O lendário baterista Simon Phillips (The Who, Toto, Tears for Fears, Judas Priest) retorna com o DarWin para apresentar Distorted Mirror, quinto álbum do supergrupo lançado em outubro de 2025 pela OoS/Phantom Recordings. O projeto conta tamém com Darwin Gerzson, Matt Bissonette, Mohini Dey, Greg Howe, além de um verdadeiro hall de grandes músicos.
O novo álbum chega como uma continuação direta de Five Steps on the Sun, apostando novamente em arranjos complexos, virtuosismo e sonoridades que transitam entre o rock progressivo e o metal moderno.
Em entrevista ao Blog N’ Roll, Simon Phillips contou que Distorted Mirror é resultado de uma parceria cada vez mais afinada com DarWin, marcada por uma busca constante por melodias impactantes e harmonias vocais bem elaboradas.
Simon Phillips destaca que o novo álbum reflete não apenas a maturidade artística da banda, mas também a evolução de sua visão sobre produção e composição, abrindo caminho para o próximo trabalho que já está em desenvolvimento.
Ouvi seu novo álbum, Distorted Mirror, mas gostaria de saber sobre o começo. Como começou sua parceria com o DarWin? E o que o motivou a se juntar a este projeto?
Ele (Darwin) me enviou um e-mail. De repente, eu abri o e-mail e li. Muitos projetos dos anos 2000 começaram com contatos por e-mail. Na verdade, até hoje nós raramente falamos com as pessoas ao telefone. Hoje em dia, é assim que trabalhamos.
Voltando, o DarWin me enviou um e-mail com algumas ideias grandiosas de gravar um disco. E eu pensei, ok, vamos ver. Então, trocamos mensagens e pedi algumas músicas para que eu pudesse ouvir. Quando ele me mandou, eu pensei “Isso é muito interessante. Eu acho que essa música é boa. Eu posso fazer algo com isso”.
Então, nós criamos algumas sessões de gravação. Ele veio para o meu estúdio em Los Angeles e gravamos as três primeiras músicas. Isso foi em 2015 e aqui estamos nós, dez anos depois. Acabamos de lançar o nosso quinto álbum e já estamos trabalhando no sexto.
Distorted Mirror é uma continuação de Five Steps on the Sun. Como você define essa nova fase, musicalmente e conceitualmente?
Bem, é prog rock. Mas é um tipo diferente de prog rock, porque é muito melódico. Prog rock é melódico, mas também tem muitas vozes. Então, eu brinco dizendo que é prog rock misturado com Crosby, Stills & Nash. Porque ambos gostam de vozes e eu amo a produção vocal, amo harmonias vocais. E o DarWin também. Sem contar que o Matt Bissonette é excelente em fazer harmonias muito interessantes, absolutamente maravilhoso. Então, é uma boa mistura: prog rock, mas com melodias e harmonias muito marcantes.
Você é um baterista lendário, mas no DarWin você tem vários papéis: produtor, engenheiro, mixer. Qual desses foi o mais desafiador neste álbum?
Todos, todos são desafiadores. A música começa com uma demo do DarWin. Ele toca tudo nela: guitarra, base, bateria e envia para mim e para o Matt. Daí o Matt começa a trabalhar nas letras e vozes. Eu começo a trabalhar no arranjo, escolhendo talvez as melhores partes da música.
A primeira coisa que faço é a transcrição. Tudo está em MIDI, em teclados. Eu posso rearmonizar, mudar o tom, até mudar o compasso. Eu faço isso muito. Porque eu escuto e penso: “Como isso soaria em 7 tempos?” Ou vice e versa. O DarWin pode ter escrito algo em 7 ou 8, e eu penso: “Parece forçado. E se colocássemos em 4?” Gosto dessa construção porque dá uma boa tensão à música. Depois, entramos no processo de gravação ao vivo eu, DarWin e a Mohini Dey (baixista). Isso é muito importante. Dá um sentimento orgânico. E também podemos mudar as coisas rapidamente como tempo, arranjo, tudo. Enquanto toco, também faço engenharia. É algo que faço há muito tempo. Nunca é fácil, mas já é natural para mim.
Quando você recebe as primeiras demos e grava essa base em power trio, que tipo de ajustes ou refinamentos costuma sugerir aos outros músicos do projeto?
