Entrevista | Preoccupations – “Estamos vivendo em estúdios por quase toda vida”

Recentemente, a banda de pós-punk canadense Preoccupations lançou o quarto álbum de estúdio, Arrangements. O Blog n’ Roll conversou com o vocalista, Matthew Flegel, sobre a produção do disco, pandemia, política e possibilidade de vir ao Brasil. Qual foi o impacto da pandemia na gravação desse álbum? Definitivamente foi um balde de água fria. Nós gravamos a maioria do álbum no final de 2019, então tínhamos todos os instrumentais meio que feitos já. O que foi uma sorte, pois não acho que iríamos conseguir fazer um disco gravando remotamente. Acho que esse álbum soa como uma banda em um estúdio, não soa como algo desencaixado, e acho que não conseguiríamos fazer isso caso já não tivéssemos gravado grande parte das músicas. Mas tínhamos ainda que voltar para nosso estúdio em Montreal e gravar todas as vozes e os overdubs, preencher todos os espaços, e a pandemia veio, então tive que finalizar tudo, basicamente, por conta própria, em um porão no Brooklyn. E você conseguiu enxergar alguma vantagem com essa barreira? Acho que a única vantagem é o tempo infinito, sem limite de tempo, pois, literalmente, não há nada mais para se fazer, nada acontecendo. Estava tão entediado, já tinha assistido todo programa de televisão que já existiu. Ficar hiper entediado ajuda com o foco, mas ter muito tempo às vezes é algo ruim. Às vezes pensamos em algo além do necessário, sendo que no passado eu concluiria e não pensaria nunca mais naquilo, é o que é. Acho que há um meio termo feliz entre esses dois extremos. Vocês consideram o TikTok um bom meio para expandir o trabalho de vocês? Sendo breve, acho que não. Não acho que somos uma banda de mídias sociais. Estamos engajando com o público no Instagram e no Twitter um pouco, mas não fazemos algo mais incisivo nesse quesito. Tentamos começar no TikTok alguns meses atrás, mas acho que não somos pessoas do TikTok. Acho que funciona para muitas bandas, acho ótimo para bandas novas. Mas neste ponto, pessoalmente, não falo por outros membros da banda, estou muito velho pra isso. E pra dar um contexto a essa resposta, eu ainda aprecio equipamentos analógicos, ainda gravo em fita, ainda escuto vinil. Eu tinha Spotify, e estava assinando uma petição que dizia: foda-se o Spotify. Provavelmente deveria deletar minha conta se assinar uma petição. Troquei para o Apple Music, e uso de vez em quando quando dirijo, é legal, é incrível ter toda música que já existiu basicamente no meu bolso. E se você quer saber algo sobre essa canção, você pode pesquisar e ver quem gravou. A quantidade de informações é insana, é demais, às vezes. Gravar no próprio estúdio representou mais liberdade para vocês? Foi rápido, sinceramente. Nós, no passado, passávamos vários meses tentando finalizar um disco. Não podendo fazer as coisas que queríamos por conta própria, tínhamos que contratar outro estúdio ou outro engenheiro de som. E esse foi o primeiro álbum que fizemos em nosso próprio estúdio, que basicamente construímos do nada. Colocamos muito dinheiro, sabe, no final da turnê, nós fomos comprar um compressor legal, um microfone de US$ 5 mil, realmente investido. Então, no momento de gravação, o processo foi bem rápido, para o esqueleto dele pelo menos. Como disse, os vocais vieram depois, mas quando estivemos juntos, aconteceu de maneira tranquila, o que é surpreendente. Mas acho que ficamos mais confortáveis com nossos equipamentos, e como tirar certos sons deles. Estamos vivendo em estúdios por quase toda nossa vida adulta, e nesse ponto já sei onde encaixar o bumbo da bateria no melhor lugar. Você acredita que aumentou a intolerância entre as pessoas após a pandemia? Há uma grande lista de coisas. Muitas não me afetam pessoalmente, mas você vê muitas pessoas tendo seus direitos retirados, pessoas que basicamente vivem em determinada parte da sociedade e não conseguem sair dela, e não há jeito de sair dela. Tem vários tipos de coisas, uma pandemia global que dividiu, quer dizer, não moro nos EUA já faz cinco anos. Canadá não está tão mal nesse quesito, mas os EUA estão divididos: ou você está no extremo de um lado ou no extremo de outro. É muito peculiar, você pensa que seria mais fácil das pessoas se