No ano passado, Greta Van Fleet e The Struts chamaram a atenção do público do Lollapalooza Brasil com um mergulho nos anos 1970. Tanto figurino quanto o som remetem bastante aos grandes nomes do rock, incluindo os óbvios Led Zeppelin e Queen. Mas muito antes de Greta e Struts, outro nome estourou mundialmente com fórmula semelhante, mas influências um pouco diferente, o The Darkness.
Surgida em 2000, a banda inglesa estourou três anos depois com o debute, Permission to Land, que trouxe o mega hit I Believe in a Thing Called Love. No Brasil, a música integrou a trilha da novela Da Cor do Pecado.
Em 2012, já sem o mesmo apelo comercial de outrora, o The Darkness veio ao Brasil pela primeira vez, abrindo os shows de Lady Gaga no País. Nos últimos anos, o surgimento do Greta Van Fleet e The Struts fez com que muitas pessoas se perguntassem sobre o Darkness. A resposta é a melhor possível: eles estão muito bem.
Influências do Darkness
Em outubro do ano passado, a banda lançou o sexto disco de estúdio, Easter is Cancelled. Para o baterista, Rufus Tiger Taylor, que conversou com o Blog n’ Roll via telefone, o registro carrega um pouco de tudo que os ingleses já produziram até aqui. Mas trabalhado de uma forma diferente.
“Nós tentamos concentrar em fazer uma declaração, e acho que conseguimos. Gravamos o álbum de um jeito diferente também. Levamos um bom tempo pensando na acústica de cada música, pensando em como seria tocar ao vivo. Acho que o resultado foi positivo”.
Rufus destaca que o tempo levado para gravar o novo álbum foi o suficiente para poder testar a força de cada canção.
“Preparamos as músicas em versões acústicas antes de gravarmos o álbum inteiro, e acho que isso ajudou bastante, porque as coisas podem mudar ao longo do processo. Você pode cometer um erro que acaba sendo muito bom. Então você mantém isso”.
Evolução do Darkness
Easter is Cancelled foi o segundo álbum de Rufus na banda. Anteriormente, ele gravou Pinewood Smile, lançado em 2017. E ele reconhece que a experiência e disponibilidade de tempo ajudaram no resultado.
“No primeiro álbum que fiz com a banda, tivemos apenas uma sessão de composição, ainda estávamos nos conhecendo. Descobrimos que podíamos escrever bem rápido. Chegamos a fazer aquele álbum em três semanas. Mas em Easter is Cancelled foi diferente. Levamos oito meses para concluir as gravações. Ainda tivemos que jogar umas oito músicas fora, porque não achamos que eram boas o suficiente para estarem no álbum”.
Questionado sobre o interesse de bandas novas em investirem nas influências dos anos 1970, Rufus foi direto ao ponto. Em resumo, não poupou elogios.
“Acho que foi a melhor época da música na história. Todos os clássicos são dessa época. Mesmo que você não saiba as letras, você se sente bem. É muito especial. Seria uma vergonha deixar essa época ir embora. Os álbuns contavam histórias, não eram como hoje, que você faz um álbum de pop, sem conexão nenhuma, só para tirar dinheiro dele. Eu gosto muito do estilo antigo. Tento aprender mais a cada dia”.
Rufus também falou da relação dos integrantes com o maior hit da banda, I Believe in a Thing Called Love. Diferentemente de outros artistas, que simplesmente detestam seus principais sucessos, o baterista vê com bons olhos.
“Nós amamos tocar essa música. Quando ela foi lançada, eu era fã da banda. Sempre que essa música tocava, em qualquer lugar, as pessoas dançavam e se divertiam. Os rapazes da banda pensam como eu, com uma visão de fã. Se estivéssemos em um show, e essa música não fosse tocada, ficaríamos bem bravos. É bom ter essa música no repertório”.
Isolamento social do Darkness
Enquanto o Darkness segue confinado por conta da pandemia do covid-19, Rufus relata que as coisas estão tensas no Reino Unido.
“Minha irmã mais velha é clínica geral, então ela está na linha de frente desse combate. Não é muito legal. Tive muita sorte de sair de Londres para o interior pouco antes da situação piorar. É uma situação horrível”.
O músico, no entanto, acredita que a situação pode trazer aprendizados. “Se os seres humanos não tirarem uma lição disso, nós teremos sido derrotados. Seria uma vergonha. Há muitas lições para tirar disso. Essa situação está dando um chute na bunda das pessoas”.
E já sabe o que fará assim que sair do isolamento social. “Vou direto para o pub tomar uma boa cerveja”.
Posteriormente, quando a turnê for retomada, Rufus não esconde o desejo de voltar ao Brasil. Filho do baterista do Queen, Roger Taylor, ele veio ao País junto com o pai, em 2015. Na ocasião, ele acompanhou o Queen + Adam Lambert, guardando boas lembranças.
“Estamos desesperados para tocar aí de novo. Espero que a gente possa voltar ao Brasil no ano que vem. Toquei aí uma vez e me apaixonei. Tenho algumas memórias, como o dia em que tomei café da manhã no Cristo Redentor. Foi sensacional. Tem outras histórias, mas acho melhor não contar”, disse, aos risos.
*Texto e entrevista por Lucas Krempel e Caíque Stiva