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Entrevista | Eve 6 – “Estamos nos concentrando no que temos e faz sentido”

Em 1998, quando bandas californianas como Offspring, Green Day, Rancid e blink-182 estouravam nas rádios e emplacavam singles em paradas de sucessos e na programação da MTV, outros nomes também apresentaram suas credenciais. Do sul da Califórnia, o Eve 6 foi um deles. Foi com o single Inside Out, do álbum homônimo de estreia, que chamou mais a atenção.

Dois anos depois, com o segundo álbum, Horrorscope, mais um single de sucesso: Here’s to the Night.

Tal início promissor levou a banda a participar dos principais programas da TV americana, como The Tonight Show with Jay Leno, The Late Show with David Letterman, Jimmy Kimmel Live!, além do Late Night with Conan O’Brien.

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As coisas mudaram de rumo com o terceiro disco, It’s All in Your Head (2003), que não teve o mesmo retorno comercial. Logo depois, o grupo foi liberado do contrato com a RCA.

A partir disso, o Eve 6 enfrentou o seu primeiro hiato, entre 2004 e 2007. Entre turnês de reunião e alguns singles, a banda seguiu ativa, mas lançou o quarto álbum, Speak in Code, apenas em 2012. O disco rendeu shows atraentes com The All-American Rejects e Everclear.

Hyper Relevisation, quinto álbum de estúdio, foi lançado em setembro de 2022. Mas foi o último suspiro do grupo nas plataformas de streaming tradicionais. Nos últimos 12 meses, a banda tem se dedicado a divulgar seus singles no Patreon, onde garante ter um ganho muito maior com muito menos streams.

O vocalista, compositor e baixista do Eve 6, Max Collins, conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o atual momento da carreira, lembranças do primeiro álbum, indústria fonográfica, além de Operation Ivy e outras influências. Confira abaixo.

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O Eve 6 lançou um álbum cheio no ano passado, Hyper Relevisation. E este ano vem divulgando uma nova fase em outra plataforma. Como tem sido o retorno do público?

Tem sido muito boa. Cerca de dois anos atrás começamos uma nova fase da banda, marcada por um ressurgimento acidental online através da nossa conta no Twitter.

Eu diria que estamos meio que atuando como uma banda punk em um vácuo, fazendo músicas divertidas e bobas para nós mesmos e para o pequeno, mas ainda poderoso, grupo de pessoas que está prestando atenção. Tem sido muito legal.

Recentemente, lançamos um Patreon onde estou fazendo um projeto de ensaios, escrevendo sobre diversos temas, mas com o objetivo de ser o mais honesto e verdadeiro possível ao contar a história da nossa banda. Tem muito humor nele e também um pouco de tristeza que combina bem com o humor.

Também compartilho algumas reflexões que tive ao longo do caminho, muitas histórias do passado e também algumas divagações atuais. Além disso, começamos a lançar músicas exclusivamente no Patreon.

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Vemos nossa banda como uma pequena empresa, e temos a sorte de ainda ter alguns fãs que se importam conosco, então estamos fazendo música para essas pessoas e, ao mesmo tempo, fazendo uma declaração, mesmo que pequena, contra as práticas exploradoras das plataformas de streaming.

É incrível porque percebemos na semana passada que estamos ganhando muito mais dinheiro por mês com nossos 450 assinantes no Patreon do que com 1,5 milhão de streams no Spotify. É assim que queremos fazer, e isso nos inspira, porque estamos escrevendo com um propósito.

Agora podemos terminar algo e lançá-lo imediatamente, não há tempo de espera ou algo assim. Acredito que quando tivermos um corpo completo de trabalho, faremos vinis e tudo o mais. Mas, sim, não estamos colocando nada que controlamos no Spotify.

Vocês consideram injusta a forma de pagamento de plataformas como Spotify? O que pode melhorar?

Sim, são absurdamente injustas. Descobrimos na semana passada que, como banda, ganhamos cerca de US$ 612 por mês com 1,5 milhão de streams mensais. Talvez um pouco menos, porque há pontos de produção que são retirados e o dinheiro é dividido.

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Existem bandas que ganham um pouco mais se possuem os direitos autorais. Nós não temos. A Sony possui a maior parte do nosso catálogo, então não é bom.

Quais são os planos futuros da banda? Pretendem fazer turnês para divulgar essas canções novas?

Basicamente estamos tentando lançar uma música por mês no nosso Patreon, assim que chegarmos entre 10 e 12 músicas, vamos fazer uma prensagem em vinil e disponibilizar isso também no Patreon. Talvez coloque algumas dessas que tenho escrito em uma coletânea, faça uma arte para isso e lance também.

Mas, sim, as coisas que estão nos mantendo ocupados no momento são fazer música e lançar um ensaio por semana no Patreon. Além disso, escrevo uma coluna para a newsletter de um amigo meu chamada Welcome to Hell World. É uma espécie de coluna de conselhos, é bem divertido.