conectarem devido aos problemas, mas eles acabaram separando elas mais ainda. E isso é muito sobre você só ouvir o que quer escutar. O Facebook vai ter mostrar algo desse lado e, se você gostar, vai receber apenas informações desse lado. Você não tem acesso a coisas do outro lado, pois não aparecerão na sua tela. É um desperdício pois acho que poderia ser usado para o bem, mas não funciona desse jeito. A política acaba sendo um grande problema nesse sentido? Li um pouco sobre a política daí, e o Brasil está muito parecido, uma extrema direita maluca com uma vibe ditatorial. Novamente, não afeta meu cotidiano, acordo de manhã e posso fazer minhas compras e comer, posso sair no final de semana, é mais sobre o que acontece com outras pessoas. É brutal, mas tive sorte de ser um garoto branco classe média do Canadá. E é só sorte, acho, mas é insano pensar que se você nasce em determinado lugar ou determinada posição da sociedade é difícil sair de lá, e as pessoas te verem de maneira diferente é muito duro. Arrangements é uma boa indicação para o atual momento? Acho que esse álbum pode servir nesse momento de sentar no sofá, fumando um cigarro e tomando uma cerveja, mas também pode servir na hora dirigir em uma estrada. Acho que tem algumas músicas de raiva, de punho cerrados, mas no geral estou feliz de alguém ouvir qualquer música e sentir algo, seja o que quiser sentir. Não fiz para sentir nada específico, mas gosto do fato de você ter se sentido relaxado enquanto fumava um cigarro, me faz feliz. Pretendem excursionar pelo mundo para divulgar o novo álbum? Temos uma grande turnê em novembro na América do Norte, e

Bastille faz show animado em São Paulo com direito a pedido de casamento e “grito” pela Amazônia

De volta ao Brasil após sete anos, a banda britânica Bastille entregou aos fãs um show animado na noite da última sexta-feira (9), no Tokyo Marine Hall, em São Paulo. Embalada na turnê do álbum Give Me The Future, lançado em fevereiro deste ano, a banda se aproveitou da temática futurística do disco para fazer seu show voltado à crítica ao escapismo da realidade que a tecnologia causa atualmente. Com uma história contada no telão após cada sequência de músicas, o público (só os que entendiam inglês, pois não houve tradução na tela) pôde acompanhar uma empresa futurística fictícia, e a forma como ela proporciona a fuga da realidade para o mundo virtual, como se fosse um metaverso. A crítica se estendeu até o final do show, e terminou com o “cancelamento” da empresa. Mas esse foi apenas um dos detalhes que tornou o show do Bastille interessante. Musicalmente, a banda contou com uma boa variação entre seus quatro álbuns de estúdio e alguns de seus principais singles com outros artistas. Para abrir a apresentação e já sentir o clima em São Paulo, o grupo emendou quatro músicas animadas: Stay Awake e Distorted Lights Beam, do último álbum, e as conhecidas Things We Lost In The Fire e Laura Palmer, do disco All This Bad Blood, de 2013. Em seguida, o vocalista Dan Smith deitou em um divã, que permaneceu no palco durante toda a apresentação, e ouviu mais um recado da empresa fictícia antes de iniciar uma sequência um pouco mais lenta. Apesar da quebra de ritmo, os fãs não deixaram de cantar com empolgação até mesmo Those Nights e Quarter Past Midnight, que deram um ar mais intimista ao ambiente. Foi durante essas músicas, inclusive, que uma cantora convidada pelo grupo roubou a cena. Lamentavelmente, o vocalista não a apresentou ao público, assim como não apresentou os demais membros da banda e nem mesmo se apresentou durante a apresentação. Porém, se trata de Bim Amoako, ou só BIM, cantora britânica responsável por coordenar o coral do casamento real de Principe Harry com Meghan Markle, em 2018. Convidada pela banda para a turnê, BIM roubou a cena em alguns momentos, mostrando muita qualidade vocal e agregando bastante ao longo da noite. Após o ritmo ficar um pouco mais lento, a banda passou a variar entre músicas mais dançantes e mais melódicas até chegar no momento do acústico, onde o grupo apresentou Flaws, um trecho de Laughter Lines e em seguida emendou com a triste No Bad Days, que curiosamente fala sobre eutanásia. Um outro detalhe interessante que chamou atenção durante o show foi