O maestro João Carlos Martins viverá, hoje, no Citibank Hall, em São Paulo, um momento crucial e emocionante em sua trajetória artística. Após enfrentar a 23a cirurgia para tentar recuperar os movimentos das suas mãos, ele já decretou que o concerto com Arthur Moreira Lima será a última tentativa de tocar piano ou ficará apenas como regente.
“Expectativa está alta, torcendo para o melhor. Mas só vou conseguir ter uma ideia melhor depois da apresentação, no decorrer dos dias. Mas estou me preparando para os diferentes cenários (continuar ou não)”, comentou o maestro em entrevista, por e-mail, para o Blog n’ Roll.
Desafios não faltam na carreira de João Carlos Martins. Aos 76 anos, ele parece acostumado a derrubar os obstáculos. A própria entrevista para o Blog n’ Roll foi concedida três dias após ter alta do Hospital Sírio-Libanês, na Capital, onde estava internado para tratar de uma embolia pulmonar.
A escolha por responder os questionamentos por e-mail, inclusive, está relacionada a isso. Segundo a assessoria de imprensa da Fundação Bachiana, o maestro estava correndo contra o tempo após esse impedimento e responderia nos intervalos dos ensaios.
“Estou seguindo o que os médicos me passaram, a recuperação está boa, cada dia melhor. Em relação à saúde estou 100%seguro, mas bastante ansioso para este concerto”.
A companhia para esse momento tão esperado não poderia ser melhor. Nos anos 1980, Arthur Moreira Lima se apresentou ao lado de Martins, tocando Bach e Chopin, tal como no concerto de hoje.
“Foi um grande sucesso na época, inclusive fora do País. O Arthur é um grande amigo e fazer estes concertos é sempre um prazer, me traz muitas memórias boas. Conversamos sempre que possível, passamos algumas coisas da apresentação. Brinco com ele que ele vai liderar o concerto e eu vou acompanhar”.
E mesmo que esteja diante de um grande desafio pessoal, o maestro não deixa de seguir com as suas atividades paralelas, muito menos de prestar a atenção em assuntos do nosso cotidiano. Responsável por um projeto bem-sucedido na Fundação Casa, onde promove a recuperação de jovens por meio da Cultura, Martins comentou a situação caótica dos presídios.
“A cultura sempre será um caminho a ser explorado na recuperação das pessoas. Ela dá um sentido, estende a mão. Mas a situação dos presídios é mais profunda. Mas com certeza não há limite de idade (dos presos)”.
E a veia social do maestro vai mais além. Um dos seus planos mais ambiciosos para este ano é o projeto Orquestrando São Paulo, em que promove aulas semanais à distância e encontros presenciais com maestros de capelas de cidades do Interior.
“Este ano já inicio os trabalhos. Viajando vários dias do ano para implantar orquestras em cidades com até 35, 40 mil habitantes. Neste primeiro momento, o foco será nas cidades do Interior, mas a ideia é expandir cada vez mais para alcançar todo o Brasil”, comentou, sem descartar uma versão na Baixada Santista, em outro momento.
A temporada de Martins prevê, ainda, outro momento especial para o maestro: a sua primeira cinebiografia, prevista para estrear em maio.
“O processo de produção foi muito bem conduzido por toda a equipe, atores, pela Paula Barreto, pelo Mauro Lima. Eu acompanhei, mas eles tiveram total liberdade nas decisões, apenas ajudei um pouco. É um retrato muito bem feito, estou aguardando o lançamento com ansiedade”.