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Crédito: Thomas Woroniak

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Entrevista | Avatar – “É preciso ter gana para querer provar algo”

A banda sueca Avatar, responsável por abrir os shows do Iron Maiden no Brasil, em 2022, lançou o nono álbum de estúdio, Dance Devil Dance, em fevereiro. Desde então vem colhendo bons resultados de streams. Agora, o Avatar se prepara para uma turnê pela América do Norte entre setembro e outubro, a segunda do ano na mesma região.

O vocalista do Avatar, Johannes Eckerström, conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo trabalho, Brasil, influências, além da cena atual de Gotemburgo, cidade mundialmente conhecida por ser um celeiro de bandas de metal.

Você já disse em outras entrevistas que o Avatar tem a missão de salvar o metal. Você acredita que está sendo bem sucedido nisso?

Existem várias bandas que não precisam que nós a salvemos. Por exemplo, estamos em turnê com a Orbit Culture e eles têm as coisas exatamente da forma que gostariam agora.

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Mas, sim, existem algumas coisas que nos arriscamos em termos de produção, escolha de músicas e o que acreditamos que o heavy metal se trata.

Nós não somos os únicos, mas acredito que algumas coisas são importantes, como usar um baterista de verdade e não um simulador de bateria, e se usar uma bateria, não arruinar o DNA da bateria acrescentando muito elementos de pós produção, tratando o metal como algo que é tocado por seres vivos e não por máquinas, e traduzir isso para o palco, sendo algo que te faça suar enquanto você performa.

Também fazer músicas que tenham um lugar na vida das pessoas, que não apenas façam as pessoas sentarem e ouvirem, mas que te façam dirigir um pouco mais rápido, fazer um bebê, levantar mais peso. Música que tenha um lugar na sua vida, acho que estamos fazendo isso, é importante. Metal às vezes foge do próprio ninho, isso é um problema.

Por que o metal perdeu tanta força?

Não sei, acho que parte muito da insegurança dos músicos, pois o metal possui um lado virtuoso, e tem alguns que tocam para se exibir para outras bandas e outros músicos, e consequentemente a pior coisa que você pode fazer nesses casos é cometer algum erro. A mágica está nos erros, todos querem soar o mais perfeito possível.

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Existem jeitos da música soar, de um ponto de vista “matemático”, que fará você sentir melhor, se mexer, cantar mais, e a torna mais “correta”. E acredito que é tentador, já fomos mais jovens, existe a tentação de fazer soar perfeito, fazer as máquinas trabalharem para soar mais perfeito. É tentador, mas continuo apreciando Venom, que é longe de ser perfeito, mas às vezes me soa melhor do que algo dito perfeito.

Acho que ainda se pode fazer isso e fazer algo que seja moderno, que seja de agora, não apenas cópia das músicas de antigamente, tendo uma atitude, prover algo novo.

Existem duas direções que você pode seguir, dentro do que acredito que metal se trata: um é quando se torna música onde se fica sentado e calado ouvindo. Mas tem também quando as pessoas querem fazer meio o que nós queremos fazer. Nós amamos os Beatles, amamos composição, um refrão inesquecível, mas quando o metal faz isso, soa mais comercial, me parece uma composição perigosa muitas vezes. Quando se é assim, acho que se perde o ponto onde se pode alcançar um outro nível na música.

Quando compositores conseguem se comunicar, fazer algo que soe bem na primeira e na centésima vez que escuta, isso requer muito trabalho, ser muito exigente consigo mesmo.

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Nós somos muito fãs de Iron Maiden, por exemplo, e eles são colocados em um pedestal, merecem estar lá, mas ao mesmo tempo quando vou compor, penso ‘eu vou mostrar pra esse FDPs o que posso fazer’. Ter um pouco dessa gana de querer provar algo, ousar fazer isso, principalmente se tratando de melodias vocais. Sinto que muitas melodias vocais no metal usam muitas notas longas. Por que as melodias vocais do metal devem ser menos memoráveis e bem compostas do que as do Backstreet Boys? Temos que competir com o melhor aspecto do cenário que existe.

Como foi o processo de gravação e produção do Dance Devil Dance?

Foi o mais prazeroso. No geral gosto de ir no estúdio cada vez mais, começou sendo um mal necessário quando éramos mais novos, mas cada vez gosto mais, pois dessa vez era só nós e o produtor, sozinhos na floresta, alugamos equipamento de estúdio e montamos um estúdio na nossa casinha. Se tornou muito íntimo, vivendo lá, cozinhando um para os outros, apreciando as árvores, gravando em um ritmo e que se vive dentro das músicas. Foi mágico!

Por que esse álbum do Avatar é mais especial que os outros? O que o diferencia?

Sim, sempre que fazemos um álbum fazemos para que ele seja mais especial do que os outros. E foi especial, pois estávamos frustrados, tivemos um crise da meia idade com 24 anos, algo do tipo, essa pode ser a última coisa que iremos fazer, como gostariam que fosse o álbum caso fosse o último? E isso fez a música melhor, toda hora agora, uma parte de nós como banda está escrevendo nosso último álbum.

Você faz isso, e ao mesmo você quer fazer algo pela primeira, por uma perspectiva onde se sinta um iniciante, onde não sabe exatamente como fazer, novos desafios.

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Essas abordagens nos levam a pensar no que seria importante quando se faz um álbum, não podemos controlar o quão importante será para o mundo, mas podemos controlar o quão será para nós.

Dessa vez, todas as circunstâncias foram diferentes na comparação com a última gravação que fizemos em Los Angeles, o centro do universo da música. Gostamos mais ainda de estar o mais longe possível desse centro, tornando tudo aquilo mais nosso.

Gotemburgo ainda tem um cenário forte de metal?

Para ser honesto, não temos uma cena mais forte de metal do que qualquer outro lugar. Tipo, ouço mais Crypta (banda brasileira) do que qualquer outra banda contemporânea. Mas antigamente era uma mistura, as raízes da cena de Gotemburgo são pequenas. A maioria vem do subúrbio de onde vieram membros de bandas como At the Gates, Dark Tranquility e In Flames, e tinha pessoas suficientes para fazer várias coisas.

Porém é uma geração anterior a nossa, nós pagamos para assistir show do In Flames como qualquer outra pessoa no mundo, e sinto que nossa cena acho que foi mais criada online, onde conversávamos sobre bandas e sobre o que está acontecendo no metal agora.

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Por exemplo, falando do Crypta, onde não estão apenas fazendo ótimas músicas, mas também tirando fotos, se vestindo para tocar, essa linha de pensamento e ambição, de fazer algo novo, com apego ao que faz o heavy metal incrível, no caso delas o death metal. Sinto uma conexão com elas, Gojira, bandas de todo lugar. Somos parte de algo global, temos mais conexões com bandas do mundo.

A cena na Suécia é menos exclusiva do que costumava ser para Gotemburgo. Estamos em turnê com Orbit Culture, que não são de Gotemburgo, mas são da Suécia. Como país continuamos a produzir, mas de maneira menos exclusiva como era antes, devido a forma que nos comunicamos hoje em dia. Acho que isso é melhor, gosto mais assim.

Existe mais espaço para bandas suecas, mas gosto como não são apenas bandas escandinavas, britânicas, norte-americanas, está em todo lugar ao mesmo tempo, é mais saudável.

O Avatar veio ao Brasil, em 2022, abrindo os shows do Iron Maiden. Como foi essa experiência?

Foi incrível, claro. Na nossa primeira viagem como banda, quando éramos jovens, fomos para Estocolmo juntos assistir o Iron Maiden tocar. O primeiro show que fizemos com eles no Brasil, nunca havíamos nos sentido tão nervosos em toda a nossa vida antes de um show. Sem menosprezar as bandas para quem abrimos antes, mas voltamos a ser crianças.

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Nós sempre soubemos, como parte da mitologia do Iron Maiden, a relação deles com a Escandinávia, com a América do Sul, mas em particular com o Brasil. Toda banda da nossa geração na Suécia tem um pôster do Iron Maiden no Rock in Rio até hoje. A sala de ensaios que compartilho com amigos na Finlândia tem um pôster desse.

Iron Maiden e Brasil, essa combinação, nunca esperei ser aceito tanto. Eu não ligo tanto para isso, quem entendeu, entendeu, quem não entendeu, não vai entender. Mas lá, eu tinha 15 anos novamente, e torcia para que gostassem da gente e gostaram.

Muitas bandas brasileiras tiveram seu primeiro show em São Paulo, mas não tiveram a oportunidade de tocar em um estádio para 60 mil pessoas. É um jeito muito bom de ir para um país novo. E estamos trabalhando muito para conseguir ir novamente, não é nada garantido, mas estamos nos esforçando muito.

Você consegue listar três álbuns que foram fundamentais para tua formação como músico e como integrante do Avatar? Por que?

Para mim, parei de cortar o cabelo depois que ouvi o Keeper of the Seven Keys Part 2, do Helloween. Foi onde tudo começou para mim. Depois ouvi todos os álbuns do Black Sabbath, mas minha formação começou com Helloween.

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Como banda, para o Avatar, quando começamos, gostando muito de death metal técnico, compartilhamos um grande amor pelo álbum do Cryptopsy, None So Vile. É o meu álbum de death metal preferido ainda. Eles mantém o som orgânico, real, que se preocupa em como se performar e tal. É enraizado neles, uma banda de jazz que toca música assassina.

E número um, como banda, acho que sempre será The Haunted Made Me Do It, do Haunted. Saiu alguns anos antes de começarmos a tocar como Avatar, e eu tentava cantar como Marco Aro, todos tentávamos tocar como eles. Ainda continua sendo incrivelmente melódico, memorável, ao mesmo tempo que é agressivo. Combina as coisas tão bem. Eu ainda procuro algo que seja melhor, nada combina esses elementos tão bem. São esses três que vem de cabeça.

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