Entrevista | Boston Manor – “Vamos tocar músicas que há muito tempo não tocamos”

Entrevista | Boston Manor – “Vamos tocar músicas que há muito tempo não tocamos”

Pela primeira vez no Brasil, o Boston Manor desembarca no país com a expectativa de retribuir o carinho de uma base de fãs que, há anos, insiste para que a banda venha tocar por aqui. Com uma carreira de pouco mais de dez anos, a banda britânica se consolidou como um dos nomes mais inventivos da cena alternativa, transitando do pop punk para um som mais sombrio e melancólico, sem se prender a rótulos.

A apresentação em São Paulo acontece no dia 14 de setembro, no City Lights. Ainda há ingressos à venda na plataforma Fastix.

O vocalista Henry Cox contou ao Blog n’ Roll sobre essa estreia, a evolução musical da banda, lembranças de festivais e os próximos passos em estúdio.

O que você já sabia sobre os fãs brasileiros antes de confirmar este show?

Henry Cox: Temos um fã-clube incrível, o Boston Manor Brasil, que nos acompanha há anos. Sempre recebemos mensagens nas redes sociais pedindo para virmos ao Brasil. Na nossa última turnê americana, alguns fãs levaram uma bandeira enorme do Brasil e reforçaram ainda mais essa vontade. Queríamos ir há muito tempo, mas foi caro e difícil de organizar. Agora finalmente deu certo e estamos muito animados para tocar pela primeira vez aí.

O que o público pode esperar do setlist em São Paulo? Serão cerca de 15 músicas ou teremos surpresas?

Henry Cox: Sabemos que faz muito tempo que as pessoas esperam ver a banda ao vivo, então pensamos em algo especial. Vamos tocar músicas antigas, de meio de carreira e também as mais novas. Será um setlist bem eclético, incluindo faixas que não apareciam há bastante tempo. A ideia é fazer um show intenso, emocionante e divertido. Queremos que seja caótico, no melhor sentido, que seja insano para todo mundo.

E fora do palco, há planos para conhecer São Paulo?

Henry Cox: Infelizmente, por causa do ritmo da turnê, estamos em um país diferente todos os dias, então não teremos muito tempo para explorar. Basicamente só terei o dia do show. Mas se alguém tiver dicas de lugares interessantes e que fiquem até uma hora do local, adoraria conhecer.

Como foi a transição do pop punk para um som alternativo?

Henry Cox: A mudança foi bem gradual, feita ao longo de alguns álbuns. No início, principalmente na América, parte do público estranhou, mas aos poucos fomos conquistando ainda mais fãs. Nos últimos dois discos, por exemplo, conhecemos muitas pessoas que diziam ter adorado o primeiro álbum, mas não tinham acompanhado os seguintes. Agora, com os trabalhos mais recentes, esse público voltou para a banda. Foi legal ver esse movimento.

Vocês ainda se sentem parte da cena pop punk?

Henry Cox: Hoje isso importa menos do que antes. O streaming abriu muito o gosto musical das pessoas. Antigamente, se você curtia punk, era só punk. Ou metal, só metal. Agora os fãs ouvem de tudo, e isso é ótimo. Já dividimos turnê com bandas muito diferentes entre si, como Knocked Loose ou Hot Mulligan, e os públicos curtem igualmente. Dez anos atrás, seria uma questão não ter um rótulo definido, mas agora isso pesa bem menos. Algumas pessoas ainda nos veem como pop punk, o que é engraçado, mas não nos preocupa.

Qual música do catálogo ainda é especial para você?

Henry Cox: Depois de dez anos e vários álbuns, é normal olhar para trás e pensar em mudanças que faria. Algumas músicas já não representam tanto o que somos hoje, mas continuam como uma fotografia de quem éramos na época. Do nosso primeiro álbum, por exemplo, tem faixas que considero muito confusas, cheias de elementos, mas também há coisas que ainda fazem sentido. “Kill Your Conscience” é uma delas, poderia estar em um disco novo. Outras soam muito juvenis, mais pop punk, quase infantis. É como ver uma foto antiga de você mesmo, mas ao mesmo tempo é uma cápsula do tempo, parte da história.

O álbum Glue tem essa melancolia por fruto da pandemia ou já era um caminho natural?

