Entrevista | Neil Turbin – “Minha maior contribuição foi ajudar a colocar o Anthrax no mapa”

Entrevista | Neil Turbin – “Minha maior contribuição foi ajudar a colocar o Anthrax no mapa”

Pioneiro do thrash metal, Neil Turbin retorna ao Brasil para celebrar os 40 anos do clássico Armed and Dangerous, álbum que compôs para o Anthrax. O único show da turnê no país acontece em 21 de setembro, no Manifesto Bar, em São Paulo, e terá abertura da banda Selvageria. A passagem faz parte da turnê Fistful 40, que já levou o vocalista a países da América Latina e contará ainda com apresentações no Canadá.

Reconhecido por dividir o palco com nomes como Tim Ripper Owens (Judas Priest), Jeff Scott Soto (Yngwie Malmsteen) e Simon Wright (AC/DC), Turbin mantém viva sua conexão com o metal. Neste ano, ele se apresentou no Mortalfest, no México, e no Rock for Ronnie James Dio, evento beneficente da Dio Foundation. Os ingressos para o show em São Paulo já estão disponíveis pelo Clube do Ingresso e nas redes do Manifesto Bar.

Antes do Anthrax você já era experiente na cena e tem muitas histórias. Estou muito curioso sobre suas lembranças do CBGB. Como foi tocar em um local tão histórico?

Neil Turbin: Eu toquei no CBGB com a minha primeira banda, The New Race, nos anos 1970. Eu tinha 15 anos. O CBGB era parte da cidade, um bar que acabou se tornando uma instituição, um marco para o punk rock, hard rock, heavy metal e hardcore punk.

Quando entrei lá pela primeira vez eu era ingênuo e inexperiente. Ficamos animados para tocar, mas o lugar era muito sujo, especialmente os banheiros. Ainda assim, era um palco clássico. Na época, alguns álbuns ao vivo já tinham sido gravados lá e eu estava empolgado por ter essa chance, mesmo sendo de uma banda iniciante.

Depois dessa experiência, nunca mais toquei lá. Com o Anthrax, chegamos a tocar no Great Gildersleeves, que era um pouco melhor estruturado, com palco maior, mas tinha problemas acústicos por causa das paredes de pedra. Também havia outros clubes em Nova York, como o Max’s Kansas City, que eu adorava.

Naquela época você já tinha noção da importância histórica do CBGB?

Neil Turbin: Sim. Eu me lembro bem, até da camiseta branca com letras vermelhas e pretas. O CBGB ficava perto de locais icônicos, como o St. Mark’s Place e os estúdios Electric Lady. Era uma área movimentada, cheia de clubes e bares. Para nós, tocar ali foi uma experiência marcante, mesmo sendo apenas uma vez.

Você celebra até hoje suas músicas e sua fase no Anthrax. Sei que você estudou com o Scott Ian e que colocou um anúncio procurando uma banda. Como foi a sua contribuição para a história inicial da banda?

Neil Turbin: Eu fui o primeiro vocalista oficial. Gravei três demos com a banda e participei da construção do som que se tornaria o Anthrax. Na primeira demo eles ainda tentavam soar como Iron Maiden ou Judas Priest, mas ajudei a desenvolver um estilo mais original.

No álbum Fistful of Metal, escrevi “Metal Thrashing Mad” e também criei o título Armed and Dangerous. A música “Gung-Ho” também é minha. No processo de composição, Dan Lilker, Greg Walls e outros membros escreviam bastante, mas eu contribuía com letras, melodias e até riffs de guitarra, mesmo sem tocar guitarra nos ensaios. Eu levava as fitas para casa e trabalhava sozinho nos arranjos.

Nos shows da primeira turnê, cantávamos quase todo o Fistful of Metal e algumas faixas novas. Tocamos com Raven e Metallica, que já tinham um nível impressionante de composição. Minha maior contribuição foi ajudar a colocar o Anthrax no mapa e a construir o que viria a ser o thrash metal, parte do que depois se chamou Big Four.

