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Foto: Thiago Menezes

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Um debut e tanto para King Krule em São Paulo; saiba como foi o show

TEXTO POR THIAGO MENEZES

A discussão sobre a forma de consumo da música deve ser tão antiga quanto a própria arte em si. Atualmente, esse debate concentra-se principalmente em torno das plataformas de streaming e na monetização praticada pelas desenvolvedoras dos aplicativos usados pelos consumidores de música no dia a dia.

O britânico Archy Marshall também deve ter suas queixas e considerações sobre a remuneração oferecida pelos serviços de streaming aos músicos, que criam a matéria prima para a existência das mesmas. Mas há de se destacar, também, outra influência que elas podem ter tido em sua carreira.

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Atendendo pela alcunha de King Krule, o artista ainda não completou 30 anos de idade, mas já está promovendo seu quinto disco de estúdio, Space Heavy, lançado em 2023. No Brasil, Marshall e seu pseudônimo não figuram entre os artistas mais ouvidos, não possuem músicas em destaque em rádios ou em redes sociais, ou mesmo repetida em comerciais e filmes populares. Contudo, ele certamente é uma presença constante em diversas playlists de usuários dedicados de serviços como Spotify e Apple Music. Essa democratização do acesso à música desempenha um papel fundamental em apresentar artistas e gêneros em ascensão a um público mais amplo.

Parte desse reconhecimento fez com que King Krule embarcasse em uma turnê sul-americana que chegou ao Brasil no último sábado (2), em São Paulo. O local escolhido foi a organizada casa de shows Terra SP, que, para preparar o público para a atração principal escolheu providencialmente uma diversificada discotecagem que ia do punk do The Clash ao jazz do John Coltrane, além do artista de abertura Guerrinha, com seu som psicodélico e atmosférico. Essa mistura maluca das seleções do DJ e de Guerrinha indicava o tom diversificado da atração que encerraria a noite.

King Krule subiu ao palco, ligeiramente tímido, arriscando poucos olhares para o público, que vibrava com sua entrada – entoando seu verdadeiro nome “Archy! Archy!”. Sem falar nada, logo pegou sua guitarra e começou a tocar suavemente a introspectiva Perfecto Miserable.

Acompanhando os vocais de Marshall estava sua competente banda, formada pela tradicional tríade guitarra-baixo-bateria, fortalecidos por teclados e sintetizadores, além do curioso saxofone, um dos grandes diferenciais no som post-punk orquestrado por Marshall. Se é que é possível resumir o som miscelâneo executado pela banda a apenas um gênero.

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Após fortes aplausos, King Krule aumentou o ritmo e emendou com Alone, Omen 3. Essa foi a tônica do restante da apresentação. Daí pra frente, a banda intercalou entre o introspectivo e o explosivo.

Crédito: Thiago Menezes

Com sons calmos e contemplativos, King Krule cantava sobre dúvidas existenciais e relações humanas, angariando o ouvinte mais dedicado, que consegue ver a beleza no ritmo lento, mas rico desse tipo de canção. Interrompendo essa calmaria (às vezes na mesma música, como na faixa-título Space Heavy), Marshall cantava aos gritos, como um bom frontman de banda punk, movimentando o público e subindo o som dos demais instrumentos. A beleza, a calma e a fúria vivem juntas na obra de King Krule.

Aqui cabe lembrar, novamente, a marca deixada pelo saxofone de Ignacio Salvadores. Tanto em momentos calmos quanto nos mais agitados, o sax irrompe de forma muito orgânica, criando uma atmosfera jazzista chapada. Fora isso, vale comentar a divertida performance de Salvadores, que quando não estava empunhando seu instrumento, dançava, pulava e interagia bastante com a plateia.

Notável também era a resposta do público, que se revelou familiarizado com a discografia do músico. Por vezes, após apenas dois ou três acordes tocados por Archy Marshall, a reação era imediata e eufórica, mostrando que quem estava ali conhecia muito bem as músicas e o trabalho do artista. Isso deve ter feito com que o vocalista, mais seguro de que era reconhecido pelos brasileiros, aos poucos, tenha se soltado e interagido com seus fãs, perdendo a timidez do momento inicial.

Mesmo sem a grande mídia, ou uso marketeiro das redes sociais, e com a distância continental que separa a banda dos brasileiros, de alguma forma, felizmente, o som do King Krule chegou até o Brasil. A intimidade que o público mostrou com canções do artista mostra que há caminhos para que a boa (e não tão popular) música chegue à diversas pessoas, quebrando distâncias e tendências de mercado.

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King Krule, com seu som excêntrico e competente, conquistou fãs dedicados no Brasil, mesmo sem a antiga cultura de singles nas rádios ou clipes na televisão, como outras gerações se acostumaram. Sua obra foi propagada, sem dúvida, com a ajuda da acessibilidade proporcionada pelos serviços digitais, fazendo com que canções como Out Getting Ribs fossem cantadas a plenos pulmões por um público entusiasmado por novidades musicais já populares no exterior.

Com um setlist de 24 músicas, uma apresentação dedicada e vivenciada fortemente pelo público, Archy Marshall e sua banda proporcionaram uma ótima e diferenciada experiência musical. Que sempre possamos conhecer e vivenciar música nova.

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