Após 15 anos sem lançar um álbum de inéditas, a banda paulistana Forgotten Boys está de volta. Com a mesma essência do início da carreira, o grupo revelou Click Clack, com dez faixas inéditas, no último dia 25.
Antecipado pelos singles Sway e Absurd Butterfly, Click Clack foi gravado nos estúdios Artsy Club e Jalapeño Verde de modo direto e com foco na performance, a maioria das músicas é fruto de dois ou três takes ao vivo. O resultado é um álbum espontâneo e autêntico, que mantém em evidência a intensidade da banda.
Desde 1997, os Forgotten Boys já lançaram mais de dez discos e excursionaram pelo Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, além de se apresentarem nos mais importantes festivais alternativos do Brasil e trabalharem em estúdio com produtores como Daniel Ganjaman (Racionais MC’s), Apollo Nove (Planet Hemp) e Roy Cicala (John Lennon, Bruce Springsteen). A banda já compartilhou o palco com nomes como Guns ‘N’ Roses, MC5, New York Dolls, Marky Ramone, entre muitos outros.
Em entrevista para o Blog n’ Roll, o vocalista e guitarrista, Gustavo Riviera, e o baterista, Chuck Hipolitho, detalharam a produção do novo álbum, além de confirmar shows de divulgação. Os artista também falaram sobre o mercado musical atual. Confira a entrevista na íntegra abaixo.
Como funcionou o processo de produção desse novo disco?
Chuck: Primeiro, a gente decidiu que queria entrar em estúdio. A gente tinha uma ideia do que ia acontecer quando a gente entrasse no estúdio. Quando a gente entrou no estúdio, as coisas começaram a acontecer de um jeito um pouco diferente, mas fomos seguindo. Quando a gente viu, a gente tinha dez músicas novas.
As músicas vinham de ideias que a gente trazia, mas dentro do estúdio elas aconteciam em conjunto com todo mundo dando ideias e acrescentando e criticando. Então foi um disco que foi feito por quatro cabeças. A gente ensaiou muito, até ter o repertório redondo para a gente, e as coisas foram sendo feitas uma depois da outra, até a gente ter o repertório pronto para poder entrar no estúdio e gravar.
Quando entramos no estúdio, queríamos gravar o disco ao vivo para ser mais rápido e para poder tirar o máximo de como a banda soa, e ainda no estúdio de gravação, que é um outro estúdio, que não foi o estúdio do ensaio, a gente fez mais uma música nova, apareceu mais uma música, e depois a gente levou essas músicas para gravar a voz num outro estúdio, numa coisa um pouco mais intimista.
E tinha músicas que tinham letras, tinham letras que foram aparecendo só na hora de gravar os vocais, e depois disso partimos para a mixagem. Mas tudo isso foi acontecendo na hora que tinha que acontecer, e sempre tentando manter a atenção no foco, e o foco no que cada etapa tinha de essencial para poder ser mostrado. Então é um disco que a gente literalmente fez tudo super junto.
É o primeiro álbum de inéditas desde 2011, o que mudou de lá para cá em vocês e no público?
Gustavo: Putz, isso aí leva muito tempo. A gente tem que fazer uma sessão de terapia para saber tudo o que mudou em mim desde lá. Mas basicamente acho que mudou muita coisa e acredito que a banda se encontrou no momento de querer fazer um disco novo. Então passamos por esse período tocando, fazendo show, compusemos um disco de cover que saiu na Argentina só, mas é difícil definir o que aconteceu de lá para cá, acho que a gente tem novas experiências para mostrar.
Chuck: Acho que é isso que ele falou, mudou, cada um mudou muito, mas nós como banda, essencialmente, eu acho que a essência da banda não mudou. Acho que para as pessoas que já nos conhecem, elas vão ver um disco de músicas novas e tudo, mas vão ter contato com essa mesma essência, que remete elas não ao que elas esperam da gente, mas ao que elas gostam da gente. Então acho que isso é uma coisa muito legal.
Não sei o que o público mudou, não fazemos a menor ideia, vamos fazer alguns shows agora a partir do começo de outubro e não fazemos ideia de quem são essas pessoas que vão aparecer. A gente não sabe, esperamos que apareçam pessoas novas, ao mesmo tempo que esperamos estar com as pessoas que já nos conhecem. Então não sabemos como é que vai ser, mas tentamos também não ficar pensando nisso, seja lá o que a gente pensar, não é do jeito que vai ser.
Gustavo: E pensando nisso, acho que é aquilo que o Chuck falou, a essência da banda está aí, quem conhece a banda reconhece a banda, quando escuta, mesmo essas músicas novas, que não caberiam em outro momento, que não fosse agora, e ao mesmo tempo é o Forgotten Boys lá, fazendo coisas diferentes.
Existe um plano de fazer uma turnê de lançamento do álbum? Santos pode entrar nessa rota?
