Entrevista | Rival Sons – “Meu trabalho é ser um artista e me tornar a versão mais autêntica de mim”

Entrevista | Rival Sons – “Meu trabalho é ser um artista e me tornar a versão mais autêntica de mim”

A banda californiana Rival Sons lançou o oitavo álbum de estúdio, Lightbringer, a continuação de Darkfighter, divulgado em junho. O novo trabalho traz seis faixas em pouco mais de 30 minutos, que contrastam com o que foi apresentado meses atrás.

O guitarrista Scott Holiday falou sobre a conexão entre as duas obras lançadas em 2023.

“Quando você faz dois álbuns consecutivos como este, há muitas coisas em que pensar. O primeiro álbum tem que ter impacto suficiente e contar uma história suficiente para que a segunda metade tenha um impacto ainda maior. Nós os equilibramos com energia e significado, mas o acompanhamento sempre precisou desferir um golpe maior. Acho que o Lightbringer fornece isso.”

Vocalista e letrista do Rival Sons, Jay Buchanan conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo álbum, a conexão entre os dois últimos discos, além da possibilidade de retorno ao Brasil e suas influências.

Darkfighter e Lightbringer sempre foram pensados como dois álbuns ou vocês dividiram depois que concluíram as gravações? Por que?

Sim, para as ambas perguntas, mas um pouco mais complicado do que isso. Assim que terminamos as músicas, sabíamos que tínhamos dois discos separados. São dois livros para uma grande história. Dividir os dois álbuns se tornou algo muito importante, pois existem duas partes da história sendo contada.

Darkfighter lida com uma jornada difícil para o nosso protagonista, enquanto Lightbringer é a outra metade dessa jornada, quando ela é concluída. Lightbringer aborda mais os fatores introspectivos dela, ao contrário de toda a energia que se demanda para percorrer a jornada, que é a parte do Darkfighter.

Como foi o processo de gravação dos álbuns? Tiveram que fazer adaptações, algo diferente dos outros trabalhos?

Posso dizer que o processo de gravação desses discos foi diferente de qualquer álbum que tenhamos gravado antes. Devido a pandemia, não podíamos trabalhar o tempo todo, todos estávamos isolados. Nós escrevíamos um pouco e íamos para o estúdio por uma semana, depois escrevíamos por alguns meses novamente e voltávamos ao estúdio.

Por causa disso, e da agenda ocupada do nosso produtor, levou um tempo entre as gravações, então tivemos muito tempo para pensar nas coisas. Devido a isso, o tipo de escrita que realizava era muito mais pessoal, e autobiográfica do que nunca, notei isso.

Sabia que nesse ponto da minha carreira, eu precisava escrever de forma pessoal, pois era um período muito difícil de se passar.

Lightbringer é mais sobre a reflexão, sobre o crescimento que vem da jornada.

É necessário destacar que o Rival Sons não cede espaço para modismos e segue autêntico em todos os álbuns. Existe algum tipo de pressão para soar mais comercial, menos pesado, coisas assim?

Claro que há pressão. Lightbringer é nosso nono disco, quando se trata do lado de business, existirá agenciamento, haverá o selo, existem tantas pessoas por trás do lançamento. Para eles, tenho certeza que agradeceriam se fizéssemos o trabalho deles mais fácil, se fizéssemos discos que soassem como todo mundo, pois seria fácil definir. Mas não é o que somos, não é o que sou.

Para mim o gênero rock é o tipo de arte que fazemos, é nossa responsabilidade ver o quão longe podemos esticar na nossa direção. Pois somos os únicos que fazemos as nossas músicas, que fazemos a arte desta forma, somos a única Rival Sons que existe.

Então devemos isso, como uma dívida de gratidão à música, à arte, por nos impulsionar em nossa própria direção, não estamos na mesma trajetória, e fazemos música pelo mesmo motivo de outras bandas, eles fazem pelos motivos deles.

Vejo isso como uma necessidade de impulsionar nós mesmos a nossa própria direção.

Tenho certeza que entende quando digo que muitas pessoas gostariam que tornassemos o trabalho dela mais fácil, algo como: “Ouça aqui o novo disco do Rival Sons”. Uma foto de uma cara de blusa regata com braceletes espinhosos. Entendo, mas nós estamos pela arte.

Para mim, a perspectiva artística parte diretamente para quem sou, isso não é um trabalho, meu trabalho é ser um artista e me tornar a versão mais autêntica de mim. Minha vida e meu trabalho são uma coisa só, talvez para outras pessoas na indústria, eles trabalham o dia todo e vão para casa serem o pai, ou a mãe, mas sou um artista o dia todo, sou um artista na frente dos meus filhos, da minha família.

