Entrevista exclusiva | Manapart – Conheça a banda russo-armênia comparada ao System of a Down

Entrevista exclusiva | Manapart – Conheça a banda russo-armênia comparada ao System of a Down

Misturando elementos étnicos do Oriente com o peso do nu metal e metal moderno, a banda Manapart vem se tornando um dos nomes mais falados da nova cena do Leste Europeu. Surgida em 2020, em meio a pandemia, o grupo traz em suas letras temas introspectivos, espirituais e simbólicos, muitas vezes inspirados nas complexidades políticas e culturais da Armênia, país de origem de parte dos integrantes.

Com melodias densas e atmosferas melancólicas, o Manapart busca mais do que entretenimento: uma experiência emocional e quase ritualística.

Nesta entrevista exclusiva ao Brasil, a banda fala sobre suas raízes, semelhanças e diferenças para o System of a Down, a espiritualidade presente nas letras, o cenário atual da Armênia e o carinho pelo público brasileiro, que hoje é representado pelas cinco cidades com maior base de ouvintes da banda no Spotify.

Em uma conversa descontraída com o Blog N’ Roll, Arman Babaian e Zakhariy Zurabian mostram que são uma banda consciente de seu papel artístico e político, mas que mantém viva a paixão genuína pela criação musical.

Como o Manapart nasceu e o que inspirou o nome da banda?

Originalmente fomos uma banda cover de System of a Down com Arman e Artyom, nossos vocalistas. O nome da banda era WishUp, e se alguém procurar no YouTube por WishUp Toxicity, vai encontrar nossos primeiros covers do SOAD. Depois de alguns anos e alguns shows, decidimos que poderíamos produzir nossa própria música. Nosso ex-baixista, Pete, deixou a banda porque tinha ideias diferentes, e começamos a escrever nosso próprio material.

Então nós escolhemos o nome Manapart. Para ser honesto, não tem um significado específico. Quando pensei no nome, era Man Apart, mas já existia uma banda com esse nome, então decidi tirar o espaço. Assim nasceu Manapart, um nome sem nome.

Não deixa de ser original…

Sempre acreditei que o nome de uma banda deve ser fácil de ler e pronunciar em qualquer idioma. Manapart é simples, fácil de lembrar e funciona em inglês, armênio, russo ou português. Isso faz diferença. Eu nunca gostei de bandas que usam números no nome, acho estranho, mas claro, Blink-182 e Sum 41 têm suas histórias.

Vocês surgiram em 2020, quando o nu metal ainda estava adormecido. Esse revival do estilo abriu portas para vocês?

Sim, mas nós não começamos por moda. Gostamos genuinamente do gênero. Temos entre 30 e 35 anos, então crescemos ouvindo nu metal. Pensamos em fazer algo mais moderno, mas decidimos seguir o que realmente amamos. Acreditamos que tentar compor algo que você não sente é um erro. Então seguimos pelo caminho natural: fazer o som que gostamos.

Muito se fala em comparações entre vocês e o System of a Down. Mas o que eu mais quero saber de vocès é o que diferencia o Manapart do SOAD e como vocês definem o próprio som?

Nós temos mais elementos étnicos na música, com instrumentos orientais e uma identidade armênia mais acentuada. O System também tem isso, mas decidimos ampliar esse aspecto. Não foi planejado para soar igual ou diferente, foi natural.

Claro que há inúmeras semelhanças, pois somos parcialmente armênios e compartilhamos influências culturais. O vocal também pode lembrar o Serj Tankian, o que ajuda a chamar atenção, mas nossa música é mais sombria e melancólica. Enquanto o System é mais agressivo e político, nós exploramos temas pessoais, espirituais e introspectivos.

As letras de vocês exploram temas psicológicos e espirituais. Isso é intencional, pessoal…

Exatamente. Tentamos escrever letras mais abertas, para que cada pessoa possa interpretar de forma pessoal. Quando você define demais um tema, tira a conexão emocional do ouvinte. Então, prefiro deixar espaço para que cada um insira sua própria experiência na canção.

Aprendemos muito sobre a Armênia com o System of a Down. Na visão de vocês, como está o país hoje?

Acho que as palavras que descrevem a Armênia são “complicada” e “trágica”. É um lugar lindo, com uma história profunda, mas que vive um momento difícil politicamente. Eu me sinto triste quando vou lá, por tudo o que acontece, mas é um país seguro para se visitar.

A Armênia tem uma posição geopolítica muito delicada, cercada por Turquia, Azerbaijão, Irã e uma pequena fronteira com a Geórgia. É imprevisível o que pode acontecer no futuro, mas acreditamos que, enquanto a cultura for preservada, a Armênia continuará viva.

E como é a cena musical na Armênia?

Há artistas incríveis. Um dos meus favoritos é Tigran Hamasyan, um pianista de jazz que mistura música armênia com estruturas complexas e modernas. Ele representa o orgulho musical do país.

Vocês já foram elogiados por Serj Tankian. Qual a relação de vocês com os integrantes do System of a Down?

Quando começamos, enviávamos demos e materiais para eles. Temos amigos em comum nos Estados Unidos. O John segue o Instagram do Zakko, por exemplo. Sabemos que o Serj conhece a banda, e o Shavo também. O único com quem temos menos contato é o Daron, mas mantemos uma boa comunicação com pessoas próximas a ele.

O single com o Tardigrade Inferno teve ótima recepção. Esperavam esse impacto? Há planos de novas colaborações?

Sim, nós somos amigos do Tardigrade Inferno, da mesma cidade, então foi natural. Queríamos algo divertido e sabíamos que a Dasha, vocalista, traria uma energia única. Gostamos do resultado. Também colaboramos recentemente com a banda Shira, que tem saxofone e vocais femininos incríveis, queríamos criar algo inesperado e funcionou.

“Delirium” foi lançado como um single. Vocês pensam em álbuns conceituais ou preferem lançar faixas isoladas?

Depende do momento de inspiração. Quando temos muitas ideias, gravamos tudo. Às vezes, algumas músicas se conectam e formam um EP. Outras funcionam melhor sozinhas. Não forçamos a criação de álbuns, preferimos deixar fluir naturalmente.

O Brasil tem as cinco cidades que mais ouvem o Manapart no Spotify. Como veem essa conexão com o público brasileiro?

É incrível. Temos ouvintes em São Paulo e Campinas, e isso nos deixa muito felizes. Além do Brasil, nossos maiores públicos estão na Rússia, Alemanha, Estados Unidos e Armênia.

E vocês têm planos de vir ao Brasil?

Sim! Estamos sonhando com isso. Acreditamos que o público brasileiro vai se conectar com nossa música não por parecer com System of a Down, mas pela energia étnica, tribal e espiritual. Queremos tocar não só em São Paulo ou Rio, mas em várias cidades. Sabemos que os fãs brasileiros são apaixonados e intensos.

E um novo álbum completo está sendo planejado?

Toda banda tem esse plano. Não temos data exata, mas podemos garantir que continuaremos lançando músicas novas regularmente. É importante manter a conexão com os ouvintes. Acredito que até o final do próximo ano ou início de 2027 teremos um álbum.

O mundo está novamente em guerra. Como vocês enxergam a responsabilidade do rock nesse momento?

A responsabilidade é de toda forma de arte. O artista deve traduzir o que sente sobre o mundo. Nós tentamos expressar o que acontece ao nosso redor e dentro de nós.

A arte deve defender valores humanos básicos e o principal é que as pessoas não deveriam morrer. Esse deve ser o valor número um que os músicos precisam transmitir.

Conheça mais o Manapart e confira uma performance da banda ao vivo: