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Back to 90's

The Presidents of The United States of America surgiu na efervescente Seattle e aproveitou lacuna pós Nirvana

Em 1993, quando o grunge de Seattle ainda dominava o mundo, uma banda surgiu na cidade da costa oeste americana com uma sonoridade um pouco diferente do que estávamos acostumados à época. The Presidents of The United States of America conquistou um espaço importante em pouco tempo. 

A partir do primeiro álbum, homônimo, lançado em 1995, passou a ocupar um espaço importante com videoclipes divertidos na MTV. Os hits Kitty, Lump e Peaches colocaram The Presidents of The United States of America em outro nível. Apesar do sucesso ter se mantido no segundo álbum, II, lançado em 1996, a banda perdeu fôlego comercial nos discos seguintes.

A primeira etapa da carreira da banda foi de 1993 até 1998. Retornou em 2002 e permaneceu na ativa até 2015. Hoje, aos 58 anos, Chris Ballew, vocalista e baixsta do The Presidents of The United States of America, garante estar aposentado.

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“Estou aposentado dos palcos agora, mas nunca se sabe. Agora estou vivendo em uma ilha, em meio às árvores, relaxando”.

No segundo capítulo da série Back to 90’s, Chris Ballew conversou com o Blog n’ Roll, relembrando a carreira, sucessos, cena de Seattle, entre outros assuntos. Confira a entrevista abaixo.

Quero voltar no início da carreira da banda. Em 1993, quando vocês surgiram, Seattle era o epicentro do grunge. Como era o cenário local para vocês?

Eu tinha ido para a costa leste antes de toda a coisa grunge, estava meio de fora. Mas lembro de ter escutado o Nevermind na casa onde os caras do Mudhoney moravam, e ficamos em silêncio quando a agulha começou a tocar Smell Like Teen Spirit. Quando a música acabou, alguém levantou a agulha e disse: ‘tudo irá mudar’. Era óbvio que seria algo grande. 

Essa época, para mim, era nebulosa, não lembro muito bem onde estava, vivia entre Boston e Seattle. Lembro dessa lembrança do álbum, e quando fui para Boston comprei o álbum e adorava colocar ele para tocar bem alto e ir dormir. De alguma forma tirava meus sentidos e me fazia sentir cansado, pronto para dormir.

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Quando mudei de vez para Seattle, por volta de 1992, estava mais na onda de escrever um rock pop meio folk, não me sentia muito conectado com a cena. Mas lembro de assistir o MTV VMA de 1992 e ver o Soundgarden, Alice in Chains e o Pearl Jam receberem atenção, e achei que essa cena merecia ser mais iluminada um pouco. Amava aquela, mas sentia que poderia me encaixar levando mais luz para a festa, e foi o que fiz.

O grunge, punk e outras vertentes de rock convergiam bem?

Sempre fui muito eclético, meu gosto é por boas músicas, sejam country, rock, pop, funk, punk ou sei lá o quê. Os gêneros para mim são uma parte do processo de composição apenas. No momento de definir que tipo de música é, eu permito que a música me diga qual gênero ela é. 

Sempre fiquei espantado pelo fato das pessoas escolherem um gênero e ficarem presas dentro de limites muito restritos. Esse não sou eu. Eu aprecio todo tipo de música, amo boas músicas, boas melodias, seja clássica ou heavy metal.

E qual foi o ponto de mudança para vocês? Quando decidiram que poderiam alcançar outro status? The Presidents tocou muito na MTV Brasil, por exemplo.

Acho que ter clipes na MTV foi legal, pois lançamos nosso disco em uma gravadora pequena, e vimos que fomos para outro nível quando tocamos em uma casa na época de um grande festival que aconteceu em Seattle. A casa estava cheia de gente da indústria musical, e fiz um show normal, curtindo muito, a plateia se divertindo. 

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No dia seguinte tínhamos sete ofertas de gravadora, foi nesse dia que vimos que algo iria acontecer, tivemos que amadurecer muito rápido. Pois vivia uma vida comum, jogando frisbee no parque, saindo com meus amigos, assistindo TV, fumando erva, e de repente era hora de crescer. Foi esse o momento que notamos que as coisas iriam decolar.

O disco de estreia já veio após a morte de Kurt Cobain. Qual foi o impacto dessa perda em Seattle? Prejudicou de alguma forma as bandas locais?

Estava em turnê com o Beck, pois era da banda dele quando aconteceu. Não lembro em que cidade estava, mas Beck e eu ficamos com pneumonia ao mesmo tempo. Estávamos no médico, acho que descobrimos logo depois. Esse dia foi tão estranho, Beck e eu deitados na cama do hospital falando com o médico como se fossemos crianças que pegaram o mesmo resfriado. 

