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Entrevista | Get The Shot – “A música extrema é um refúgio para os excluídos”

O Get The Shot, pioneiro do cenário hardcore de Quebec, no Canadá, prepara o lançamento de seu quarto álbum de estúdio, Merciless Destruction, para 7 de outubro. Enquanto o disco não chega, a banda vai revelando aos poucos seus singles. O mais recente é Bloodbather (ft. Matthias Tarnath).

Merciless Destruction consolida a abordagem independente do Get The Shot apesar de um tedioso e pesado processo de gravação para os integrantes.

O baixista Dany Roberge e o vocalista Jean-Philippe Lagacé conversaram com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre a nova fase da banda. Confira abaixo.

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O que mudou nesse período de pandemia para vocês?

Dan – Pra mim é muito empolgante, mas as coisas mudaram um pouco. Tive um filho e cresci durante estes dois anos, como todo mundo, a vida mudou bastante. Então também estou um pouco assustado de deixar minha família para trás, pois lá atrás eu não tinha um filho, essa é a única coisa que importa pra mim, estou um pouco estressado em relação a isso, mas empolgado.

Mal posso esperar para ver as pessoas, tenho tocado a minha vida inteira, essa é a minha vida, então sinto que serei eu novamente, não tive contato com essa parte de mim faz dois anos e agora poderei ser, é sobre isso que estou empolgado.

JP – Estou empolgado para ver os fãs novamente, faz mais de dois anos. Aliás, acho que se o hardcore é uma experiência que muda sua vida, é por causa dos fãs, por causa das conexões humanas que são feitas na cena.

Então estou definitivamente empolgado em ver o público novamente, cantar com eles, socar a cara deles, é o que eu amo nessa cultura, quando há violência e agressividade por parte deles.

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Como foi o processo de gravação?

Dan – Completamente diferente. Dessa vez deveríamos ter ido ao estúdio bem cedo, em 2020, para fechar as músicas em abril com o produtor, mas não aconteceu devido a pandemia.

Tivemos que mudar nossos planos, cancelamos com o produtor, pois ele é americano e não podia cruzar a fronteira. Voltamos aos ensaios, trabalhamos mais profundamente com música pesada, a estética que queríamos, trabalhamos novamente nas músicas, e tivemos criar o álbum estando completamente distantes.

As guitarras foram gravadas em Quebec, as vozes em outro lugar e a bateria em Montreal, e nós tivemos que trabalhar com produtores canadenses que amamos. Trouxemos Chris Rawson e Chris Donaldson para produzir e mixar, então envolveu várias pessoas ao invés de ser mais espontâneo como no começo.

JP – Foi como Danny disse, acho que foi uma experiência difícil e cansativa devido ao atraso, o distanciamento e a pandemia. Foi um processo infinitamente longo, trabalhamos nisso por quase dois anos.

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De algum jeito estou feliz que finalmente finalizamos e podemos iniciar um novo capítulo, tentar algo novo. Foi um processo difícil.

O que representa a música extrema para vocês?

JP – O que gostamos na música extrema é que ela é um refúgio para aqueles que são excluídos, e quando criança, e também como um adulto, sempre me senti um estranho no mundo que vivo, mesmo em meio as pessoas que amo me sinto um estranho.

De alguma forma essa sensação constrói a agressividade, um ressentimento, e você tem que ter algo para dar significado a esse sofrimento, e é o que o hardcore e o metal extremo sempre significaram para mim. Para expressar e dar forma a esse sentimento, para produzir algo positivo no final, pois pode ter significado para outras pessoas, e mudar a vida delas.

Música extrema mudou minha vida quando criança, e acho que é uma das coisas mais bonitas sobre ela é esse estilo de vida, e acho legal que essa contracultura se mantenha agressiva, anti-establishment, violenta, pois para responder a violências você deve ser violento, é por isso que acredito que o gênero deve se manter violento e agressivo.

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Não é uma boa ideia colocá-lo em um formato mainstream e torná-lo mais moderado, tem que ser algo difícil, não excessivo, mas quando acha significado por trás da música, muda a vida para todos. É o que a música significa para mim.

Dan – Acho que JP disse tudo, e se tivesse algo para acrescentar seria algo que saiu da boca do JP em outra entrevista também. Uma vez que eu me pacificar, não farei mais hardcore, farei música folk, ou nem farei mais música, viverei outra aventura, talvez pintura ou arte, mas enquanto permanecer revoltado tocarei punk e hardcore pelo resto da minha vida.

