Já se passaram quase 30 anos desde o último disco de estúdio do The Psychedelic Furs. Depois de World Outside (1991), a banda inglesa alternou o seu tempo com turnês de reunião, lançamentos de coletânea, enquanto o vocalista, Richard Butler, passou a se dedicar ainda mais para o seu trabalho como artista plástico.
Made of Rain, programado para 31 de julho, vem para quebrar esse longo intervalo. As primeiras prévias já foram reveladas e mostram que o DNA pós-punk e psicodélico segue intacto.
Butler conversou com o Blog n’ Roll sobre essa nova fase da banda, o que motivou o retorno, Stranger Things, Brexit, Brasil, além do isolamento social.
O que motivou a banda a voltar para o estúdio?
Foi um sentimento de que era a hora certa para isso. E nós queríamos isso também. As pessoas sempre pediam para que gravássemos novos álbuns, mas há alguns anos minha respostas era: ‘por que?’ Acho que para se fazer um álbum, você tem que sentir que é o momento e a necessidade de fazer um.
Às vezes isso leva tempo, e precisa acontecer em um momento em que a banda esteja forte para tocar até o limite e estar motivada para ter ideias e lançar algo realmente bom. Fazer um álbum sem esses quesitos não seria algo que consideraríamos um bom disco. Gravar sem inspiração e sem vontade poderia ser um desastre.
O que mudou para o The Psychedelic Furs nesses quase 30 anos?
Muitos cabelos brancos (risos). Mas, falando da banda, nós estamos tocando ainda melhor e nosso público tem crescido constantemente nos últimos anos, o que é algo inspirador e maravilhoso.
Os primeiros singles de Made of Rain trazem novos elementos na sonoridade, mas não deixa de ser leal ao que vocês sempre produziram. Vocês pensaram nisso?
Na verdade, não pensamos muito nisso (manter o estilo). Esse álbum foi feito por uma banda que faz músicas psicodélicas há muitos anos. Então, o estilo do som que a gente queria já era muito claro para todos.
As pessoas sempre trazem novas ideias, mas não tínhamos a ideia de fazer o álbum soar diferentemente do que fizemos de fato. A ideia original era fazer algo orgânico e bem feito. E foi o que fizemos.
Como foi o processo de gravação do novo álbum do The Psychedelic Furs?
Foi ótimo, do jeito que tem que ser. Todos tiveram uma contribuição muito grande no processo. Eu recebia a música e criava melodias e letras para cada trabalho. Então, fomos ao estúdio de ensaio e trabalhamos os arranjos antecipadamente para não chegar no estúdio de gravação e perder tempo com isso. Além disso, tivemos duas sessões de uma semana cada para gravar e ajustar todos os detalhes.
O que você tem escutado ultimamente? Algum artista novo chama a atenção?
Na verdade, não (risos). Minha filha sempre me manda músicas de novos artistas. Eu tento ouvir, mas depende muito do momento. Gosto da Billie Eilish, assim como o resto do mundo, aparentemente (risos). Além dela, não acompanho muitos outros artistas novos.
Tem uma banda chamada The Avalanches, que tem um som eletrônico bem bacana, mas acho que isso é o mais moderno. Eu gosto mais de acordar de manhã e ouvir Miles Davis para começar o dia (risos).

Como vocês estão lidando com o isolamento social?
Acho que estou lidando assim como a maioria das pessoas: isolamento social, sem ver amigos, sem sair, fazendo meus próprios drinques, sem restaurantes. Gosto de ficar andando pelo jardim por algumas horas, e me manter ocupado com música e pintura.
Qual das artes está mais presente nesse dia a dia?
Eu acho que estou pintando mais. Ambos são muito mais que um hobby para mim e ambos têm uma valor igual.
Você acredita que o Brexit possa sofrer alguma alteração num mundo pós pandemia?
Não faço a mínima ideia. Não acho que vai ser tão desastroso como a maioria acredita que será.
Recentemente, a série Stranger Things (Netflix) colocou The Ghost in You na trilha sonora. Você acompanhou a repercussão?
Eu não estou muito conectado com o streaming, mas minha filha sempre me fala sobre. Fiquei sabendo que algumas canções ganharam atenção, o que é perfeito, porque é uma nova forma de divulgar música.
Você não assistiu a série?
Não vejo muita televisão, só notícias (risos).
Em um mundo otimista, no qual os shows voltarão rapidamente ao normal, vocês pretendem visitar o Brasil para divulgar Made of Rain?
Certamente. Já fizemos shows no Peru, na Argentina, mas acho que no Brasil não. Adoraria fazer apresentações por aí, e com certeza passaremos pelo Brasil em breve.
Conhece algo da música brasileira?
Quem é o cara que canta Garota de Ipanema? Ele é brasileiro, não é? Acho que conheço só um pouco (risos).
*Texto e entrevista por Lucas Krempel e Caíque Stiva