Henry Cox: Acho que já vínhamos nessa direção, mas a pandemia intensificou. O disco anterior, Welcome to the Neighbourhood, tinha tido muito sucesso e ficamos quase dois anos em turnê sem parar, dez meses por ano na estrada. Estávamos exaustos, mas mesmo assim começamos a escrever um novo álbum. Hoje vejo que talvez devêssemos ter esperado um pouco mais. Em Glue dá para sentir essa exaustão, a frustração e a tensão daquele momento. Isso deu autenticidade, mas não estávamos no melhor espaço mental para gravar.

Você coloca muitas experiências pessoais nas letras?

Henry Cox: Sim, bastante. Às vezes são experiências pessoais, outras vezes são observações sobre o mundo ao meu redor. Tento escrever de forma mais aberta, quase enigmática, para que cada um possa se identificar à sua maneira. Não gosto de deixar óbvio “essa música é sobre isso”, prefiro dar espaço para interpretação, mantendo um pouco de mistério.

Sei que é cedo, mas há um novo álbum a caminho?

Henry Cox: Sim, já começamos a compor e a fazer demos. Provavelmente entraremos em estúdio no ano que vem, mas sem pressa. Desde a pandemia lançamos dois discos e um EP, então foi bastante coisa. Agora me sinto pronto, criativo e com muito a dizer. Vivemos tempos malucos e sinto que há muito material para transformar em música.

Quais artistas te influenciam nos dias de hoje?

Henry Cox: No início eram bandas como Taking Back Sunday, som alternativo e mais eletrônico, além de Nine Inch Nails e, claro, Deftones, que sempre foram referência para mim, Mike e Dan. Hoje não escuto tanta música de guitarra quanto antes, o que é bom porque me influencia menos diretamente. Mas sinto vontade de fazer um álbum mais cru, agressivo, punk, e espero que as demos sigam esse caminho.

Qual festival foi marcante na carreira?

Henry Cox: O Download Festival, sem dúvida. Tocamos no palco principal no dia em que lançamos “Halo” e aquilo mudou nossa trajetória. Recentemente voltamos e tocamos para 80 mil pessoas, foi surreal. Também temos carinho por festivais menores como Slam Dunk e 2000trees, que nos viram crescer de palcos pequenos até o principal. Esse processo de evolução foi muito especial.

Sempre trago perguntas dos fãs do Instagram para a entrevista e essa vem do Elisson: Há diferença entre público europeu e americano?

Henry Cox: Sim, são culturas diferentes. A América tem muitos shows e às vezes o público parece saturado, enquanto a Europa e a América Latina têm uma forte cultura DIY, com festivais em espaços comunitários, por exemplo. Isso cria cenas muito apaixonadas. A Europa continental também tem uma tradição de cuidar das bandas: oferecem comida, alojamento. No Reino Unido e nos EUA não é assim. Mas em ambos os lugares o público é apaixonado, e isso é o mais importante.

Como foi gravar o AudioTree ao vivo?

Henry Cox: Eu estava mijando nas calças, literalmente! Eu estava muito nervoso, foi no dia de início de uma turnê nos EUA. A câmera ficava muito próxima, quase no rosto, e eu estava tímido, mas a equipe foi incrível. Se você ver os vídeos vai ver como eu estava muito nervoso. Sempre quisemos participar e fiquei feliz com o resultado.

Desafio: Escolha cinco músicas do Boston Manor que deveriam ficar no setlist para sempre.

Henry Cox: Essa é bem difícil! Mas, vamos lá: “Foxglove”, “Halo”, “Sliding Doors”, “England’s Dreaming” e “Laika”.

Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros.

Henry Cox: Quero agradecer por esperarem tanto tempo. Sabemos que muitos pedem nossa vinda há mais de cinco anos. O show será especial, íntimo e intenso. Acho que os ingressos estão quase esgotados, então garantam logo. Estamos animados para conhecer a culinária brasileira, principalmente os doces..

Então você precisa experimentar o brigadeiro, que é tipicamente brasileiro.

Henry Cox: Eu amo chocolate, então já quero experimentar o brigadeiro. E quero provar o café brasileiro também e sentir de perto a energia de vocês. Vai ser inesquecível.

SERVIÇO

Boston Manor em São Paulo

Data: 14 de setembro de 2025

Horário: 18h (portas)

Local: City Lights

Endereço: Rua Padre Garcia Velho, 61, São Paulo

Últimos ingressos: https://fastix.com.br/events/boston-manor-em-sao-paulo