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Entrevista | João Gordo – “É melhor escrever enquanto estiver vivo”

Ele já foi dado como morto algumas vezes, taxado de traidor do movimento punk, pesou mais de 200 quilos e garante que foi um dos responsáveis pelo terrível show do Nirvana no Brasil, em 1993. Hoje, aos 52 anos, João Francisco Benedan, o João Gordo, líder da banda de punk Ratos de Porão, revela seus “causos” e a infância traumática no livro Viva La Vida Tosca (DarkSide Books), escrito a quatro mãos com o jornalista André Barcinski.

“Normalmente, as pessoas escrevem isso quando o cara está morto. É melhor escrever enquanto estiver vivo. Não quero que escrevam quando eu tiver morto. Ali, 98% das coisas são reais. Não tem nada inventado”, conta o músico.

O jornalista escolhido para escrever a obra é uma referência no jornalismo cultural. Barcinski é o autor de Barulho: Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano, vencedor do prêmio Jabuti (Reportagem), em 1992.

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“Já ia em shows do Ratos de Porão desde 1986, gostava da banda. Mudei para São Paulo em 1990 e sempre via o João nos bares. Em 1992, nós o convidamos para fazer uma cobertura da Fórmula 1, para o jornal) Notícias Populares, foi muito divertido. Eu o acompanhei nos treinos, corrida, uns cinco ou seis dias direto. Ficamos amigos. Nos conhecemos há uns 25 anos pelo menos”.

Fotos: Fabiana Figueiredo

Mas mesmo com as duas décadas de amizade, o jornalista afirma ter se surpreendido com a relação entre João Gordo e o pai, um policial militar da Rota, que agrediu o filho diversas vezes. “O pai era uma pessoa muito violenta, instável e que causou muitos problemas na vida do João. A parte familiar foi muito barra pesada”, conta Barcinski.

“Foi uma infância sofrida. Meu pai, sargentão da PM, turbinado de remédio psiquiátrico, fez a nossa casa virar um circo de horrores. Mas até certo ponto fiquei meio deprê de lembrar algumas coisas. O livro, acima de tudo, é de superação. Superei a ‘treta’ com o meu pai, a obesidade mórbida, vício em pó, tudo”, completa Gordo.

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A parte familiar também teve abordagem positiva na obra. “O nascimento dos dois filhos, o relacionamento com a Vivi, algo que eu conhecia perifericamente, mas foi muito legal explorar. Mostrar que ele é um pai tão diferente do pai dele”, diz Barcinski..

O punk rock foi a válvula de escape do músico para os problemas enfrentados em casa. Questionado se hoje faria o mesmo, ele afirma não saber. “As coisas estão muito doidas. O punk foi absorvido pelo sistema. Todo mundo está esfarrapado, com as calças rasgadas, a Lady Gaga com a jaqueta rebitada. Talvez iria para outro caminho”.

Para alcançar o máximo de precisão nas informações, o jornalista conta que conversou com muitos familiares e amigos do vocalista do Ratos de Porão. “Onde eu achei que precisávamos elucidar algumas coisas, fui atrás do pessoal da MTV, da banda, dos familiares. É preciso lembrar que o João teve muitos problemas com drogas, então muitas coisas ele nem lembra direito”.

O líder do Ratos de Porão afirma que não poupou nada da história. “É tudo história de balada, de coisa doida, saca? Não é história da vida. Coloquei tudo no livro. Mas se for necessário, consigo escrever outros volumes também”.

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Sobre o encontro com Kurt Cobain (Nirvana) e a então esposa Courtney Love, Gordo afirma que foi um dos responsáveis pelo show horrível dos norte-americanos. Na ocasião, durante o Hollywood Rock, em São Paulo, Cobain subiu completamente drogado no palco e não conseguia terminar nenhuma música.

“Os caras são tudo doidos. E a gente tem uma fartura tão grande de cocaína no Brasil, dai já viu. O Kurt queria estar em qualquer lugar, menos naquele festival. Achei muita falta de respeito com as 100 mil pessoas que estavam lá. Mas não foi só culpa minha, foi culpa de todo mundo, deles também. Eles que queriam cheirar”, admite João Gordo.

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