao fim.
O primeiro é Nevermind, do Nirvana. Quando ouvi, falei: ‘o que que tá acontecendo com a minha vida?Meu Deus!O que que é isso?’ Não sabia mais o que fazer, tudo mudou, fiquei desesperado.