Na época você tinha consciência de estar participando da criação de um novo estilo, o thrash metal?

Neil Turbin: Nova York nos anos 70 e 80 era bruta, perigosa, mas cheia de energia. Era como viver dentro do filme The Warriors. Essa atmosfera dava a sensação de indestrutibilidade, algo que moldou a música e a atitude. Eu sentia que fazíamos parte de algo novo, mesmo sem rotular.

O Fistful of Metal sempre foi comparado com Judas Priest. Como você vê a evolução desse disco para os temas e sonoridade posteriores?

Neil Turbin: O Fistful of Metal veio após as demos, e logo lançamos o single “Soldiers of Metal” em 1983. Isso nos levou a shows maiores, como abrir para o Crocus em Massachusetts. Já havíamos tocado com o Metallica, que impressionava pelo peso dos riffs e pela qualidade da composição.

Alguns membros da banda queriam soar como eles, assim como antes queriam soar como Iron Maiden. Eu admirava a Metallica, era amigo do Cliff Burton, do James, do Lars e do Kirk, mas minhas influências iam além: Accept, Saxon, Riot, Sortilège, Warning. Daí nasceu a energia de “Metal Thrashing Mad”.

Minha ideia era capturar a essência daquela época: velocidade, agressividade e autenticidade. Enquanto outros buscavam copiar, eu tentava canalizar essa sensação única que vinha da mistura de várias influências e da cena underground mundial.

Minha busca sempre foi capturar a essência do que o metal me fazia sentir. Era como dirigir com as janelas abertas, ouvindo Saxon – Wheels of Steel, 747 (Strangers in the Night). Eu queria compartilhar essa sensação com as pessoas.

Cada membro da banda tinha suas influências. Dan Lilker, por exemplo, trazia muito de Angel Witch e bandas obscuras que ele adorava. Nós frequentávamos lojas de discos como a Rock and Roll Heaven, do John Zazula (produtor responsável pelos primeiros álbuns do Metallica e Anthrax), e a Bleecker Bob’s, sempre atrás de importados e novidades. Essas influências moldaram o Anthrax.

Muitas vezes dizem que eu trouxe o visual inspirado no Judas Priest para o Anthrax, mas, na verdade, eles já usavam roupas de palco antes de eu entrar. Sempre achei a imagem do Unleashed in the East, Hell Bent for Leather, ou os Tokyo Tapes do Scorpions incríveis para o heavy metal. Para mim, esse era o espírito: Black Sabbath com Dio, Ozzy solo, e depois a New Wave of British Heavy Metal, que acelerou tudo. Isso também influenciou o Anthrax.

Com o tempo, Judas Priest despertou para esse peso quando lançou Painkiller. Algo parecido aconteceu conosco: evoluímos do Fistful of Metal para Armed and Dangerous.

Neil Turbin, com visual da época

E como foi esse processo dentro da banda, especialmente em Armed and Dangerous?

Neil Turbin: Foi curioso. A banda queria seguir em direção ao hardcore punk. Eu achei estranho, porque tínhamos músicas como Armed and Dangerous, que começa como uma power ballad, com introdução suave e depois cresce. Como transformar isso em hardcore?

Eu já vinha da cena punk, vi o Ramones bem jovem, na primeira fila, sendo empurrado contra o palco, suado, tomando socos na cara, mas amando cada segundo. Também vi The Clash, Sex Pistols, Generation X, então entendia o punk original. Só que o que eles queriam era o hardcore, que eu via como uma “segunda onda”, assim como aconteceu com o metal.

No fim, fiz o que sempre fazia: levei a música para casa, trabalhei sozinho e voltei com arranjos. Eles gostaram tanto que usaram o título Armed and Dangerous para o EP. Mesmo depois da minha saída, continuaram tocando minhas músicas, como Gung-Ho e Raise Hell, o que mostra que minha contribuição foi sólida, apesar das dificuldades criativas dentro da banda.

