Entrevista | Sabaton – “Estou orgulhoso do Legends, é um álbum variado e forte”

Entrevista | Sabaton – “Estou orgulhoso do Legends, é um álbum variado e forte”

O Sabaton lançou seu 11º álbum de estúdio, Legends, pela Better Noise Music, inaugurando uma nova fase em sua carreira. O disco mergulha em personagens históricos como Joana D’Arc, Genghis Khan, Júlio César e Napoleão, costurando batalhas, filosofia e momentos marcantes em músicas que equilibram peso e melodia. Com produção de Jonas Kjellgren e arte de Peter Sallai, o álbum busca sintetizar figuras que ajudaram a moldar o mundo, funcionando como uma coletânea de histórias que o grupo sueco queria contar há muito tempo.

Em entrevista ao Blog n’ Roll, o vocalista do Sabaton, Joakim “Jocke” Brodén, falou sobre o processo criativo do novo disco, a escolha das figuras históricas e os desafios de transformar temas tão grandiosos em canções. Ele também comentou a forte conexão com o público brasileiro, a história por trás da guitarra da Hello Kitty no Bangers Open Air e a possibilidade de abordar conflitos atuais em trabalhos futuros.

O que inspirou o conceito de Legends e a escolha dessas figuras históricas?

Há muitos personagens que queríamos escrever, mas nunca tivemos um tema comum. Napoleão, por exemplo: poderíamos fazer um álbum inteiro só sobre ele, mas e os outros? O mesmo com Júlio César, que renderia muitas histórias sobre o Império Romano. Percebemos que César, Napoleão, Genghis Khan, Vlad, Joana D’Arc tinham algo em comum: todos eram lendas. Então pensamos em Legends como uma espécie de grandes sucessos das figuras que queríamos abordar, mas que nunca tinham se encaixado em um conceito único.

Pela primeira vez todos os membros do Sabaton participaram das composições dentro do mesmo álbum. Como isso mudou o processo criativo?

Vou dar uma resposta meio chata e te frustrar (risos): nada mudou. Hannes, nosso baterista, não costuma compor, tinha escrito só uma música antes, mas desta vez ele trouxe uma ideia. Os outros já eram ativos no processo, mesmo em álbuns passados. Foi mais uma coincidência de todo mundo ter músicas prontas, mas eu gosto de escrever junto, é melhor do que trabalhar sozinho.

Você citou Napoleão, Joana D’Arc e Genghis Khan. Qual lenda foi o maior desafio de transformar em música?

Para mim, foi Miyamoto Musashi. Eu só conhecia ele como samurai, mas nas pesquisas o descobri como autor e filósofo. Isso mudou todo o conceito das letras. Os pré-refrões da música Duelist vieram do seu livro O Livro dos Cinco Anéis. Achei importante mostrar esse outro lado dele, não apenas o guerreiro.

Há planos de lançar documentários, materiais visuais ou até mesmo um jogo para expandir a narrativa do álbum?

Queremos continuar com os vídeos no canal Sabaton History no YouTube, junto com o Indy Neidell, mas é complicado. Para falar de guerras modernas, usamos fotos e vídeos de arquivo. Mas como ter imagens do Egito antigo, por exemplo? A Inteligência Artificial seria uma solução, mas muita gente não aceita. Ainda estamos pensando como resolver isso.

Houve alguma figura histórica que vocês imaginaram no álbum, porém ficou de fora?

Queríamos muito Alexandre, o Grande. Até comecei a compor, mas a música não funcionou. Quero voltar a isso em algum momento.

Acredita que o álbum Legends irá marcar uma nova fase na carreira do Sabaton?

Difícil dizer. Fizemos o nosso melhor, mas agora depende dos fãs. Se eles gostarem, ótimo. Se não, talvez tenhamos que mudar o caminho. Estou orgulhoso, acho que é um álbum variado e forte.

A turnê de Legends deve vir ao Brasil?

Esse é o plano e nosso desejo. Ficamos devendo parte das turnês de The Great War e The War to End All Wars por causa da pandemia. Agora queremos trazer Legends.

Vocês tocaram no Brasil no Bangers Open Air. Por que escolheram o país para abrir a agenda de 2025?

A pergunta é por que não começar pelo Brasil? Tivemos que começar em algum lugar, e o Brasil parecia perfeito, ainda mais em um festival. É sempre uma loucura tocar aí, os fãs são incríveis e queríamos que fosse uma festa para começar o ano.

Vocês tem uma música sobre o Brasil na guerra. Como você descreveria a conexão da banda com o país?

Muito forte. Lembro quando conhecemos José Maria, um dos Smoking Snakes, em Juiz de Fora. Ele disse para o Hannes que seria o primeiro a cair em combate por ser o mais alto. Depois, quando falamos que o show seria intenso, ele respondeu: “Sobrevivi aos nazistas, posso sobreviver a um show de metal.” Essa frase foi lendária.

Qual a história por trás da guitarra da Hello Kitty?

Foi uma pegadinha. Eu esqueci uma vez de deixar minha guitarra no carregamento e pedi ajuda. A equipe me entregou uma guitarra da Hello Kitty. Desde então, virou tradição. Toda vez que viajo, minha guitarra “some” e eles colocam outra no lugar. Acho que só vou rever a original quando morrer.

Com tanto conflito e guerra no mundo, vocês pensam em abordar guerras atuais em futuras músicas?

Talvez, mas é preciso tempo. A forma como conflitos são noticiados varia muito de país para país, e nós não confiamos em jornalistas nem políticos. Não somos historiadores, somos apaixonados por história, mas precisamos da distância para que especialistas registrem os fatos de maneira objetiva e imparcial.

O que os fãs podem esperar da turnê do Legends?

Estamos preparando um palco totalmente novo. Depois dos últimos três shows, tudo será reformulado. Dá um frio na barriga, mas é empolgante.

Como era a cena de rock na Suécia quando vocês estavam começando?

Não era enorme, mas estava lá. Eu tinha quatro anos e vi na TV I Wanna Rock, do Twisted Sister. Fiquei paralisado. O metal nunca foi esquecido na Suécia, mas também nunca foi mainstream. Hoje ele está maior do que nunca.

Para encerrar, qual a mensagem para os fãs brasileiros?

Obrigado pelas boas horas e que venham muitas mais em breve.