Entrevista | Late Night Drive Home – “É uma carta de amor à internet”

Entrevista | Late Night Drive Home – “É uma carta de amor à internet”

Com uma sonoridade que flerta com o indie rock, o garage e até o lo-fi de quarto, o Late Night Drive Home vem chamando atenção com letras que refletem as contradições de uma geração moldada pela internet. Formada em El Paso, no Texas, a banda ganhou destaque após o sucesso de Stress Relief em 2021 e agora estreia com o primeiro álbum completo da carreira, As I Watch My Life Online, um trabalho conceitual e maduro que mira diretamente na vida digital.

O disco nasceu da vontade de aprofundar o discurso artístico em um mundo que prioriza os singles e os vídeos virais. Com produção iniciada há mais de dois anos, As I Watch My Life Online é uma espécie de “carta de amor crítica” à internet, nas palavras do grupo. As faixas exploram a presença digital, a busca por conexão real e a constante fusão entre o mundo online e a experiência física.

Destaque do álbum, a faixa day 2 fala sobre a tentativa de desconectar dos celulares e recuperar um senso de humanidade — um tema que a banda conhece de perto, já que boa parte das conexões e amizades mais profundas dos integrantes surgiu justamente no ambiente virtual. Essa dualidade permeia todo o disco, que equilibra produção analógica e digital como um reflexo sonoro da vida contemporânea.

Nesta entrevista ao Blog n’ Roll, Andre Portillo (vocalista e guitarrista), Freddy Baca (baixista) e Brian Dolan (baterista) falaram sobre o conceito do novo álbum, o impacto das redes sociais, as influências que moldaram sua trajetória, entre outros assuntos. Confira a íntegra abaixo.

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As I Watch My Life Online é o primeiro álbum de vocês. Como foi o processo de criar um disco de estreia em um mundo onde quase tudo acontece pela internet e as bandas preferem focar em singles ao invés de álbum cheio?

Andre – Bem, pensamos muito durante o processo de produção deste álbum. Ele está em produção há uns dois anos, acho que três. E foi bem fácil chegar à conclusão de que queríamos lançar um álbum.

E com base em tudo o que estávamos vivenciando na época, tudo online e a presença da nossa banda online, achamos que era um conceito muito legal e seguimos em frente.

O disco é descrito como uma coletânea de “perspectivas meta sobre a vida online”. Como vocês definiriam a mensagem central do álbum?

Andre – Acho que a mensagem central do álbum é como uma crítica sobre como as pessoas interagem online e como é crescer na internet. Sim, gosto de interpretar como uma carta de amor à internet.

A faixa day 2 fala sobre se desconectar dos celulares para viver uma conexão real. Essa experiência já aconteceu com vocês? De onde veio a inspiração para essa música em específico? 

Andre – Sim. Acho que todos nós já passamos por isso de alguma forma. Quer dizer, é principalmente uma música sobre se conectar com pessoas online e experimentar um senso de comunidade e uma sensação de recuperar as pessoas online te ajudando a recuperar aquela autoimagem de si mesmo. Mas sim, nós já passamos por isso também. Fizemos muitos amigos online nessa época, e até mesmo muitos bons amigos online também, o que é bem interessante porque você pode simplesmente pular a parte em que se conhece pessoalmente e se conectar com alguém instantaneamente.

Desde o primeiro EP até agora, com turnês importantes e contrato com a Epitaph, como vocês enxergam a evolução do Late Night Drive Home? 

Andre – O que você acha, Brian?

Brian – Não sei. Começou como um som meio lo-fi de quarto e, com o tempo, acho, especialmente neste álbum, nós realmente mostramos o quão longe chegamos como músicos. Definitivamente, passamos por muitas fases em nosso som. E ficou no rock alternativo e indie.

Mas sinto que naquela época tínhamos muito mais sintetizadores e elementos eletrônicos, mas meio que nos afastamos disso à medida que fomos apresentados aos estúdios e técnicas de gravação mais profissionais e coisas do tipo. E tínhamos um som mais de garage rock.

