Eric Clapton no Brasil é um fenômeno raro. Aos 79 anos e com 61 anos de carreira, o músico veio apenas quatro vezes ao País. A primeira na extinta casa de shows Olympia, em São Paulo, em 1990. Voltou em 2001, no Pacaembu, além de 2011, no Morumbi. Agora, 13 anos depois, quando quase ninguém mais esperava, ele voltou! Passou por Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, com dois shows (Vibra SP e Allianz Parque).
O encerramento da turnê, no domingo (29), no Allianz Parque, foi especial. Diante de uma arena lotada, Eric Clapton conseguiu o que poucos artistas alcançaram: manteve a maior parte do público com o celular no bolso.
Durante as quase duas horas de show, o britânico, completamente protegido do vento gelado, com dois casacos, cachecol e boné, pouco se comunicou com os fãs e ainda deixou todos apenas contemplando. Na pista premium, parte do público se emocionou e apenas acompanhou as canções balbuciando. Poucos se arriscaram a gravar trechos da apresentação. Aliás, não teve nenhum pedido explícito dele para evitar isso, como Bob Dylan, Jack White e Placebo fizeram recentemente.
O repertório contemplou boa parte da carreira de Clapton, incluindo canções do Cream (Sunshine of Your Love, Badge), carreira solo (Cocaine, Tears in Heaven, Running on Faith e Old Love), além de clássicos do blues (I’m Your Hoochie Coochie Man, Cross Road Blues e Before You Accuse Me).
No fim da apresentação, os fãs até tentaram arrancar mais um hit, mas não foi atendido, tal como aconteceu nos outros shows da turnê brasileira. Layla continuou fora do set.
O show de Eric Clapton foi dividido em três partes: duas elétricas e uma acústica. Na primeira parte, com guitarra, o músico priorizou o repertório do Cream e canções de blues, como Key to the Highway (Charles Segar) e I’m Your Hoochie Coochie Man (Willie Dixon).
Já na parte acústica, Clapton priorizou muitas faixas do Unplugged MTV, um dos álbuns mais vendidos da história e vencedor de três Grammys. Além de emocionar os fãs com o superhit Tears in Heaven, o guitarrista também convidou o amigo brasiliense Daniel Santiago para tocar três músicas: Lonely Stranger, Believe in Life e a já citada Tears in Heaven.
Novamente empunhando uma guitarra, com as cores da bandeira da Palestina, Clapton abriu mais um set elétrico, novamente intercalando grandes sucessos (Cocaine e Old Love) com clássicos do blues, incluindo duas de Robert Johnson (Cross Road Blues e Little Queen of Spades).
Na última faixa, Before You Accuse Me, frustrou quem esperava pelo encontro geracional com Gary Clark Jr, como ocorreu nos outros shows. Aqui, Santiago retornou para mais uma jam com Clapton.
Show de alto nível, sem tempo para papagaiada ou puxação de saco dos fãs. Clapton entregou o seu melhor e ainda deu espaço para a banda protagonizar momentos que arrancaram aplausos, principalmente com o tecladista Chris Stainton, que já trabalhou com The Who, David Gilmour, B.B. King, Joe Cocker, entre outros gigantes da música.
Vale uma menção também para o restante da banda, que é super entrosada e estilosa, incluindo aí Doyle Bramhall II (guitarra), Nathan East (baixo e voz), Tim Carmon (órgão e teclados), Sonny Emory (bateria) e Sharon White e Katie Kissoon (vocais de apoio).