a constante comunicação por sinais que o vocalista Dan Smith fazia com alguém do backstage. O artista parecia incomodado com o volume, mas não foi claro se era o do microfone ou o de seu retorno. Os gestos duraram até a última música, mas não foi algo que pareceu deixar o cantor irritado ao longo da apresentação. Muito pelo contrário. Simpático e carismático, Dan Smith interagiu com os fãs, pegou bandeiras e cartas, arriscou frases em português e ainda permitiu que um pedido de casamento fosse feito no palco. Além disso, ele ainda fez um serviço de achados e perdidos para sua produção quando alguém perdeu um equipamento de comunicação, oferecendo baquetas e uma champanhe para quem achasse, mas até o fim do show ninguém apareceu com o objeto. Voltando à apresentação, após o momento acústico, foi a hora da música eletrônica ganhar espaço, com a aclamada Happier, em parceria com o DJ Marshmello, e Run Into Trouble, feita com o brasileiro Alok. Assim, com o público novamente aquecido, foi a vez de emendar Of The Night que é um mashup dos hits noventistas europeus The Rhythm of the Night e Rhythm Is a Dancer, e a agitada Shut Off The Lights. Em seguida, o grupo deixou o palco e voltou para o bis com Hope for the Future, música que fala sobre a crise climática e os problemas que o mundo pode sofrer. Foi nesse momento em que Dan Smith passou a falar da importância do meio ambiente e recomendou que os fãs procurassem os representantes do Greenpeace que estavam no show para saberem como ajudar. Durante o discurso, o baterista Chris Wood ergueu uma faixa com a frase “Salve a Amazônia” escrita. Muito aplaudida pelo público após o discurso, foi hora da banda encerrar o show com a mais esperada da noite. Após uma introdução mais lenta, que contou com trechos de Oblivion e Million Pieces, o Bastille fez todo mundo sair do chão com Pompeii, seu maior hit. Com um show de luzes e do público, o grupo finalizou em ótimo astral sua segunda passagem por São Paulo – a primeira havia sido em 2015, no Lollapalooza. O próximo show da banda no Brasil acontece neste sábado (10), no Rock ir Rio. Em seguida, a banda faz uma pausa nas apresentações e retorna aos palcos em novembro, para tocar na Europa.

Entrevista | Matisyahu – “Fizemos um ótimo álbum, eu acho, e dois bebês”

O cantor nova-iorquino Matisyahu lançou, recentemente, o sétimo e homônimo álbum de estúdio. O disco traz muito da constante evolução sonora de Matisyahu, que quase nada lembra o do início da carreira, quando estourou com os singles King Without a Crown e Youth. Repleto de influências musicais novas e alimentado por uma redefinição dos próprios limites artísticos, Matisyahu fez do disco o retrato de um criador que está eternamente em busca de si mesmo e extrai inspirações de suas raízes, de sua adolescência, fama, busca espiritual, transformações e, ao mesmo tempo, de sua família. Matisyahu conversou com o Blog n’ Roll sobre a nova fase da carreira, pandemia, filhos, Brasil e o atual momento político dos EUA. Confira abaixo. Como foi o processo de criação do novo álbum? Foi incrível, eu passei anos gravando com diferentes pessoas, o que também é um processo divertido, mas quando se acha o som certo, o momento certo, em que se sente autêntico, e correto, e as pessoas com quem trabalha são incríveis, e isso tudo em um contexto de covid, estando em casa, se criou um ambiente para a criação de um lindo álbum. O quão impactou a pandemia nesse processo do álbum Matisyahu? Me impactou com certeza, no sentido de que passei muito tempo fazendo turnês e trabalhando duro para estar na estrada. E essa foi a primeira vez que tive a oportunidade de passar um tempo em casa, em 15 ou 20 anos. A minha sorte foi que conheci minha alma gêmea, minha esposa, um pouco antes da pandemia. Nós estamos vivendo juntos, e temos feito turnês juntos há alguns anos, e tivemos esse tempo para apenas ficar em casa. Então tentamos aproveitar o máximo, fizemos um ótimo álbum, eu acho, e dois bebês. A paternidade influenciou nesse trabalho? Você se sentiu impactado na hora de compor e gravar? Completamente, pessoas já me perguntaram isso antes, pois eu tenho um filho de 17 anos, me tornei pai já faz um tempo. Mas esse álbum me deu a oportunidade, como disse, devido ao