Agora, 40 anos depois, você está celebrando esse material no Brasil. O que os fãs podem esperar do show em São Paulo?

Neil Turbin: Estou muito animado para tocar no Manifesto Bar em 21 de setembro. Teremos encontros VIP e duas grandes bandas de abertura: Selvageria e Mental Trigger. Já toquei em São Paulo em 2023, e foi incrível.

Preciso agradecer ao Rodrigo, ao Silvano e Luiz Brancati, ao Gustavo de Almeida, ao Paulo Baron e ao Carlos Zema, além de toda a equipe do Manifesto Bar. Eles são profissionais de altíssimo nível, que fazem tudo acontecer de forma séria e confiável. Isso faz diferença para qualquer artista.

O público pode esperar um show completo, sem playbacks, sem truques. Cantarei todas as músicas que compus e gravei – Armed and Dangerous, Gung-Ho, Raise Hell, faixas do Fistful of Metal e também meu material solo.

Nos shows pela América do Sul, no Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina, vivi algo especial: os fãs cantavam minhas músicas tão alto quanto as do Anthrax, às vezes até mais alto do que meu microfone. Isso é emocionante, me inspira muito.

Já que você citou não usar playback, seu alcance vocal sempre foi destaque, além da potência marcante. Como você enxerga esse reconhecimento, inclusive influenciando novas gerações?

Neil Turbin: O que me move é nunca parar de aprender. Quero sempre crescer, ouvir mais do que falar. Cada entrevista também me faz revisitar lembranças e perceber detalhes.

Uma experiência marcante foi com B.B. King, em 1999. Perguntei o que ele pensava quando parava de tocar e apenas sorria para o público. Ele respondeu: “Neil, daqui [apontou para o coração] para cá [apontou para o público]”. Isso me marcou profundamente.

Para mim, música é energia, é transferir algo positivo para as pessoas. Não busco validação, mas sim fazer o público se sentir bem, energizado. Quando isso acontece, eles me inspiram de volta. Essa troca é um presente.

Cada show é diferente, cheio de imprevistos técnicos ou surpresas, mas minha meta é sempre criar uma experiência intensa, quase como o Live and Dangerous do Thin Lizzy, uma das minhas bandas favoritas. Quero que cada noite tenha essa força, mesmo sabendo que a realidade às vezes interfere.

No Brasil, tocaremos um set longo, pesado e melódico ao mesmo tempo. Minhas músicas evoluíram em 40 anos: hoje estão mais fortes, mais bem arranjadas. Posso dizer que meu som é como um encontro entre Dream Theater e Metallica, ou Power Metal europeu com thrash americano. Para o público brasileiro, será uma celebração intensa, feita de coração.

Nós não chegamos a uma pergunta que nos levasse a isso, mas eu deveria ter direcionado para tocar nesse ponto, já que é importante para os integrantes brasileiros da banda e para os convidados especiais. Todos eles são brasileiros e vêm de bandas muito trabalhadoras:

  • Jaeder Menossi – guitarra (Interstellar Experience)
  • Thales Statkevicius – guitarra (Hammathaz, Warshipper)
  • Bil Martins – baixo e vocais (Hellish War, Dark Witch, Battle Raven)
  • Kaynan Bonini – bateria (Warshipper)
  • Rafael Gonçalves – bateria (xBrave)
  • Gus Dubbern – guitarra (Ceremonya, banda solo de Neil Turbin – EUA)
  • Ale Magno – bateria (Roy Kahn, Pense, Our Last Creation)

Serviço

Neil Turbin celebra os 40 anos de Armored and Dangerous
Local: Manifesto Bar
Novo Endereço: Rua Ramos Batista, 207 – Vila Olímpia – SP
Quando: 21/09/2025
Horário: 18h
Ingressos: https://www.clubedoingresso.com/evento/neilturbin- primeirovocalistadoanthrax

Créditos da Foto de abertura da matéria: Jerry Averill / Epic Shots