Então, à medida que exploramos mais nossa música, aprendemos que é legal combinar os dois e ter sons profissionais de estúdio com sons analógicos que são meio estranhos e cheios de bugs e coisas assim. E mudar nosso som e meio que mesclar esses dois sons. Acho isso legal porque é uma espécie de testemunho da mensagem do álbum, que é como a vida real e a internet se fundindo e se tornando quase uma coisa só, indistinguíveis uma da outra. Realmente antecipo que nosso som mudará o tempo todo, a cada momento.

É só uma questão de capturar aquele momento sonoramente e compartilhar com o mundo o que estávamos pensando naquele momento específico.

O sucesso de Stress Relief em 2021 trouxe bastante atenção para o Late Night Drive Home. Como lidaram com a pressão e as expectativas depois desse hit? 

Andre – Especialmente da nossa parte, fomos quase colocados sob essa luz, por todas as pessoas que ouvem nossa música. E é como se houvesse uma pequena pressão quando você está sob essa luz, um pouco de incerteza sobre o que as pessoas pensariam da sua jornada como músico. Porque, como dissemos antes, nossos sons estão sempre evoluindo. E até mesmo a maneira como tocamos no palco, sinto que evolui a cada turnê.

Foi meio difícil imaginar as expectativas dos ouvintes e dos nossos fãs. Mas acho que, com isso, aprendemos a aceitar o fato de que somos músicos em constante evolução. E se as pessoas gostam da nossa música, elas sempre vão gostar, não importa como as toquemos.

A turnê do novo álbum vai passar por 22 cidades e termina em El Paso, cidade natal o Late Night Drive Home. Tem planos de trazer essa turnê para o Brasil? 

Brian – Ah, para o Brasil? Ah, espero que sim. No momento, não tenho ideia, mas sei que já tocamos no assunto de talvez fazer uma turnê por diferentes partes do mundo também. Porque, até agora, só fizemos turnê pela Europa, Reino Unido, EUA e uma pequena parte do México. Isso seria muito divertido. 

Como tem sido a recepção do público nos festivais em que tocaram, como Coachella e Austin City Limits? O que mais marcou vocês nesses palcos?

Andre – Sabe, nos divertimos muito tocando nesses festivais. E mesmo agora, à medida que começamos a tocar em mais festivais, acho que a empolgação por eles nunca acaba. É meio interessante levar nossa música para um novo grupo de pessoas, pessoas que talvez não a tivessem ouvido se não tivessem ido a esses festivais. Então, acho que quando estamos no palco, tentamos dar o nosso melhor. E pelo menos tento tocar o coração dos ouvintes de alguma forma para que eles possam se identificar com a música.

Mas, quanto ao público, a recepção da nossa música no palco tem sido simplesmente fenomenal. As pessoas são incríveis. É muito bom estar em um ambiente acolhedor, com música por todos os lados.

Freddy – Sim, nós amamos multidões de festivais. 

Pensei em um jogo rápido. Topa? Eu cito algumas bandas e vocês os definem em uma palavra.

Andre – The Strokes – nostálgico

Andre – Interpol – foda

Brian – The National – elegante

Andre – The Libertines – classe ou álcool 

Quais os álbuns que mais influenciaram vocês na carreira? Por que?

Brian – O primeiro álbum do Arctic Monkeys, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, porque toco bateria e tem muita bateria incrível nesse álbum, absolutamente fenomenal. Esse álbum foi introduzindo conceitos novos, antigos, mas de maneiras novas e legais.

Depois, Queens of the Stone Age, Songs for the Deaf. Mas se tivesse que escolher um, provavelmente seria Songs for the Deaf.

Freddy – Para mim, provavelmente, seria Hot Fuss, do The Killers.

Andre – Uau! Acho que para mim…

Freddy – Você também? Não, terei que escolher outro, sempre esqueço o nome exato, mas chama-se I Had the Blues, But I Checked the Moods, primeiro disco do Bombay Bicycle Club.