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FOTOS: Tatiana Prudencio / Divulgação

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Entrevista | Supla – “Me coloco como um repórter na hora de compor”

Até o início da década passada, antes do advento das redes sociais, os músicos independentes aplicavam o conceito do it yourself (faça você mesmo) pra valer. Desenhavam o cartaz do próprio show, preparavam a cola caseira e saiam à noite para fixar o resultado nos postes e muros. Era a forma mais simples e direta de alcançar o público. O trabalho complementar era comparecer aos outros shows e fazer a distribuição de flyers.

O roqueiro Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, o Supla, de 52 anos, também é adepto do faça você mesmo. A cada disco lançado, ele se encarrega de ligar nas redações dos jornais, marca os próprios shows, não deixa nada para os outros.

“É o meu trabalho. Por que vou gastar R$ 5 mil com um assessor? Eu posso falar sobre o meu disco, sem problemas. Não preciso de empresário para marcar meus shows. Já me roubaram muito no início da carreira, não vão roubar mais”, comentou, após ligar na nossa redação.

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Ilegal, o seu nono álbum como artista solo, foi lançado no fim de março. E foi o tema da conversa informal que tivemos por telefone. Após uma audição do trabalho, fica nítido que o filho de Eduardo e Marta Suplicy está mais político do que nunca nas letras.

“Talvez esteja (mais político). Eu me coloco como um repórter na hora de compor. A (música) Prazer exclusivo não deixa de ter uma crítica social, muito em relação a como o rico vê o Brasil. Tenho que tirar uma onda, né?”, comenta Supla, ao citar o trecho que cutuca os eleitores do prefeito de São Paulo e pré-candidato ao Governo de São Paulo, João Doria (PSDB).

Prazer exclusivo é como os ricos pensam. Riqueza em excesso emburrece. Eleitores do Doria faltaram na aula de história do Brasil
Trecho de Prazer exclusivo, faixa de Supla

Mesmo que tome partido ao criticar um determinado político, Supla garante não sofrer nenhum tipo de pressão ou ameaça.

“Não mudou nada, apenas cantei no que acredito. Sou bem rock and roll, então tem muita gente de direita que também gosta de mim. Não quero saber de direita ou esquerda, acho um saco isso. É importante as pessoas terem um bom senso para todo mundo viver na mesma sociedade. Essa violência não é boa. Quando um toma o poder, o outro leva porrada. Se alguém faz alguma coisa com a sua família, você vai deixar barato? Entende? Isso é horrível. Quem entrar nesse mundo vai perder. Tem coisas que canto que é pra levar a sério, mas tem outras que são mais irônicas. Não deixam de ser sérias, mas tem humor”.

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Mas o roqueiro afirma que não quis se prender apenas aos problemas políticos do Brasil. “Tem muito a ver com o mundo também, com a natureza. Na música Apocalipse, que é um metal, falo sobre essas histórias de comprar terreno na lua, uma loucura. É meio final dos tempos do que vai acontecendo com a gente”, explica.

A sonoridade de Ilegal é algo que chama bastante a atenção. Supla parece ter colocado todas as suas influências em campo. Consegue transitar pelo metal (Apocalipse), hardcore (Fuck politics), John Lennon (versão de Imagine), música celta (Essa não é a balada do Ed Stab) sem deixar o vocal marcante estilo punk britânico dos anos 1970.

O disco também traz outro ponto curioso. Todas as canções receberam uma versão em inglês, deixando o trabalho em formato duplo. Com participações em festivais no exterior, Supla considera importante gravar nos dois idiomas.

E em uma dessas dobradinhas português-inglês, Supla conta com as participações de dois grandes representantes do punk e hardcore: Badauí (CPM 22) e Glen Matlock (Sex Pistols). Ambos cantam a mesma faixa, mas cada um em seu disco. Essa não é a balada do Ed Stab no disco 2, enquanto This Ain’t The Ballad Of Johnny Stiff está no disco 1.

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“Eu sou o maestro, quero o disco com a minha cara. Eu assumo os fracassos e sucessos”, argumenta sobre o cuidado na hora de produzir.

Sucesso é algo que não está nos planos de Supla. “Quando que o punk rock teve sucesso e mídia? Foi com o Charada Brasileiro (2001), do Supla. Mas isso não é algo que persigo. Quem faz punk rock e quer sucesso, está no lugar errado. O punk sempre foi mais independente, underground. Quem quer sucesso, vai fazer funk ou sertanejo. Isso não importa. O que importa é fazer o que está no seu coração”.

Vi tantas mudanças no jeito de se vestir, dancei conforme a dança, no som que eu ouvi, ao som que eu vivi“.
Trecho de O Som que eu Vivi

Show de lançamento
O lançamento do novo disco de Supla, Ilegal, contará com um show especial nesta sexta-feira, a partir das 21h, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. “Será uma grande produção. Vou levar o muro que usei no videoclipe da faixa Ilegal e vou quebrar”, promete.

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Questionado se pretende manter essa estrutura durante toda a turnê de divulgação do álbum, o roqueiro afirma ser difícil, mas tentará ao menos para as capitais e Santos. “É uma cidade muito especial para mim. Adoraria levar o muro também”. No palco, o músico estará acompanhado dos parceiros Bruno Luiz (guitarra), Henrique Baboom (baixo), Mateus Schanoski (teclado) e Edgar Avian (bateria).

Os ingressos estão à venda e custam R$ 30,00 (inteira). Para garantir sua presença no evento, acesse o site Ingresso Rápido.

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