36 – Hitch Lizard

36 – Hitch Lizard

O Brasil tem uma mulher no comando do país e o cargo mais importante da Petrobras também é ocupado por uma pessoa do sexo feminino, mas mesmo assim a cultura machista ainda é muito presente por aqui. E se está assim hoje, imagina em 1997, ano de fundação da Hitch Lizard, uma das bandas mais importantes do hardcore santista. Mas elas seguraram a bronca. Com muita personalidade, presença de palco impecável e canções marcantes, as cinco meninas do Canal 1 e Marapé, em Santos, gravaram o nome na história do hardcore regional e nacional.

“Éramos cinco amigas que tínhamos afinidades musicais. Duas faziam aula de guitarra, uma de bateria e eu nunca tinha tocado baixo, mas estudei violão por alguns anos na adolescência. Então, tivemos a ideia de fazer uma banda só de meninas e a amiga que não tocava nenhum instrumento e gostava de cantar foi para o vocal. Começamos ensaiando covers e aprendendo a tocar e a tocar junto com outras pessoas porque até então nenhuma de nós tinha tido banda. Mas logo nos primeiros meses de banda a gente já tinha algumas músicas próprias”, relembra a baixista Gigi Louise.

A formação original foi a mesma de 1997 até 2001, ano de término das atividades: Sachais (guitarra), Sunessis (vocal), Caroline (guitarra), Tatiane (bateria) e Gigi (baixo). Depois de alguns meses parada, devido ao acidente de Tati, a banda fez dois shows com o amigo Kadu Abecassis tocando bateria. “A Tati já estava andando e conseguiu tocar uma ou duas músicas com a banda numa bateria adaptada, pois na época ela não tinha recuperado a força da perna direita”.

As influências da Hitch Lizard eram bem variadas, iam da L7 até Nofx, passando por Green Day, Ramones, No Doubt, Bad Religion, Bikini Kill entre outras.

A banda foi criada sem muitas pretensões. Era apenas um desejo de um grupo de amigas, mas ganhou força com o tempo. “Fizemos alguns shows e quando a gente percebeu ter uma banda de punk rock formada só por meninas era algo muito mais incomum do que que pensávamos, isso nos deu uma certa visibilidade e nos impulsionou a ter contato com o feminismo e ganhar apoio de outras meninas que tinham bandas e projetos”.

Entre essas bandas parceiras estavam Dominatrix e TPM, referências no hardcore feminino nacional. “Alguns shows foram bem marcantes como em 1998, no Alternative, em São Paulo. Tocamos com elas também no Última Hora, em São Vicente, além de participarmos de um festival em São Paulo só com bandas femininas. Em Caçapava tocamos com a Bambix”, diz Gigi.

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Em quatro anos de história, a Hitch Lizard participou de várias coletâneas e gravou duas demos com cinco músicas próprias cada. A primeira chamada Girl Pride em 1998 e a segunda Love+Life+Peace em 1999. Da primeira demo, a música Girl Pride teve boa receptividade do público, principalmente pelo refrão: “Girls can do anything!”. Da segunda demo, Gigi destaca Self Defense e The Rain. “Quando a banda parou de tocar a gente já tinha mais duas músicas novas”, diz Gigi.

Depois das duas demos gravadas, a Hitch Lizard tinha projeto de gravar um disco cheio, mas a banda acabou antes disso. “Paramos de tocar uma época por causa de um grave acidente de moto que a Tati havia sofrido, o que exigiu dela meses de recuperação. Quando a gente tentou voltar algumas coisas já tinham mudado em nossa vidas e na própria ‘cena’. E a Tati ainda não estava boa para tocar, então acabamos parando”.

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Após o fim das atividades, a Hitch Lizard se reuniu para um show especial, um revival no casamento de Caroline há três anos. Hoje em dia cada uma está numa caminhada. Sachais trabalha com cinema, Sunessis é atriz e modelo, a Carol virou médica e mãe, Tati é engenheira (e futura mãe) e Gigi é psicóloga e funcionária pública. “Ainda continuo na música e na ‘cena alternativa’, mas não tocando em banda. Nossas caminhadas em relação a projetos de vida não parecem favorecer em voltar a tocar”.

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Ouça Life+Love+Peace, de 1999