Foi muito triste, tinham muitas opções disponíveis para ele, mas ele não pôde desfrutar de toda sua onda criativa. Não quero ser controverso, mas não acredito que ele se matou, acho que ele tomou a quantidade errada. É algo muito comum, aconteceu com Sid Vicious, ele estava limpo, e voltou para Nova York e pensou: ‘vou usar heroína apenas mais uma vez’, mas foi demais, pois ele usou o que costumava usar quando usava cotidianamente. Essa é a minha teoria, não sou um especialista nem nada. 

Acho triste, mas importante fazer a distinção, pois muitos jovens copiaram o suicídio, e talvez se parassemos de tratar como suícidio, então, esses jovens não teriam seguido esse caminho. Foi com certeza como se uma cortina tivesse fechado, e o arco do grunge declinou, foi assim que nos sentimos em Seattle. 

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Mas de um jeito ainda era um ambiente fértil, as pessoas saiam toda noite, pois queriam ver a próxima grande banda. E foi nesse cenário que surgimos, então, algo se apagou, mas deixou espaço para que outra coisa surgisse.

Qual foi a origem do nome da banda? Era alguma sátira política? Uma homenagem a alguns presidentes? 

Estávamos desesperados por um nome. Saímos para tocar e tomar uma cerveja no bar, e cada um de nós tinha cinco nomes, e combinamos dizer os nomes, sem julgamento, sem negatividade, apenas esperando o nome que soasse bem. E foram algumas sessões disso. 

Um dia fui à festa de um amigo, levei minha guitarra de duas cordas, toquei um pouco com o pessoal que estava lá. Entre as músicas dizia ‘nós somos…’ e um nome aleatório para a banda. E um dos nomes foi The Presidents of The United States of America. Uns seis, sete hippies chapados riram e achei que seria divertido.

Na reunião seguinte, eu disse esse nome aos outros membros, e eles concordaram que era um bom nome. O fato de ser um nome tão grande, e sermos uns carinhas querendo tocar rock, não combina em nada com a gente, é divertido. E sempre falamos para as pessoas dizerem o nome completo.

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Lump, Peaches e Kitty tiveram grande alcance mundial, puxando a banda para o estrelato. Como é sua relação com essas três músicas? Sente orgulho delas?

Com certeza, amo essas músicas. Beck não gostava tanto de Loser, ela virou um hit e ele sempre se sentiu desconfortável com ela. Convivi com ele por muito tempo, e criei a ideia de que é importante que nós três estejamos sempre confortáveis com que estamos tocando, animados para tocar. 

Se uma música aborrece algum de nós, descartamos, e esperemos que algo melhor apareça. Então, toda música que lançamos, nós amamos. Amo essas músicas, principalmente Lump. Tenho muito orgulho dela, toda vez que tocamos é como a primeira vez, é a nossa música preferida, nunca me canso dela.

Você guarda alguma história curiosa desses singles?

Lump foi uma ideia que gravei em um gravadorzinho. Tinha várias fitas com fragmentos de ideias que ouvia enquanto estava lavando a louça ou fazendo outra coisa, e esperava meu cérebro se interessar. Não tinha um gravador bom na época para gravar uma demo, então fui na casa de uma amiga, que veio a se tornar a violoncelista do Nirvana no Acústico, e gravei a demo, mostrei pra banda e gravamos. 

Kitty era sobre um gato de verdade, que era meio que um colega de quarto meu. Eu vivia com Mark Sandman, do Morphine, e a colega de quarto dele tinha um gato chamado Chima. E Chima circulava pedindo carinho e quando você fazia carinho, ele te atacava. 

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Estávamos tocando e o Chima entrou e encostou em mim e cantei o que estava acontecendo ‘tem um gato no meu pé e eu quero tocar nele’, e isso foi apenas um refrão por muito tempo, e depois adicionei alguns versos. 

Peaches veio de um jeito estranho. Estava em um ponto de ônibus, e um morador de rua com um casaco sujo sentou do meu lado e repetia ‘mudando para o campo e comendo muitos pêssegos’. Achei legal e veio como uma música, o guitarrista escreveu o restante. Tudo graças a um morador de rua delirante. Gosto da imagem de deixar a cidade, não sei, me intrigou, ainda lembro como ele era.

E você gosta de pêssegos?

Adoro pêssegos, tenho um cesto cheio na geladeira agora mesmo.

Ao longo dos anos, vocês lançaram álbuns que não foram tão comercialmente bem sucedidos, mas ainda renderam muitos sons bons. Se arrepende de algo que tenha gravado a partir do terceiro álbum?

Me arrependo que não tiramos um tempo entre o primeiro e o segundo álbum para viver nossas vidas. Nossa agente sugeriu isso, mas a gravadora nos pressionou a lançar para capitalizar nosso momentos, assim como os Beatles sofriam para lançar um disco a cada seis meses. 

