Foto: Bruno Trindade/Divulgação
Há pouco mais de um ano, o músico Paulo Miklos surpreendeu muitos fãs ao anunciar sua saída do Titãs, banda que integrou entre 1982 e 2016. De lá para cá, muita expectativa em torno do que o ex-integrante do grupo paulistano faria no âmbito musical. A Gente Mora no Agora (Deck / Natura Musical), seu terceiro trabalho solo, que chega às lojas e plataformas de streaming no dia 17, é uma resposta e tanto.
Mesmo que afirme não ter tido qualquer problema de incompatibilidade musical com os ex-parceiros e que continua amigo de Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Belloto, os três remanescentes do Titãs, Miklos mostra que a sua proposta de som destoa bastante do antigo grupo.
“A minha formação na música brasileira é fundamental para esse trabalho. São as referências que tive desde pequeno. Quis deixar, especialmente, nesse trabalho, essas coisas aparentes, a brasilidade, a diversidade da música brasileira. Minhas influências vêm dos tropicalistas, do Clube da Esquina, Novos Baianos, Secos e Molhados, Roberto Carlos. Cresci ouvindo esses sons. Acrescenta samba, baião, música nordestina”, comenta o músico.
Para conseguir atingir o seu objetivo, Miklos não poupou esforços e montou uma verdadeira seleção de craques. Na produção e na linha de frente. Tudo para garantir a brasilidade tão desejada.
“O Pupillo (Nação Zumbi e produtor do álbum de Miklos) é um grande conhecedor da música brasileira, baterista, e queria garantir que na célula, no sotaque do disco, tivesse essa brasilidade. Ele me ajudou muito nesse sentido. Outro cara fundamental nesse trabalho foi o Marcus Preto (diretor artístico), com quem conversei muito sobre os rumos do disco e que facilitou o contato com as parcerias”.
A seleção de convidados de Miklos é extensa e diversa: Emicida, Russo Passapusso (Baiana System), Céu, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Silva, Erasmo Carlos, Guilherme Arantes, Mallu Magalhães e Tim Bernardes (O Terno).
“Compus com parceiros de várias gerações. Reuni meus parceiros de longa data, minhas influências e uma turma nova que tem feito um trabalho de alta qualidade. Sempre acompanho eles. Os convites foram surgindo naturalmente”, comenta. “A disposição deles em trabalhar comigo foi algo muito especial. Todos queriam chegar em um bom resultado com as canções”.
Da lista de parceiros, dois nomes são grandes influências musicais na vida de Miklos. Da turma de 1960, veio o genial Erasmo Carlos, parceiro de Miklos na canção País Elétrico, uma das mais surrealistas do álbum, em que o Gigante Gentil cria uma nova ciência: a “mentirologia”.
Já Guilherme Arantes musicou os versos de Estou Pronto, escritos por Miklos, e criou uma balada bem característica de sua verve romântica. Como não poderia deixar de ser, é o próprio Guilherme que toca o piano em sua faixa.
A Lei Desse Troço, que abre o álbum, é uma prova da força e arrojo do músico. Tem uma pegada bem anos 1970, com uma pitada afro. Seu parceiro na letra é o rapper Emicida. Miklos havia criado a base da canção quando o rapper chegou ao estúdio com caderno e caneta. Ouviu e anotou. Em pouco tempo, soube desenhar em palavras o momento atual do ex-Titãs, que traz “o ontem no peito”, mas “mora no agora, no agora”: “Chorar é importante igual sorrir/ Avisa que eu voltei sem sair daqui”. Não por acaso, essa música, com arranjo sofisticado do maestro baiano Letieres Leite, foi escolhida para abrir o álbum.
Outro momento marcante está na faixa Vou te Encontrar, composta por Nando Reis, mas falando de um momento bem pessoal de Miklos.
“O Nando escreveu uma música pra mim, o meu respeito. Ele conheceu a minha primeira esposa, minha história, sabe o que atravessei. Ele coloca isso de uma maneira tão sensível, essa situação de perder alguém querido e como lidar com isso. Ele passou por isso também e colocou de forma linda. Todo mundo entende do que estamos falando”, diz Miklos, que perdeu a esposa, Rachel Salém, em 2013, vítima de câncer. No ano passado, ele se casou outra vez. Sua nova companheira, Renata Galvão é a produtora executiva do disco.
