Entrevista | Mute – “A banda não paga nossos aluguéis”

Entrevista | Mute – “A banda não paga nossos aluguéis”

Jean-Philippe Lamonde, Étienne Dionne, Alexis Trépanier e Matt Kapuszczak não são novatos quando o assunto é Brasil. Seus passaportes já foram carimbados algumas vezes em nossa imigração em seus quase 20 anos de estrada com o Mute.

Em fevereiro, os canadenses estarão mais uma vez em solo brasileiro para uma turnê rápida pela América do Sul, ao lado dos americanos do No Trigger. Trépanier, guitarrista do Mute, conversou com o Blog N’ Roll sobre as expectativas da banda pelos shows brasileiros, últimos discos, evolução musical e a carreira.

Ao longo de sua carreira, o Mute nunca deixou de lado duas características ímpares de sua música: os riffs rápidos do skate punk e sua visão DIY (faça você mesmo) acerca do próprio trabalho. Desde o início, os músicos se envolvem nos processos de criação, gravação, arte, clipes, entre outros, imprimindo sua marca pessoal. No ano passado, a banda lançou um mini documentário que mostrava, em cinco episódios, as etapas da produção de seu último disco, Remember Death.

Este último trabalho, lançado em 2016, dá nome à turnê que passará pela América do Sul. Em São Paulo, a apresentação acontecerá na Jai Club, dia 4, e contará com a abertura dos convidados da 69 Enfermos.

A tour também passará pelas cidades de Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba, no Brasil, além das capitais da Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Costa Rica. Confira o serviço completo do show na capital paulista no final da entrevista.

Oi, Alexis! Tudo bem? Vocês estão animados para vir mais uma vez ao Brasil? Vocês têm boas memórias de suas últimas apresentações por aqui?

Oi, eu estou bem! Obrigado. É claro que estamos animados. Quem não estaria? Nós temos tantas memórias boas do Brasil durantes esses anos…

Você consegue explicar o forte laço que a Mute tem com as plateias brasileiras e latinas em geral? De acordo com as estatísticas do Spotify, os fãs brasileiros são a segunda maior platéia que vocês têm, atrás apenas do Chile.

Eu realmente não sei como explicar esse laço… nós temos um apoio tão grande da América Latina como um todo, isso bagunça nossa cabeça só de pensar no por que disso. Toda vez que vamos aí, somos surpreendidos pelo quão apaixonados os fãs são. Definitivamente, nós podemos dizer que a América Latina, em particular o Brasil, tem um espaço especial em nossos corações!

Como vocês veem a evolução musical da banda nessas últimas duas décadas? Suas referências musicais mudaram ao longo do tempo?

Basicamente, existem dois períodos na história da banda: antes e depois do The Raven (2008). Logo após lançarmos nosso primeiro disco de estúdio, Sleepers, em 2004, eu sabia que poderíamos fazer muito melhor e foi nessa época que os verdadeiros alicerces do nosso atual som foram construídos. Eu acredito a composição das músicas ficou muito melhor.

Nós prestamos muito mais atenção a todos os aspectos da composição das músicas, seja nos arranjos musicais, voz, letras, back vocals, e até detalhes que parecem triviais, como conseguir um tempo único para cada música ao invés de uma mesma velocidade para todas.

E claro, algumas influências musicais mudaram durante este tempo, as pessoas também mudam. Ninguém na banda é a mesma pessoa que era em 2001 ou 1998 e tudo isso tem um impacto no som que fazemos.

Os cinco episódios do mini documentário Making Remember Death foram importantes para que nós entendêssemos todo o processo de gravação do disco e todo o trabalho que vocês empenharam na arte, letras e a ideia por trás disso. Por que vocês decidiram documentar esse trabalho pela primeira vez?

A ideia não veio exatamente de um pedido dos fãs. Na verdade, nós a tivemos antes de gravar nosso álbum anterior, Thunderblast. Nós também fizemos alguns episódios das nossas experiências no estúdio. As pessoas pareceram gostar disso, então decidimos fazer outra vez. Nós pensamos nos tipos de coisas que gostaríamos de saber sobre o making of dos nossos discos favoritos e tentamos colocar isso em nossos vídeos.

Nós queríamos colocar coisas, detalhes que as pessoas não aprenderiam em nenhum outro lugar. É isso que eu gosto de ver quando assisto um blog de estúdio: me diga algo que eu ainda não saiba! Há algo nos videos para todo mundo, seja para o fã casual ou para aqueles mega fãs que acham que sabem tudo sobre a banda.

Não tenho certeza se há um detalhe especial para ser destacado, mas direi que essa web série realmente dá uma ideia da quantidade de trabalho que dedicamos ao Remember Death. 

Lembro de assistir ao último episódio do Making Remember Death, que fala sobre a música Walking On A Thin Line. Jean-Phillipe dizia que a música tratava sobre o esforço de tentar equilibrar a música com a vida pessoal durante os anos. Eu gostaria de fazer para você a mesma pergunta que ele fez para si mesmo: o quão longe pode ir esse estilo de vida? Vocês alcançaram esse equilíbrio?

Alcançar o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida com a banda é mais um processo contínuo e persistente do que um destino definido. Na vida, as situações evoluem com o tempo e podem apresentar desafios, mesmo depois de tantos anos. Eu acho que estamos tão imersos nesse estilo de vida com a banda quanto queremos.