covid, de estar em casa e de estar por dentro, verdadeiramente, do dia a dia dos meus filhos mais velhos e mais novos, e também da minha esposa. Também posso dizer que houve um impacto nas letras e na vibe. Foram cinco anos sem um álbum novo. A pandemia contribuiu para essa demora? Não sei se tem muito a ver com o covid, na verdade. Acho que é mais eu querendo lançar a coisa certa. É fácil lançar música, é fácil escrever alguns versos sobre uma batida e soltar. Não sei mais por quanto tempo veremos álbuns grandes sendo lançados, e com esse álbum quis fazer o todo, o álbum completo, e isso afetou com certeza. Como surgiu essa parceria com o duo Salt Cathedral, formado por Juliana Ronderos e Nicolas Losada, que produziu o seu novo álbum? A parceria começou em 2016, nos encontramos online, trabalhando em algumas músicas que lancei antes. Então quando o covid veio estava tentando ver com quem poderia trabalhar e estava vendo entre os diferentes produtores com quem trabalhei, quem eu poderia ligar, quem viria até em casa, e foram eles quem liguei. Aliás, desde o primeiro minuto que começamos a trabalhar, ficou claro que nossos gostos musicais estavam alinhados. E quando se trabalha com produtores, você quer alguém que tenha essa compatibilidade contigo, não quer ter que explicar determinadas coisas. Em Mama Please Don’t Worry, você convocou Michael Garcia para a direção, que tem várias produções marcantes no currículo. Sim, queria para esse clipe o mesmo diretor com quem trabalhei no vídeo de Sunshine, então trabalhamos com sua produtora, mas com um novo diretor. E quando estávamos escrevendo o roteiro, pensei em fazer algo autobiográfico, pois tudo é sobre música. Mas quando você requisita roteiros a diretores muitas vezes retornam ideias que não se relacionam com a sua história, e a música e o álbum são coisas muito autobiográficas. Queria ter algum impacto nisso, então escrevemos um roteiro que era mais sobre a minha experiência, não exatamente ela, mas um pouco dela. Suas canções funcionam como terapia? Sobre o que procurou cantar no novo álbum? Sim, de alguma forma. Às vezes decido por uma direção ou outra, ou expresso algo da minha vida que é mais obscuro, mais doloroso. Mas com esse álbum consegui expressar um verdadeiro prazer, o tempo com a minha familia, tempo em casa, a minha habilidade de processar alguma das experiências que tive ao longo disso. Tive um pouco de espaço para respirar, escrever, criar, me apaixonar, casar, todas essas coisas que criam um sentimento como se eu não pudesse nunca mais me aborrecer. A música é inspirada por reggae, inspirada na música que me trouxe até aqui, e há abertura para letras, para a composição emergir, e é o que as pessoas estão procurando, letras, uma ideia, que as permitirá seguir em frente, e eu acho que alcancei isso. Am_rica traz uma reflexão sobre o atual momento dos EUA, mas de forma bem particular. Queria que você falasse mais sobre essa música. Acho que quando se trata de política, principalmente nos EUA, o importante para mim não é tomar lado, mas colocar minha reação emocional sobre o que está acontecendo ao meu redor. Em resumo, isso será associado a uma ideia, e as ideias são ideias que aprendi ao longo da minha vida, e passei um grande tempo estudando ideias judaicas. Uma das ideias que me lembro aparecendo era esta chamada Am_rica, que significa nação vazia, o que desperta diversas interpretações, mas levando a minha interpretação, acredito que estou vivendo em um país onde há tantas versões do que está acontecendo, diferentes experiências para diferentes pessoas. Então tudo que posso escrever é sobre minha experiência, e minha ideia para Am_rica não é dizer que os EUA é uma nação vazia, como estou dizendo, há um aspecto disso que é existente no nosso país. Um país que é baseado em liberdade, liberdade de religião, mas ao mesmo

Entrevista | Gentle Savage – “Se precisar de banda para o seu casamento, chame os meninos aqui”