Chuck: Nós queremos tocar em todos os lugares que for viável tocar, estamos dispostos a tocar, depende dos lugares e das pessoas nos chamarem para tocar. Acho que nós temos esses quatro shows, que vai ser uma experiência legal de fazer, estamos pensando em fazer e já está para confirmar show de lançamento aqui em São Paulo, e acho que quando começarmos a ir para a estrada e tocar, imagino que isso vai começar a gerar um interesse e uma procura pela gente, e é óbvio, a gente quer tocar em Santos, super, a gente quer.
A gente sempre fez coisas legais em Santos, e esperamos poder tocar no Brasil inteiro, não só no Brasil, esperamos conseguir ir para a Argentina, Uruguai, Chile, quem sabe, lugares para onde já fomos.
O consumo de música mudou bastante desde o último álbum do Forgotten Boys. Como vocês observam essas mudanças com o advento do streaming?
Gustavo: Ah, claro. Essa coisa digital é mais fácil de acessar. É muito diferente da época que a gente começou, antes a gente começou com fita cassete, demo, era uma distribuição mão a mão, você gravava pro seu amigo, não era tão amplo, não atingia tanta gente.
Agora é, ao mesmo tempo, o valor que você dava era diferente pra cada música que você conquistava, que você conseguia acessar. Então tinha essa diferença. Antes você tinha uma dificuldade um pouco maior, isso acho que te dava um valor maior quando você conseguia escutar uma música que queria. E acho que essa é a diferença principal.
Chuck: Mas é uma coisa doida, que a gente pegou a virada do digital, da internet vindo com força, dos downloads, das gravadoras que não sabiam o que fazer, agora o CD morreu, agora só o MP3, esse tipo de coisa. E nessa época lançamos CDs e queria ter, por exemplo, disco de vinil, esse tipo de coisa. Naquela época não foi possível.
Hoje temos três discos, os que a gente tinha, já foram lançados em vinil, a gente tem o Click Clack agora que saiu em vinil também. Hoje em dia, apesar do hábito de escutar música, porque acho que as pessoas nunca escutaram tanta música, talvez elas estejam escutando só dez segundos da música, mas nunca se escutou tanta música, sabe? Nunca teve tanta música disponível para as pessoas, nunca foi tão fácil escutar música e encontrar o que você quer. Isso tem um lado bom e tem um lado ruim.
Agora, mesmo dentro desse ambiente, o que faz alguém querer relançar nosso disco, dessa vez em formato de vinil? Porque tem uma demanda de gente querendo. Não é um mar de gente, mas tem pessoas querendo também esse tipo de coisa. Então, eu acho que dá para explorar todos os formatos.
A gente queria lançar o nosso LP agora e o pessoal falou, vamos lançar um CD também? A gente falou, lançar CD? Tá ligado? Pra que CD? ‘Não, tem gente que gosta, tem gente que quer’. Nossa, então é claro, sabe? Vamos fazer. Então mudou. E a gente não entende perfeitamente. A gente não consegue ter essa visão analítica e crítica e de entender.
Gustavo: Quem fala que entende está enganado.
Chuck: O formato tem que ter uma coisa que é diferente. O mercado digital é muito feito de uma coisa que é até um pouco descartável às vezes, o jeito de como as pessoas consomem música. Estou falando assim, de uma maneira massificada e generalizada. Mas o Forgotten é uma banda que as pessoas gostam de ouvir um disco inteiro, para escolher qual vai ser a música favorita.
Enfim, as pessoas gostam de ouvir uma coisa inteira. Então, é por isso que faz mais sentido. No nosso caso, a gente ter CD, ter LP, de lançar, apesar de a gente estar lançando singles, a gente quer lançar um disco, sabe? Com dez músicas.
Então, de algum jeito, a gente usa o que tem de melhor do atual para a gente, mas a gente tem um lado nosso que ainda é o clássico.
Quais os três álbuns que mais influenciaram vocês como músicos e por quê?
Gustavo: Acho que o primeiro do Ramones foi o começo, assim, de aprender a tocar. Tipo, foi com o primeiro disco do Ramones. Rocket to Russia, do Ramones, também. E acho que Johnny Thunders, MC5, Stooges. O Fun House, do Stooges, talvez. Por trazer também uma coisa meio selvagem para mim.
Chuck: Não sei te dar essa resposta. Teve um disco que é marcante na minha vida que é a trilha sonora do La Bamba, que é quando eu era bem criança e foi o primeiro disco de rock que tive, então ele tem uma importância para mim.
Mas lembro que quando estava aprendendo a tocar música e bateria, o que foi importante para mim mesmo foram os Ramones, em geral, porque tem uma simplicidade ali no que é feito.
E o Nirvana, que é a banda que apareceu ali na minha adolescência e que depois virou uma banda muito grande, influente. Então, acho que é isso. Não posso te falar quais são os discos mais importantes da minha vida.
São só discos que naquela época foram muito importantes. Se eu for pensar no disco que levaria para a ilha deserta, acho que não tem nada a ver, né? O meu jeito de tocar, me influencia de outra maneira, sabe? Ele vai no meu coração e não no meu cérebro. Ele pode ser um disco essa semana e semana que vem ser outro.