Vale ressaltar que antes do lançamento do A Gente Vive no Agora, Miklos já havia lançado outros dois álbuns solo. Mas o atual, ele considera como o primeiro. E tem motivos para isso. “Nos dois primeiros (Paulo Miklos, de 1994, e Vou ser Feliz e já Volto, de 2001), eu ainda estava no Titãs. Agora é diferente. É o primeiro álbum solo mesmo. Consegui mergulhar nas ideias que tinha em mente”, comenta.
Nova geração em peso no álbum
Os mais novos do time de compositores do disco, ambos na casa dos 20 e poucos anos, Mallu Magalhães e Tim Bernardes também compuseram especialmente para a voz de Paulo Miklos. Mallu escreveu o samba-rock Não Posso Mais no masculino, tendo um homem casado como personagem central, para que Miklos se sentisse muito confortável ao interpretá-la.
Já Tim, vocalista e guitarrista da banda O Terno, é parceiro em Samba Bomba, a faixa mais roqueira do álbum. Tim também assina, desta vez sozinho, a filosófica Eu Vou.
Parceria de Paulo Miklos com a cantora Céu e o produtor Pupillo, Risco Azul é um bolero, quase um tango e ganhou um belo arranjo de cordas, que sublinhou a intensidade de letra e melodia. Outra parceria de Céu e Paulo Miklos é Princípio Ativo, em que a cantora participa nos vocais.
O músico capixaba Silva escreveu a melodia de Todo Grande Amor, que tem letra de Miklos. Originalmente uma bossa nova, a composição ganhou uma levada mais acelerada, desta vez com violão de aço, e um arranjo de cordas do americano Miguel Atwood-Ferguson, que já colaborou com artistas como Rihanna e John Legend. Nasce com vocação para hit.
Já Vigia nasceu ao contrário. A base foi criada por Miklos e enviada ao parceiro, o baiano Russo Passapusso, vocalista da banda Baiana System, que escreveu a letra. São dele os vocais swingados que surgem no refrão.
Com a rapper paulista Lurdez da Luz, o processo de composição foi idêntico: Miklos criou uma base sobre a qual a parceira montou a letra. Assim foi gerado o baião Afeto Manifesto, que descreve, como em um filme, a história de amor nesses nossos tempos de manifestações políticas por todos os lados.
A banda também uniu gerações e escolas estéticas. Além das baterias de Pupillo, as faixas contam com o baixo do mitológico Dadi Carvalho (Novos Baianos, A Cor do Som, Tribalistas), os teclados de Mauricio Fleury (Bixiga 70) e os violões de Everson Pessoa (ex-Quinteto em Branco e Preto), além de diversas intervenções do multi-instrumentista Apollo Nove (Rita Lee e Planet Hemp).
O disco foi mixado em Los Angeles por Mario Caldato Jr., produtor de álbuns dos Beastie Boys e Jack Johson, entre outros.
Muito trabalho pela frente
Até o fim do mês, Paulo Miklos segue com a sua agenda de entrevistas nas TVs e rádios para divulgar o novo álbum, além de dois shows especiais: no dia 17 de agosto, na Casa Natura Musical São Paulo e segue no dia 22 de agosto, para o Theatro NET, no Rio de Janeiro.
“Vou seguir em turnê pelo Brasil com esse disco. Quero fazer turnê nacional, internacional, intergalática. Quero levar o meu som para todos os cantos”, comenta.
Ex-jurado do X-Factor Brasil, exibido pela Bandeirantes, no ano passado, Miklos afirma que gosta muito da TV e quer se manter em participações, tal como fez no último fim de semana na Rede Globo, no programa Popstar. “Me sinto muito à vontade com esses programas. Sempre que posso, participo deles”.
Em breve, Miklos avisa que vai iniciar as gravações de um novo filme, mas não dá muitas pistas. “Ainda não tem muito o que falar, não tem nome, mas será um suspense policial. Estou muito empolgado para iniciar as gravações. Prometo falar em um momento mais oportuno”.
Faixas
A Lei Desse Troço
Vigia
Risco Azul
Vou Te Encontrar
Todo Grande Amor
País Elétrico
Estou Pronto
Não Posso Mais
Princípio Ativo
Afeto
Manifesto
Samba Bomba
Deixar de Ser Alguém
Eu Vou