O cenário turbulento na política nacional chegou com força no rap. Gênero sempre associado à periferia, os problemas sociais e desigualdade encontraram em Pernambuco uma nova vertente: o rap reacionário. Luiz Paulo Pereira da Silva, conhecido como Luiz, o Visitante, de 22 anos, se autodenomina o primeiro rapper nessa linha no Brasil.
Em suas letras, O Visitante presta homenagens ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP) e ao ex-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, um dos órgãos atuantes na repressão durante o período da ditadura militar.
Uma entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, no início do mês, serviu como motivação para dois rappers paulistas gravarem uma diss (canção de insatisfação, normalmente destinada para atacar verbalmente outra pessoa). Rica Silveira, paulistano radicado em Santos, e Airan, o Turco, de Piracicaba, atacaram o pernambucano com rimas fortes.
“Ele defende o golpe militar, exalta o Ustra, mas não tem idade para falar disso. Ele não viveu nada disso para encher o peito na hora de cantar essas coisas”, reclama Rica Silveira, em entrevista ao Blog n’ Roll.
Silveira, de 38 anos, iniciou a carreira musical nos anos 1990, em São Paulo. Vindo da Zona Leste, transitou em bandas punks como Calibre 12 e Gritando HC, mas atualmente vê seu espaço no rap. E, justamente por isso, afirma não tolerar o tipo de som propagado pelo Visitante.
“Quem ele pensa que é para falar do rap? Pede desculpa à Polícia Militar pelo rap nacional em uma das músicas? Quem denominou esse cara como porta-voz do rap? Ele pode defender quem ele quiser nas músicas, mas precisa estudar para não sair falando besteira”.
Também em entrevista ao Blog n’ Roll, O Visitante manteve seu posicionamento. “O rap é o lugar de você expressar sua crítica social. Deve ter toda liberdade de expressar aquilo que te incomoda, o que vê como um mal para a sociedade”.
O pernambucano também ressaltou sua admiração por uma de suas principais influências. “Admiro o Ustra pelo seu forte combate contra a tentativa de golpe comunista. É um militar que cumpriu com mais que a obrigação. Nenhum relato de tortura dito até hoje foi provado contra ele. Os mesmos que ele prendeu não contam o que faziam com os militares raptados. Eles torturavam, e explodiram quartéis com muitos soldados jovens”.
Em um dos trechos da diss, batizada como Carta ao Visitante, Turco canta: “Vai parar no fundo de um Astra por defender o Ustra”. Questionado se isso não poderia render processo ou denúncia por uma possível ameaça de morte, Rica Silveira se defende. “Isso é rap. A diss faz parte do som. Não é uma ameaça de morte. É uma forma de colocar o cara no lugar dele. Não tem que sair falando besteira do rap nacional. Parece coisa comprada. Não é verdadeiro”.
Alheio à reação dos rappers paulistas, O Visitante afirma que não dará resposta. Pretende ouvir o som em breve. “Meus inimigos não são eles, são os políticos. Deixa os caras falarem. É a liberdade deles. Temos que saber lidar com isso”, argumenta.
O rapper negou ter recebido algum apoio financeiro de Bolsonaro. “Única coisa que ele gastou comigo foi com ligação para minha casa, pra agradecer a música”, diz. “Estou à disposição para ajudar na campanha, faço de graça. Ainda não combinamos nada”, completou sobre a possibilidade de ajudar o deputado em uma possível candidatura para presidente do Brasil.