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Crédito: Cyril Vidal

Entrevistas

Entrevista | Inspector Cluzo – “Gerir uma fazenda familiar é mais rock do que ter uma banda”

O duo francês The Inspector Cluzo lançou, recentemente, o álbum Horizon via F.thebassplayer Records. Para coincidir com o lançamento do álbum, a dupla de Guascon também anunciou o documentário Running A Family Farm, dando sequência ao Rockfarmers lançado há 8 anos.

Horizon é o 9º álbum de estúdio do Inspector Cluzo, que tocou uma vez no Lollapalooza Brasil. É um álbum elétrico, um álbum de rock. Três anos em produção, três anos de processo e mais uma vez produzido em Nashville pelo amigo e mentor da banda, Vance Powell.

Laurent, um dos integrantes do Cluzo, conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, a luta na fazenda e possibilidade de shows no Brasil.

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Horizon, o novo álbum do Inspector Cluzo, teve um ótimo feedback do público e crítica. Como foi o processo de gravação? Teve algo diferente dos outros discos?

Claro que devido ao covid, paralisou, mas nós deveríamos escrever as músicas durante aquele período, então não paralisou somente por causa do covid, era pra ter sido daquele jeito. Nós escrevemos durante dois anos, é um álbum de três anos, gravamos no último ano, como geralmente fazemos, em Nashville, Tennessee, com nosso produtor, e terminamos em novembro.

Nos levou um ano para deixar tudo pronto, pois somos uma gravadora independente, devemos contatar os escritórios para estruturar tudo. A banda é uma sobrevivente em relação a ser independente a este nível.

Então levou tempo, tivemos muitos problemas com os vinis, o que demorou três anos no total. Teve outra pandemia aqui, uma gripe aviária, que afetou principalmente patos e gansos, foi muito impactante no sudoeste da França, onde vivemos.

O governo matou 15 milhões de patos, estávamos cercados, nossos gansos estavam são e salvos, mas foi uma grande briga com o governo para não matar.

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A matança foi preventiva, caso os animais não fossem seguros, matavam, mas dissemos que não poderiam fazer isso. Fizemos muitas músicas sobre isso, como Saving the Geese.

Esta é a resposta para a sua pergunta, se trata das coisas que aconteceram ao redor de nós, pois as músicas falam de experiências pelas quais estávamos passando.

Junto com o álbum, vocês revelaram também o documentário Running A Family Farm, uma sequência do Rockfarmers. Qual é a proposta desse filme? E como vocês conseguem alinhar com o álbum?

A indústria agropecuária criou essa gripe aviária. Há muitos anos lutamos contra a opressão dessa indústria, pois somos uma fazenda familiar independente. Na agricultura, não é como na música, no sentido de que as grandes empresas na música são um porre, porém não vão te matar. A indústria agropecuária tem muita influência aqui, fazem muito lobby junto ao governo.

Não posso dizer que o governo francês é corrupto, mas pagam lobistas para influenciar e fazer leis que os favoreçam, em relação a químicos, sementes, etc. Por exemplo, temos uma fazenda industrial em frente a nós, dissemos que não queríamos ela aqui, pois colocaria os gansos em perigo, mas pela lei você pode ter um fazenda dessas a 100 metros de outra fazenda ou uma casa. Não há nada que se possa fazer, pois a indústria tem muita influência.

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Vocês no Brasil sabem que a Amazônia sofre com a pressão industrial, é um problema similar, uma ameaça constante. E a gripe aviária era a principal ameaça, nossos animais não estavam doentes, mas pressionaram muito para o governo matar eles. O governo foi bem imparcial, e permitiu que os deixássemos vivos.

Rockophobia contou com a participação de Iggy Pop. Como foi esse encontro? Vocês já haviam trabalhado juntos?

Foi muito desapontador, foi divertido, fácil, mas nada demais. Não foi planejado, quando gravamos Rockophobia, sobre como o rock está morto, o primeiro verso é sobre nosso produtor, o segundo sobre Iggy Pop, uma piada de como ele não mostra mais seu pênis por aí, então o rock está morto e tal.

Mas nosso produtor disse que seria divertido enviar a música para Iggy para ver a reação dele, e temos contato com o agente de Iggy, então enviamos. No dia seguinte tínhamos uma resposta falando que Iggy gostou da música, e perguntando o que esperavam deles.