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Seguimos a pressão da gravadora, mas depois percebemos que perdemos a oportunidade de nos renovar. Estávamos cansados nesse segundo disco e acabamos nos prendendo um pouco tentando manter a magia viva. 

Agora, eu faço isso, tiro meu tempo, estou aposentado dos palcos, mas ainda lanço álbuns em meu nome. Faço por realização pessoal, se as pessoas gostam, ótimo, se não, tudo ok. Gostaria de voltar no tempo e dizer para mim mesmo ‘relaxa’. 

Mas tenho orgulho dessas músicas, acho que Mach 5 é uma das minhas preferidas, o clipe é o meu preferido. Foi ideia do Roman Coppola, filho do Francis Ford Coppola, ele fez todos nossos clipes do começo. 

Ele queria uma vibe meio especial do Elvis, ele quem teve a ideia de sermos atacados por pêssegos também. Conheci ele em uma gravadora, e nela recebemos material de diretores que poderiam fazer nossos clipes, e ele era um deles, claro que o nome chamou atenção, ficamos curiosos. 

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Foi um 8 e 80 com ele, os que deram certo, deram muito certo, e os que não deram, não foram bons. Tem uma versão para Kitty que nem chegamos a lançar.

A banda se separou algumas vezes desde então. Qual é o status atual? Pretendem voltar?

A banda parou em 2015, e acabei de encerrar minha carreira como músico infantil. Fiz 19 álbuns como Casper Baby Pants, encerrei isso ano passado ou há dois anos. Estou aposentado dos palcos agora, mas nunca se sabe. Estou vivendo em uma ilha, em meio às árvores, relaxando.

Como é a relação entre vocês?

Nossa relação é boa, ainda somos uma banda, mas só nos reunimos para falar de nosso legado, nosso catálogo e nosso dinheiro. Não fazemos mais músicas. Notei que depois de estar em tantas bandas, eu não deveria estar em bandas, fico feliz com o que conquistei com isso. 

The Presidents são incríveis, mas estar em casa sozinho, como um cientista, fazendo músicas em meu nome, posso ser mais despojado. Se quiser deletar uma linha de guitarra, posso fazer isso sem irritar o guitarrista. Como disse, tudo em serviço da música. As músicas têm um jeito próprio de tomar vida, parte disso é experimentar, ser desapegado. Mas ainda nos damos muito bem, nós amamos uns aos outros.

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Vocês tiveram alguma oportunidade de vir ao Brasil? Gostariam de tocar aqui?

Lembro desse assunto vir à tona na época. Lembro do Nirvana ter tocado aí, acho que em 1993. Não tenho ideia do motivo de nunca termos ido, é uma pena, gostaria muito de ter ido.

Consegue listar três álbuns que foram fundamentais para a tua formação como músico?

Número 1 é Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band, do Beatles. Ganhei quando era novo e foi o único que ouvi até completar 10 anos, me fez viajar demais na minha mente, imaginando o que eles cantavam. 

Algo que me atraiu no Beck foi esse jeito de cantar, inventivo, que te faz viajar, assim como esse disco fez. Gosto de fazer isso nas minhas músicas também. 

Nevermind the Bollocks, do Sex Pistols, é tão harmonicamente rico, cheio de atitude, me influenciou muito. O guitarrista Steve Jones se preocupou de verdade com os harmônicos daquela guitarra distorcida. 

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No outro lado do espectro, adoro música ambiente, faço música ambiente. Brian Eno fez a trilha de Apollo, um filme sobre a missão Apollo. Quando comprei esse disco, pensei que seria outro disco de música pop do Brian, mas era essa música especial que me acelerou, depois me relaxou. 

Hoje em dia, faço yoga, mas na faculdade não sabia o que era meditação, mas se queria relaxar, eu iria para o meu quarto e colocava esse disco. Não sabia o que era meditação, mas estava meditando.

Você deveria conferir a música que estou fazendo, ela mistura as três coisas, na verdade. Está sob minha autoria e sairá nos serviços de streaming, tenho cinco discos solo lançados, estou lançando dois por ano, em julho e janeiro, pois tenho muitas ideias e músicas, é muito divertido, estou aproveitando. 

Você está no seu estúdio?

Sim, estou, esta é a guitarra que toquei no nosso primeiro disco, esta é a guitarra que o Mark Sandman do Morphine me deu. Todas têm histórias, são sete guitarras. Um baixo que sempre tive, uma guitarra que toco slide, toquei em Loser, uma guitarra dos anos 1980. É um estúdio simples, um notebook, um teclado, um microfone, um iPad com sintetizadores, bem simples. Sempre quis bem simples, e agora tenho.

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