As partes de guitarra geralmente são as originais do DarWin. Mas às vezes eu crio novas ideias. Não sou guitarrista, então faço isso com um som de teclado distorcido. Claro, as notas não ficam perfeitas, mas passam a ideia. Ele ouve e adapta com a guitarra de verdade. Já Mohini adora as linhas de baixo que eu crio, mas às vezes ela vem com ideias novas, e eu deixo livre. Se for melhor, ótimo. Se não funcionar, voltamos à original. É um processo cada caso um caso, seção por seção. Eu só quero que a música fique melhor. Às vezes, tocar algo simples funciona muito mais do que algo complexo.
Você usa compassos e grooves pouco convencionais, como é comum no prog. Como você aborda esses materiais complexos na bateria?
Juro que eu não sei, apenas começo a tocar. Sou um músico muito intuitivo, não planejo muito. Normalmente, quando entro em estúdio, ouço a música e penso em algo, mas quando começo a tocar, sai algo completamente diferente. É sempre intuitivo. Às vezes ouço algo e penso: “Deixe-me trabalhar nisso.” Aí resolvo, testamos e vemos se funciona. Se soa bem, seguimos. Se não, ajustamos. É mais experiência do que planejamento.
Há planos para uma turnê desse álbum ou planos para tocar no Brasil? O Brasil está entre os principais ouvintes do DarWin.
Ainda não temos planos, mas estamos conversando sobre isso. É complicado, porque a música é complexa e precisa de uma boa estrutura no palco. Minha bateria é grande, há dois teclados, baixo, duas guitarras e vocais. Precisamos de um espaço adequado e público suficiente. Mas se surgir um promotor na América do Sul disposto a montar isso direito, nós adoraríamos vir tocar, com certeza.
Entre todos os artistas com quem você trabalhou, qual sessão ou turnê foi a mais desafiadora ou fora do comum?
Eu diria que o Peter Gabriel. Lembro desses dias com ele, foram sessões muito experimentais, mas divertidas. Trabalhar com ele foi incrível. Outro trabalho marcante foi o disco de L Shankar, produzido pelo Frank Zappa. Desafiador, porém também foi maravilhoso. Teve também o Hiromi Trio Project foi fantástico e difícil, porque gravamos tudo ao vivo com um sistema nada amigável para edições. Tínhamos que acertar de primeira. Mas foi maravilhoso.
Você é crítico da música pop atual, e agora temos a inteligência artificial surgindo, tirando o lado orgânico da música. Se isso é o vírus, qual seria a vacina para combatê-lo e ainda sim alcançar sucesso?
Primeiro, não acho que vá mudar nada em termos de criação musical. As pessoas continuarão fazendo pop. É descartável, dura uma semana, como um copo de leite. É por isso que a IA pode imitar tão bem esse tipo de música. Eu testei, só por curiosidade, e para composições de R&B sobre dinheiro, por exemplo, ela gera resultados convincentes. Mas é uma cópia, não é real.
Tentei fazer algo como prog rock misturado com Tchaikovsky ou um instrumental estilo Pat Metheny e ela não consegue. Não há base de dados suficiente. Pop e R&B são fáceis de replicar, mas música criativa não. Humanos são imprevisíveis, e isso a máquina não entende. A IA é útil, mas deve ser tratada como ferramenta, não substituto. E precisa ser regulamentada, é uma bomba-relógio se cair em mãos erradas.
Eu amo o The Who, então preciso perguntar: qual foi o momento mais intenso ou inesperado com a banda?
Houve vários. No início da turnê de 1989, o Pete Townshend estava comportado, tocando tudo direitinho. Acho que foi no terceiro show que vi algo vermelho voando atrás da bateria. Ele havia quebrado a primeira guitarra da turnê.
Outro momento foi com Roger Daltrey. Ele girava o microfone e, um dia, o cabo soltou. O microfone saiu voando e desapareceu. Nós dois olhamos sem saber onde ele tinha ido parar, fiquei tocando bateria com a cabeça abaixada, com medo de cair em mim. No dia seguinte, o microfone já estava preso com fita e não havia mais chance de isso acontecer. Foi uma turnê maravilhosa. Tocamos para 70 mil pessoas em Boston, quatro noites no Giants Stadium e duas no Coliseu de Los Angeles. Maravilhoso.