Nosso produtor pediu um áudio de WhatsApp dele falando “foda-se o Inspector Cluzo”, “foda-se o meu pau”, e colocamos na parte final da música, e foi creditado como coral, então se pegar o vinil tem lá: “corais: Iggy Pop”.

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Por isso foi divertido, é como pensamos que o rock deveria ser, algo simples, com pessoas fazendo de maneira séria, mas sem se levar muito a sério. Iggy ainda é assim, e é legal. Uma das razões pela qual o rock está desaparecendo é porque as bandas se acham muito importantes, mas não são.

Enfermeiras, professores, fazendeiros, são muito mais importantes do que roqueiros. E acho que Iggy nos lembra que é só sobre se divertir.

A agro-ecologia é uma bandeira de destaque da carreira de vocês. Como vocês avaliam o atual momento com aquecimento global e ações perigosas de grandes indústrias? Como se protegem?

É bem simples. Na verdade, nós passamos por coisas nas nossas vidas, como a questão industrial. Ao salvar os gansos, os policiais vieram até aqui, não foi legal. Pois não queríamos matá-los, nós desobedecemos. Gerir uma fazenda familiar é mais rock do que ter uma banda de rock.

Nós tivemos a volta das andorinhas. Todo ano elas voltam, mas estão desaparecendo, pois não usamos químicos na nossa fazenda, então elas voltam.

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Fizemos uma música sobre isso, é como nós conectamos as questões. Neil Young é como nós também, nosso tipo de música, poderíamos imaginar coisas, mas a música não seria tão autêntica, precisamos viver as coisas, boas e ruins, digerir e escrever uma música sobre, é mais poderoso. É assim que a conexão é feita, é diária, e fácil.

O que vocês recordam da primeira experiência dos Cluzos no Brasil? Foi marcante aquele show no Lollapalooza?

Foi um super show, muitas pessoas, nossa primeira vez no Brasil. Tocamos no Lollapalooza Chile e na Colômbia. Existe uma energia na América do Sul muito similar a que temos aqui, não digo em toda a França, mas no sudoeste da França.

Quando fomos ao palco no Brasil, tivemos uma resposta forte sobre o significado e os valores que espalhamos. Mesmo nas grandes cidades, vocês têm uma conexão forte com a mãe natureza, o que não é o caso na Europa.

As pessoas de Bordeaux, por exemplo, não têm andorinhas, são muito desconectadas, mas vocês, mesmo em São Paulo, que é gigantesca, sentimos que têm uma cultura diferente. É um pouco como o Japão, vivem em grandes cidades, mas tem consciência ecológica.

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Na Europa existe uma preocupação, mas é um posicionamento muito dogmático, como os veganos, nós respeitamos, mas é muito radical, e quando se vive no campo, se sabe que é mais complicado, japoneses sabem, vocês sabem, essa é a grande diferença. Tocar nas grandes cidades daqui é diferente das grandes cidades daí.

O Cluzo pretende trazer o novo show para o Brasil?

Sim, planejamos voltar no começo de 2024. No Lollapalooza, para ser honesto, é muito cedo, mas planejamos fazer toda a América do Sul. É um território importante para nós, devido aos motivos que falei anteriormente.

Como está sendo equilibrar shows do Cluzo e os cuidados na fazenda?

É uma grande organização, hoje passei a manhã com nossos voluntários, que nos ajudam a organizar as coisas. Mas há períodos em que não podemos fazer turnê, durante as colheitas de milho, por exemplo. É um equilíbrio.

Nós não gostamos de sair em turnê a todo momento pois são 40 shows em 44 dias, são dias intensos. E durante dois meses, abril e maio, não podemos sair daqui, recusamos propostas.

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Gostamos de tocar, mas odiamos o que está em volta da música. O business é uma perda de tempo, nós músicos gostamos da música.

Vocês conseguem listar três álbuns fundamentais para a formação de vocês como músicos? Quais? Por que?

O mais importante é um de dois artistas, Ali Farka Touré e Ry Cooder. O primeiro é um bluesman de Mali, que combinado com Ry Cooder, é algo que te faz pensar além da música, é uma obra-prima.

Depois, Giant Steps, de John Coltrane. Gostamos muito de jazz, tocamos rock, mas não somos muito do metal, e no jazz, Coltrane é um pioneiro.

Por fim, nós amamos Neil Young. Toda a sua discografia é perfeita.

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