Como surgiu a ideia de ter essa coluna?

Estava escrevendo para o BuzzFeed News até alguns meses atrás, quando o BuzzFeed News demitiu algumas pessoas. Mas o Welcome to Hell World é uma newsletter de um amigo meu, Luke O’Neill. Ele é um dos meus escritores favoritos há muito tempo, e nós nos tornamos amigos por acaso quando estava em turnê, uns cinco anos atrás.

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Gosto de nadar para me exercitar quando estou em casa, e quando estou em turnê, procuro piscinas perto dos locais dos shows para nadar. Então encontrei um clube e estava nadando lá. E uns 15 minutos depois de começar o treino, um cara grande entrou na minha raia e pensei: “Ah, ótimo, vou ter que dividir a raia”. E então percebi que ele parecia familiar e pensei: “Acho que é o Luke O’Neill”. Então, finalmente, quando paramos do mesmo lado da piscina, perguntei a ele: “Você é o Luke?” E ele disse que sim. Desde então, somos meio que amigos e, quando o BuzzFeed fechou, ele entrou em contato e perguntou se gostaria de escrever a coluna para ele, e disse com certeza.

Tem sido legal escrever para uma newsletter que realmente amo e respeito, e tê-lo como editor é incrível. Ele também está editando os ensaios que estou escrevendo para a página do Patreon do Eve 6.

Você é uma grande referência de conhecimento e humor no Twitter. Como surgiu isso?

Acho que foi há uns três anos, durante a quarentena. Acho que surgiu do tédio, não sei. Um dia simplesmente comecei a postar algumas coisas e, sabe, algumas delas viralizaram. Acho que comecei a falar livremente lá e talvez isso seja algo imprevisível ou inesperado vindo de uma banda como nós.

Sim, também acho que as pessoas tendem a pensar que somos bem mais velhos do que realmente somos, porque a maioria das bandas que surgiram na mesma época que nós são tipo 10 ou 15 anos mais velhas. Éramos adolescentes quando nosso primeiro álbum foi lançado. Então, acho que as pessoas ficaram meio surpresas com algumas das minhas opiniões e, ousaria dizer, senso de humor, e isso se tornou meio que uma coisa.

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Eu, definitivamente, para melhor ou pior, sou meio viciado no aplicativo, provavelmente para pior. Mas também me divirto bastante lá.

Consegue apontar três bandas que você ama dos anos 1990 e escuta até hoje?

Muitas bandas que amo dos anos 90. Foi uma década ótima. Fountains of Wayne é uma das minhas bandas favoritas até hoje. The Lemonheads também. Por fim, The Dandy Warhols.

Acho que são as três primeiras que me vêm à mente. Mas não quero reduzir essas bandas aos anos 90, porque todas elas ainda lançam coisas interessantes, com exceção do Fountains of Wayne. Mas o vocalista Chris tem um projeto solo chamado Look Park que é muito bom.

E as insuportáveis, que você não tem coragem de ouvir até hoje?

Certamente já fiz muitos tweets polêmicos onde falo mal de bandas ou algo assim, mas acho que, na maior parte, isso é uma espécie de performance. É interessante o que o tempo faz com a música, até mesmo coisas que talvez tenha tido uma resposta ruim quando foram lançadas. Agora ouço e encontro coisas que aprecio nelas.

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Isso é exemplificado por algumas coisas do new metal que ouço agora, que soam tanto cativantes quanto pesadas, mesmo que meio bobas. Incluindo coisas às quais não necessariamente respondi quando foram lançadas.

O Gin Blossoms é uma dessas bandas que tenho um carinho profundo agora, algo que não necessariamente tinha quando foram lançados, pensava que era apenas um rock de rádio mediano, mas agora realmente aprecio essas músicas. Então, acho que essa seria a minha resposta.

Quais são as ambições do Eve 6 hoje?

Acho que nossa abordagem agora é simplesmente ocupar nosso pequeno espaço, sermos muito gratos por ele e fazer o nosso melhor para atendê-lo, se é que faz sentido.

Ao invés de ter sonhos de estrelato do rock ou um renascimento, estamos nos concentrando no que temos e que faz sentido.

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Qual foi o mérito do Eve 6 para conseguir um relativo sucesso comercial com o primeiro álbum?

Bem, não sei se o Eve 6 tem algum grande mérito mesmo. Éramos muito jovens quando fizemos os primeiros álbuns, além de ser uma banda que as pessoas acharam divertida e tiveram uma experiência de diversão e alegria com a música.

Não éramos, nem somos, uma banda importante no sentido de ser uma banda influente na mudança do zeitgeist dos anos 90, mas tudo bem também.

Acho que há algo a ser dito sobre todo o rock’n’roll que é sentido no momento de sua criação, independentemente de onde ele se encaixe ou não no cânone.

Quando nosso single foi lançado, era definitivamente estranho ouvir guitarras altas e distorcidas no rádio, porque na época o cenário do rádio alternativo era muito dominado pelo Lilith Fair e por alguma onda de techno que estava acontecendo.