A banda finlandesa de hard rock Gentle Savage lançou recentemente seu álbum de estreia Midnight Waylay. O carismático vocalista Tornado Bearstone conversou com o Blog n’ Roll sobre a produção, influências e adaptações ao mundo online na pandemia. “Como conceito, o álbum Midnight Waylay é melhor apreciado quando servido inteiro, mas cada música tem seu próprio caráter e funciona bem de forma independente. Encontre sua própria aventura, se joga!”. A pandemia atrapalhou muito os planos do Gentle Savage de divulgar o primeiro álbum? O momento não foi o melhor, como todos nós sabemos, devido a pandemia, mas estamos contentes com o álbum e com as pessoas que nos financiaram e essa é a única coisa que importa, sabe? Compor sabendo que está tudo lá pronto, só esperando para tocar nos shows, é uma boa situação. Estamos muito contentes com o álbum, e com o modo que estabelecemos nossa história melhor do que antes, o Midnight Waylay possui todos os elementos que compõem o Gentle Savage. Estamos muito gratos que você reservou um tempo para conversar comigo, pois é tão difícil ser ouvido. Há muitas bandas mundo afora que não conseguem shows, e o que é isso? Uma banda de internet, e isso não é muito rock ‘n’ roll. Vocês trazem muitas influências de hard rock dos anos 1970, mas conseguem apresentar isso de forma original sem parecer uma cópia de alguém. Queria que você falasse mais sobre essa criação. Existem muitos artistas e bandas seguindo um caminho oposto, eles colocam muita maquiagem, correntes, couro e cospem sangue, e eu não queria fazer o mesmo que todos, pois não somos esse tipo de banda, honestamente. Eu quero mostrar a natureza finlandesa, pois não são todos os países que preservaram suas florestas na Europa, eles cortaram árvores. E também, nós viemos de uma área rural, sou natural de uma grande cidade, Viena, na Áustria, mas vivi aqui na natureza. Então pensei, vamos seguir este caminho, caminhando e tendo ideias para aplicar, não tentando mostrar o lado duro, guerreiro, que poderia se quisesse, mas buscando um lado mais natural e gentil. Não sei se foi uma boa ou má ideia, mas foi como decidi fazer. Na verdade, tiveram alguns comentários engraçados de um cara do Texas, ele disse: “Meu Deus, isso é tão lindo, eu só tenho ossos e poeira no meu quintal”. Então isso gera reações. Como foi o processo de criação desse álbum? Ficou trancado no estúdio ou procurou algum lugar para se inspirar? No telhado, bem, primeiramente, na Finlândia pode chegar a 35 ou 40 graus negativos no inverno, então não é um bom lugar para meditar no inverno, mas no verão é muito bom, pois a temperatura chega a 35°C. A ideia para mim é ir para um lugar alto, pois você pensa diferente em lugares altos, pode tentar se não acredita em mim, se você descer até uma caverna, você pensará diferente do que se fosse em um lugar alto, essa é uma razão. Outra razão é que eu medito três vezes por dia, e o telhado é um dos meus lugares favoritos, pois consigo enxergar longas distâncias, gosto de observar o horizonte, relaxa a minha vista. É meu lugar preferido, mas também medito em outros lugares, mas lá já é um lugar certo para isso. E isso me dá energia para viver, meditação não é algo como “eu vou me encontrar, e virar Buda” para mim, é mais importante do que escovar os dentes, me dá energia para fazer as coisas que preciso fazer, me deixa concentrado, meu cérebro trabalha melhor. Isso é uma coisa que tem a ver com música, às vezes as ideias não vêm durante a meditação, mas logo após, e também na solução de problemas acontece assim. Considera o Gentle Savage uma banda mutável e com muitas cartas na manga por causa da variedade do álbum? Sim, exatamente, vou pegar essa emprestada. Quero que a banda mantenha uma dinâmica natural e orgânica, e a musicalidade flua com a maior frequência possível, pois é ela que permite realizar as coisas que você mencionou, pois sem ela é apenas “tocar”. Você pode fazer grandes coisas, mas sem a musicalidade, e uma noção completa do que está acontecendo não é possível. Nós podemos fazer qualquer coisa, honestamente, nós temos um vídeo no nosso canal do Youtube chamado Jamming with Santa, e nós tocamos algumas músicas típicas natalinas. Nós colocamos uma fantasia de Papai Noel em nosso baterista, o tecladista me perguntou: Em que tom estamos? E eu respondi não tô nem aí, só toca alguma coisa. E gravamos em um único take, pode conferir. Isso é o que podemos fazer, e se estiver precisando de banda para o seu casamento, pode chamar os meninos aqui, e eles tocarão. O álbum do Gentle Savage traz várias