Uma passagem repleta de coincidências marcou a tour do Linkin Park no Brasil, que rendeu dois shows no Allianz Parque, em São Paulo, nas noites de sexta (15) e sábado (16). O Blog n’ Roll acompanhou a segunda data.
Antes do Linkin Park subir ao palco, a banda brasileira Ego Kill Talent, figurinha carimbada nos grandes shows internacionais, deu as caras.
Tendo lançado seu primeiro álbum em 2017, o Ego Kill Talent sempre esbanjou muita técnica e soube aproveitar todas as oportunidades surgidas. No entanto, nunca me cativou. Demorei a entender a razão para isso. Mas no show do Ego Kill Talent no Allianz Parque ficou mais evidente o motivo. A troca de vocalista (saiu Jonathan Dörr, entrou Emmily Barreto) deu o encaixe necessário para a banda mudar de patamar. Mesmo que Jonathan fosse extremamente técnico, nada supera a energia, voz e o carisma de Emmily.
Aliás, em 40 minutos de apresentação, o que se viu foi um repertório totalmente modificado. Das nove canções tocadas, somente uma faz parte dos dois primeiros discos, ambos gravados por Jonathan. A escolhida foi Last Ride, que foi acompanhada no coro por muitas pessoas na pista premium. O restante é tudo da fase com Emmily.
A vocalista do Ego Kill Talent mostrou que a noite seria das Emilys. Em sua vez, ela comandou coros, arrancou muitos aplausos e ainda controlou um lindo jogo de luzes para uma das canções da banda.
Se você, assim como eu, ainda torcia um pouco o nariz com o Ego Kill Talent, dê mais uma chance. Foi uma surpresa muito agradável a apresentação.
Linkin Park
De volta ao Brasil após sete anos (a última, ainda com Chester no vocal, havia sido no Maximus Festival 2017), o Linkin Park conseguiu algo não muito comum na música: deu sequência na banda mesmo após a morte do vocalista e teve sucesso na investida. Claro que existem boas exceções como AC/DC, Lynyrd Skynyrd, entre outros, mesmo assim não é tão fácil de encontrar exemplos bem-sucedidos.
Polêmicas à parte, a banda conseguiu atrair toda fanbase de volta aos estádios, tornou o lançamento do novo álbum, From Zero, em um grande acontecimento da música, e tudo isso com uma vocalista nova, Emily Armstrong. A segunda Emily da noite na linha de frente.
Confesso que me dividi em observar o comportamento dos fãs e da banda o tempo todo. Na pista premium, a empolgação inicial era quase toda em cima de Mike Shinoda. Foi quem arrancou os gritos mais efusivos.
Emily Armstrong parecia um pouco contida no início. Jogou para o público na hora do refrão de Crawling, um dos maiores hits da banda, que foi tocada logo no início da apresentação. Não fez diferente com Somewhere I Belong e Points of Authority, dois grandes sucessos do grupo e que formaram a trinca inicial do show.
Na sequência, a primeira grande surpresa da noite: a reação do público com Two Faced, primeira faixa do novo álbum tocada no show. A resposta dos fãs foi incrível. Cantaram a música do início ao fim dando aquela segurança necessária para quem lançou o disco um dia antes.
Vale lembrar que em 2017, quando veio com o disco One More Light, que foi lançado dias após o show do Maximus Festival, o Linkin Park enfrentou sua maior crise. Muitos fãs reclamaram da sonoridade pop das canções. Aliás, o álbum foi totalmente ignorado na atual turnê.
Em The Emptiness Machine, segunda do novo álbum e que fechou o primeiro bloco do show, Emily cresceu e passou a mostrar seu poder vocal.
O segundo bloco do show serviu para consolidar esse crescimento de Emily no palco. Aproveitando de um cenário repleto de efeitos visuais, que deu um baita up no show, a vocalista passou a brilhar ainda mais.
Casualty, mais uma do novo álbum (a minha favorita, por sinal) foi um dos pontos altos nesse bloco. Aliás, Emily também arrancou seus primeiros gritos de apoio do público, algo que se repetiu por vários momentos até o fim da apresentação.
A performance de One Step Closer, outro hit da banda, que fechou o segundo bloco, também ajudou a impulsionar ainda mais Emily.
O terceiro bloco foi o menor, com apenas três músicas. Aliás, precedido por um intervalo muito grande. Poderiam reduzir o tempo de espera aqui. Lost, Breaking the Habit e What I’ve Done, três queridinhas dos fãs, no entanto, serviram para voltar a empolgar o público.
O quarto bloco foi o mais poderoso, incluindo três mega hits da banda: Numb, In the End e Faint. Aqui, Emily e público já estavam em lua de mel e completamente à vontade um com o outro.
Vale destacar a quantidade de gente nova no show. Tanto pelos fãs declarados que responderam a Shinoda que estavam vendo a banda pela primeira vez, quanto pela idade deles. Se pensarmos que Hybrid Theory, o disco de estreia, completará 25 anos em 2025, surpreende ver muitos adolescentes emocionados na pista.
No bis, o Linkin Park fez uma troca na comparação com o primeiro show: saiu Lost in the Echo, entrou A Place for My Head, do Hybrid Theory. Escolha acertada e que fez muita gente vibrar.
Heavy Is the Crown, do novo álbum, com Emily gritando por mais de 15 segundos sem parar, foi um dos highlights do fim do show. Alguém ainda tinha dúvida da potência do vocal dela?
Bleed It Out deu números finais ao show, que teve uma grande queima de fogos ao término da apresentação, como se celebrasse o novo momento do Linkin Park, a era Emily. E o mesmo vale para o incrível Ego Kill Talent, que conquistou meu coração no sábado.