Não somos uma banda full time e todos tempos trabalhos em período integral. A banda não paga nossos aluguéis. Ficar full time com a banda é fora de questão.

Vocês têm lançamentos vindo por aí? Pretendem começar a gravar mais um disco em breve?

Existe uma versão estrangeira de Remember Death que ainda será lançada. Outras logo depois. Também estamos ficando sem cópias do Thunderblast, então há uma chance para que façamos uma espécie de edição especial, mas ainda é cedo para dizer. No momento não temos planos de voltar ao estúdio tão cedo.

Vocês têm cinco discos que todos amamos. Você pode nos dar alguma dica do que esperar da setlist dos shows? Ou, pelo menos, vocês podem indicar uma música que é impossível se apresentar sem tocá-la?

Alerta spoiler! A maior parte da setlist virá do Remember DeathThunderblast The Raven. Além disso, algumas músicas que nunca tocamos ao vivo. É claro que existem algumas músicas que sempre serão tocadas, a não ser que tenha uma queda de energia elétrica, como  já aconteceu antes. Bates Motel é uma delas.

Mute e No Trigger em São Paulo

Data: 04 de fevereiro de 2018 (domingo).
Horário: a partir das 16h.
Local: Jai Club (Rua Vergueiro, 2676, Vila Mariana. Próximo à estação Ana Rosa do Metrô).
Ingressos: R$ 70,00 (2º lote da meia promocional). Compre aqui.
Evento oficial: https://www.facebook.com/events/691609044378592/
Realização: Solid Music Entertainment.


Mute – Interview

Hi Alexis! How are you? Excited for coming to Brazil one more time? Do you have good memories of your lasts gigs around here?
Hey, I’m doing great thanks. Of course we’re excited! Who wouldn’t? We have so many awesome memories of our shows in Brazil over the years.

How can you explain the strong bond you got with brazilian and latin american audiences? According to your Spotify statistics, brazilian fans are the second biggest audience you have, besides Chile. Can we say that we have a ‘special place in your heart’?
I don’t really know how to explain it… We have such strong support from Latin America in general, it simply boggles our minds as to why that is. Every time we go there, we’re blown away by how passionate the fans are. We can definitely say that Latin America and Brazil in particular has a special place in our hearts!

Remember Death is a great work with an unique sound compared to your first albums. It was an amazing sequence to Thunderblast. How do you guys see the evolution of Mute’s sound over the last almost two decades? Did your musical references change?
There’s basically two periods in the history of the band: before The Raven and after. Right after we released our first full length album Sleepers in 2004, I knew that we could do so much better and that’s around that time that the real foundations for our current sound were built. I think the songwriting got a lot better. We pay much closer attention to all aspects of songwriting, weather it’s the muscial arrangements, vocals, lyrics, back vocals, even details that may seem trivial like getting the exact right tempo for a song instead of blasting every song at the same tempo. Of course, some musical influcences change over the years, but people also change. Nobody in the band is the same person that they were in 2001 or 1998 and that has an impact over the sound of the band.

The five episodes of ‘Making Remember Death’ were important for us to understand the whole process of recording the album and all the work you guys put with artwork, lyrics and the idea behind it. Why did you decide to document it for the first time? Was it a request from your fan base? Is there any detail you guys want to highlight for those who haven’t seen it yet?
That idea didn’t really come from fan request. We actually got this idea before recording our previous album, Thunderblast. We also made a few episodes documenting the studio experience. People seemed to enjoy it so we decided to do it again. We thought about what sort of things we’d like to know about the making of our favorite albums and tried to put that in the videos. We wanted to put in things that you couldn’t learn anywhere else. That’s what I like when I watch a studio blog: tell me something I don’t already know! There’s something in there for everybody, the casual fan and the die-hard mega-fan who thinks he knows everything about the band. I’m not sure there’s a particular detail to highlight, but I will say that this little web series really gives people an idea of the amount of work we’ve put into the making of Remember Death.

I remember watching the last episode of the series, which talks about the song Walking On A Thin Line. Jean-Phillipe said the song was about the struggle of trying to balance music and personal life over these years. And I’d like to ask you the same question he asks himself: how far into this lifestyle can you go? Did you achieved this balance?
Achieving balance between personal life and band life is more an ongoing, neverending process than set destination. Life situations evolve over time and can present different challenges even after so many years. I think we’re as far into this band lifestyle as we wanna be. We’re not a full time band, we all have full time jobs. The band doesn’t pay the rent. Going full time with the band is out of the question.

Do you have any releases on the way? Are you planning to start recording another album soon?
There’s a foreign version of Remember Death that’s yet to be released. More on that later. We’re also running out of Thunderblast CDs, so there’s a chance that we’ll do some kind of special reissue, but it’s too early to say. At the moment we have to plans to go back to the studio any time soon.

You’ve got five full-length studio albuns we all love. Can you give us some hints of what to expect from the upcoming setlist? Or, at least, can you name a song that is impossible to go without playing it?
Spoiler alert! Most of the setlist is gonna come from Remember Death, Thunderblast and The Raven. Plus a couple of cover songs that we’ve never played live before. Of course there are a few songs that will always be played, unless there’s a power outage, which already happened before, mind you. Bates Motel is one of them.