histórias. Qual é a importância desse formato storyteller nas composições? Não posso cantar uma música sem uma história, é impossível. É como fazer ser sem ter uma ereção, não é real. Claro que se pode fazer um anúncio, usando jingles de propaganda, mas é diferente quando você escreve sua própria música, é necessário ter uma história. Você não acreditaria o quanto às vezes preciso ensaiar uma frase milhares de vezes, para acontecer um click e gerar uma conexão com a história. E às vezes é caso de mudar apenas uma ou duas palavras de lugar para as coisas começarem a funcionar. A história deve ter conteúdo e geralmente nas minhas letras elas são bem óbvias superficialmente, mas há algo honrado que não contarei a ninguém, você pode captar, achar ou não, pois são diferentes tipos de pessoas escutando. E não quero algo semelhante a aquele velho cartoon, que não faz ninguém rir, onde há uma pessoa apontando para um pássaro, e dizendo “o passáro”, então ele está dizendo algo bem óbvio e tornando mais óbvio apontando para ele, e eu não faço isso. Apenas alguns dias atrás uma fã americana me escreveu que ela gosta das nossas letras pois algumas

Entrevista | Reggae Angels – “Espero que sirva de orientação e dê esperança para as pessoas”

Artistas internacionais de reggae sempre tiveram grande aceitação no Brasil. Por esse motivo é surpreendente que a banda californiana Reggae Angels, com 30 anos de carreira e 15 álbuns lançados, não tenha pintado por aqui até hoje. Mas a estreia no Brasil está praticamente confirmada para 2022. Recentemente, a Reggae Angels lançou o álbum Remember Our Creator em colaboração com os excepcionais músicos Sly & Robbie. Para quem não é familiar com o nome deles, esse prolífico duo musical jamaicano já trabalhou com ninguém menos que Madonna, Bob Dylan, The Rolling Stones, Gilberto Gil, dentre tantos outros. Muito religioso, o vocalista e líder do Reggae Angels, Peter “Fenton” Wardle, que conversou com o Blog n’ Roll via Zoom, espera que a mensagem do novo álbum se espalhe. Principalmente pelo momento que o mundo vive. “Que a mensagem seja ouvida por pessoas de todo o mundo. Espero que o álbum sirva de orientação e dê esperança para as pessoas. Só espero que a música, as melodias e principalmente as letras tenham um impacto positivo em muitas pessoas”. Questionado sobre qual é a mensagem principal do disco, Wardle reforçou sua religiosidade. Durante os 15 minutos de conversa, ele destacou o tempo todo a importância de Deus em nossas vidas. “O nome Remember Our Creator nos lembra de estar sempre com Deus em mente e de sempre viver sabendo que Deus está nos observando e vendo como vivemos. Assim vive a humanidade, sabendo que é o único criador que deu a nós toda a nossa existência, nossas mentes, nossos corpos físicos e todas as nossas características. É isso que nos faz sermos iguais. Esse álbum tem um significado enorme e me lembra a todo tempo do meu propósito como um servo de Deus”. Sem correria para gravar Sobre a produção de Remember Our Creator, Wardle conta que tudo foi feito sem pressa. Em resumo, a ideia era entregar algo orgânico e sem correria de gravadora, por exemplo. “Não tive pressa nenhuma fazendo esse álbum. Foi tudo feio no tempo que deveria ser feito. A banda não esteve junta, então foi uma experiência nova, mas foi importante. Consegui me conectar com o trabalho e transmitir a mensagem com clareza”. O álbum Remember our Creator é o terceiro projeto seguido do Reggae Angels gravado pelo mesmo time de músicos, que inclui além de Sly e Robbie, os músicos Dwight Pinkney, Patrick Murray, Franklin Waul, Dean Fraser e Nambo Robinson, renomados na Jamaica e no mundo. “Este é o álbum mais forte, mais significativo e mais musical até hoje. Emocionalmente, o álbum me faz lembrar de Deus e qual o meu propósito sendo um servo dele. Isso me faz sentir uma consciência divina e me deixa feliz ao ouvir as mensagens através de melodias e canções”, explica Fenton. Wardle também falou sobre a demora para visitar o Brasil. Disse que tudo acontece no momento certo, sem pressão de ninguém. “Não senti que era a hora de ir para a América do Sul. Deus tem seu tempo para tudo, e acredito que logo será o momento certo de visitar não só o Brasil, mas outros países também”.