Bandas de hardcore sempre trouxeram muitas críticas políticas e sociais nas letras. Vocês se sentem à vontade para se posicionar politicamente?

JP – Não temos a pretensão de fazer música que seja um posicionamento político ou uma prática política, pois não é, é música. Para mim tem uma grande diferença entre música e política. Nunca quis ter uma banda política, que fizesse músicas com grande mensagens, nunca foi minha intenção.

Só queria falar sobre tópicos com os quais pudesse me relacionar, sentimentos com os quais pudesse me relacionar. O melhor jeito de descrever o mundo que vivemos hoje vem de um filósofo alemão chamado Theodor Adorno. Ele diz: “Como podemos viver uma boa vida em um mundo que é fundamentalmente mal? Como podemos viver uma boa vida em um mundo corrompido pela opressão, dominação e exploração?

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Acho que a pergunta é ainda relevante hoje, e sempre foi uma pergunta que mantive em mente. Como se pode viver uma vida em um mundo desse? O que posso fazer como indivíduo? Como posso fazer algo, não que vá mudar o mundo, mas que seja significativo para mim mesmo, e contribuir para melhor o mundo em uma pequena escala? Essa é a real pergunta. É possível não virar uma má pessoa no mundo que vivemos? Não tenho a resposta, mas é a pergunta que tenho para agora.

Dan – Pode dar vertigem quando se pensa no mundo. Já fui jovem e otimista, e pensei que tinha o poder da mudança, escutava Bad Religion, e lendo ativistas políticos, achava que era possível. Agora que cresci e vi que as coisas não melhoraram, eu tive, como JP disse, que voltar para meu próprio ambiente, e fazer o bem ao meu redor, tentar construir meu próprio jardim, e não importa o que eu faça ainda haverá um rastro de sangue nos meus tênis da Nike ou da Adidas, pois vivemos em um mundo capitalista.

Eu não tenho a pretensão de ter uma opinião. O que farei é cultivar meus tomates, e aproveitar o tempo com meus amigos, e tentar criar arte que possa ressoar, e talvez motivar pessoas a fazer algo realmente revolucionário, talvez. Não tenho a pretensão de fazer isso, mas talvez minha arte possa fazer.

É possível uma vinda do Get The Shot ao Brasil em breve?

Dan – Como eu disse, a vida mudou, nós crescemos. Da minha parte, se me perguntasse agora, certamente tem coisas que quero alcançar com meus irmãos, com essa banda. Acho que adoraria conhecer o Brasil. Não estou falando isso por estar conversando com um brasileiro, esse é definitivamente um lugar que queremos muito ir, sempre escutamos Sepultura, somos amigos de várias bandas brasileiras. Então definitivamente é um dos lugares que queremos ver, junto com Japão e Austrália.

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Em resumo, quero viajar muito com meus amigos, ainda há pessoas para conhecer, e arte para criar.

Mas vamos uma turnê de cada vez, talvez sinta falta do meu filho e não queira mais, não sei, tudo pode acontecer. Vou uma turnê de cada vez, e um álbum de cada vez.

JP – Vamos ver o que o futuro prepara para nós. Agora temos uma turnê legal, grandes festivais, e depois vamos para Europa, serão shows divertidos, faremos alguns festivais nos EUA também. Serão novos desafios que iremos enfrentar, é divertido, e muito satisfatório como ser humano, ter esses desafios.

Dan – E o novo álbum está vindo, estamos animados. Aliás, mal podemos esperar para mostrar essas músicas para as pessoas.

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O que vocês podem falar sobre o novo álbum do Get The Shot?

Dan – Podem esperar por 11 músicas iradas, sinistras, fomos profundamente em gêneros de música extrema como inspiração, e isso refletiu nas músicas. Provavelmente um dos melhores álbuns que já produzimos.

JP – É nosso álbum mais sinistro até agora. Nunca fizemos dois discos iguais, então esse é muito influenciado por slam death metal, é algo diferente do que já fizemos. Acho que as pessoas vão amar, mas definitivamente é nosso álbum mais pesado.

Dan – É mais interessante você gostar de bandas que não se repetem, pois se não gostar do álbum atual sabe que o próximo será completamente diferente, e poderá ouvir a banda novamente. Gosto de ouvir músicas novas e seguir com a vida, então estamos muito animados com isso.

Quer deixar alguma mensagem final para os fãs do Get The Shot?

JP – Por favor conversem com os produtores locais e realizadores de eventos, mal podemos esperar para conhecer o Brasil.

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