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O que quer que queiram nos chamar, geralmente recebemos rótulos como post-grunge e/ou pop punk, tal como muitas bandas eram no final dos anos 90.

Mas quando nossa música chegou nas rádios, era o começo desse movimento. Third Eye Blind, bandas de pop rock com guitarra distorcida eram parte da mudança que estava acontecendo na época. As músicas estavam mais calmas e eletrônicas, mas nosso tipo de música roubou um pouco os holofotes naquele momento.

O álbum Horrorscope rendeu bons singles, mas o terceiro disco não conseguiu um bom alcance. O que vocês acham desse álbum? Teve algo diferente na comparação com os dois primeiros?

Sim, com certeza. Acho que há algumas músicas boas nele. Tivemos um produtor diferente para aquele álbum. Don Gilmore produziu os dois primeiros e um cara chamado Greg Wattenberg produziu o terceiro.

Acho que algumas coisas diferentes aconteceram, houve uma mudança completa na propriedade e na administração da nossa gravadora para aquele álbum. Então muitas das pessoas com quem tínhamos relacionamentos e que nos ajudaram a lançar nossa banda simplesmente saíram.

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Gastamos dinheiro demais gravando e mixando. Também acho que estávamos um tanto desgastados naquele momento, e alguns de nós já estavam afundados no alcoolismo. Houve muitas coisas que conspiraram, acho eu, para diminuir o sucesso do álbum.

Ainda acho que há algumas músicas muito boas nele e gosto da produção, é mais crua.

O que mudou para vocês de 1998, quando lançaram o primeiro álbum, para hoje?

Muita coisa. Quero dizer, hoje tenho 44 anos. Lançamos nosso primeiro álbum quando tinha 19 anos. Mal reconheço aquela versão de mim mesmo de tanto tempo.

Fiquei sóbrio, me casei, me divorciei, tive filhos. Acho que são todas as coisas previsíveis pelas quais as pessoas passam enquanto crescem e avançam na vida adulta, então é uma lista longa.

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Como soa tocar aqueles hits nos shows hoje em dia?

Depende do show. Às vezes, você tem shows em que, por qualquer motivo, você precisa apenas passar por eles. Mas, na maior parte do tempo, quando você toca músicas, mesmo aquelas que já tocou milhares de vezes antes, você está tocando em um momento completamente novo.

Há uma espontaneidade nelas e, quando você recebe o feedback da reação do público e vê a maneira como eles estão reagindo naquele momento, isso dá uma nova vida à música. Está acontecendo agora.

Ainda gostamos muito de fazer shows e tocar alto. Nos divertimos fazendo isso, senão não estaríamos fazendo.

Rolou alguma oportunidade de tocar no Brasil? Tem vontade de vir para cá?

Adoraria muito poder tocar lá. E, você sabe, ao longo dos anos, recebemos mensagens pedindo para irmos, ainda tenho esperança de que um dia isso aconteça.

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Todos os meus amigos que tocaram lá em diferentes bandas só falam sobre como é incrível, o quão bonito, quão incríveis são as pessoas. Definitivamente está na nossa lista de desejos.

O Eve 6 participou de um tributo ao Operation Ivy. O que representa essa banda para você?

Operation Ivy foi definitivamente uma banda muito importante para mim. Ainda me lembro de pegar aquele disco em uma loja de discos chamada Vinyl Fetish, em Melrose. Comprei o vinil quando estava no ensino médio.

Lembro de entrar no meu quarto, colocar o disco assim que cheguei em casa e deitar no chão, como se nunca tivesse ouvido nada igual antes. Foi minha introdução ao ska. As músicas eram tão boas, as letras eram tão literárias, mas também tão cruas e apaixonadas. É um disco tão inspirado.

Aliás, foi muito divertido poder fazer aquela música com nossos amigos do We Are The Union.

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Você consegue listar três álbuns que foram fundamentais para a tua formação como músico?

A maioria das bandas que amo e que lançaram discos nos anos 90, não as vejo apenas como bandas dos anos 90, pois transcendem isso. Mas provavelmente a primeira que mencionaria seria Jawbreaker, especialmente o álbum Dear You, pois era obcecado pelo Blake Schwarzenbach como letrista. Eu estudava aquelas letras, adorava aquela referência.

Tom Petty tem sido uma constante para mim desde criança, então ele está definitivamente na lista. Adoro os discos dos Heartbreakers, mas provavelmente gosto ainda mais dos discos solo dele. Wildflowers e Full Moon Fever são provavelmente os meus dois discos favoritos do Petty, o que deixa muitas pessoas loucas, mas o que posso dizer? Eu amo esses discos.

Então, diria que se tivesse que escolher discos pelos quais não conseguiria viver sem, eis eles: Full Moon Fever (Tom Petty), Welcome Interstate Managers (Fountains of Wayne) e Come Down (Dandy Warhols).

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