Muitas bandas lendárias do rock estão encerrando as atividades. Você acredita que o Rival Sons pode ser parte do pelotão da frente de nomes que vão manter o rock relevante por muitos anos?

Claro. Acho que se ficarmos juntos, e continuar fazendo o que fazemos, acredito que o Rival Sons é uma voz única em meio a muita música ruim. Não tenho vergonha de dizer isso, posso ligar o rádio e escutar muitas dessas bandas, não identifico as coisas que elas estão falando sobre, não faz sentido para mim.

Mas, novamente, sou um compositor, tenho que cantar coisas que fazem sentido para mim. Acredito que existem pessoas por aí que se sentem da forma que me sinto, e pensam nas coisas que penso, e acho que cantar sobre assuntos importantes, seja em uma música como Shooting Stars, ou do último álbum, Darkfighter, Nobody Wants to Die, essas músicas diferentes. Acho que as pessoas pensam sobre essas coisas.

Acho que há mais na vida do que amassar latas de cerveja na cabeça, e gritar o tempo todo. Há hora e lugar para isso, mas a vida não é assim o tempo todo.

Existe mais alguma banda com essa energia e propósito?

Não que eu saiba. E se existe, eu adoraria encontrar. Mas não vejo ninguém seguindo esse caminho. E tudo bem, todo mundo entrega a sua versão da verdade. Porém, não vejo ninguém no rock que componha e faça música do jeito que fazemos.

Recentemente vocês fizeram uma turnê com o Smashing Pumpkins. Como foi essa experiência?

Os Smashing Pumpkins foram demais, uma experiência muito boa para nós. Estávamos na estrada com o Smashing Pumpkins e o Stone Temple Pilots, ficamos muito amigos de todo mundo, o Interpol também estava lá, foram fantásticos também.

Acho que a turnê em si foi uma grande experiência, pois era um público de rock. Sei que os Smashing Pumpkins são primariamente classificados como uma banda de rock dos anos 1990, mas se olhar para as coisas que eles estão fazendo ao longo dos anos, eles nunca pararam de fazer grandes músicas. Todos os seus discos são bons. E poder assistir um show tão bom toda noite é muito inspirador.

Vocês pretendem excursionar pelo Brasil com o novo álbum?

Estou trabalhando e tentando falar com nossa equipe sobre como faremos uma turnê no Brasil e América do Sul se tornar realidade. É difícil, pois sempre que tentamos criar esse momento, é necessário que faça sentido, que tenham shows suficientes.

Mas uma das minhas melhores memórias no palco é tocando em São Paulo e no Rio, são públicos incríveis. Amo tomar caipirinhas. Amamos o tempo que passamos no Brasil.

O que você recorda daqui?

Uma das minhas história prediletas é provavelmente muito chata. Mas para mim, vivendo na estrada, são as pequenas coisas que fazem a diferença. Na última vez estávamos hospedados na praia de Copacabana, e eu gosto de correr, corro todo dia. Corri pela praia, algumas voltas, e olhando em volta, via as pessoas com tanta alegria, todas bonitas, tão felizes.

Estava com Michael, nosso baterista, finalizamos a corrida, estávamos cansados, fomos mergulhar e voltamos para pegar uma água de coco. Depois fomos até uma churrascaria e foi o dia de folga perfeito. Era um dia ensolarado, tinha uma boate no topo do hotel onde estávamos, bebemos caipirinhas e dançamos, foi a melhor coisa. Dançamos a noite toda, uma grande festa.

Quais são os três álbuns que mais te influenciaram na carreira? Por que?

Vou dar uma resposta que maioria das pessoas não te daria, direi Feral Roots, que lançamos em 2019. Pois se quiser falar de influência, posso dizer com confiança esse disco, pois não sou o único compondo, nem tocando, nem cantando, é a banda.

O impacto desse disco em mim, como artista, e o tipo de trabalho que fizemos, a voz que criamos, foi algo único para nós. Marcou uma virada importante para nós, artisticamente, em relação ao que poderíamos nos tornar, e nos tornamos.

Todas as músicas que todos escutam, influenciam o disco, os meus preferidos, até os que não gosto. Todos influenciam no que foi criado, pois aquilo que você não gosta, quer ter certeza de não fazer algo parecido com ela.

Então, no estúdio, você deve ter lado a lado os seus preferidos, e os seus odiados, serão seu parâmetro de criação. Então, vamos lá: Feral Roots, Darkfighter e Lightbringer são os três discos mais influentes para mim.