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51 – Desecration

A Desecration surgiu em outubro de 1991, em Guarujá, com a proposta de fazer um som extremo, influenciado por thrash e death metal. Era uma banda formada por amigos com o intuito de se divertir, mas desde o começo já possuía letras politizadas.

A formação original contava com Marcolino (vocais), Alessandro Ferreira (guitarra base), Pedro Bueno (guitarrista solo), Osni de Lima (baixo) e Juca Lopes (bateria). Eduardo (no lugar de Pedro Bueno), Luis Henrique, o Sabugo (substituindo Juca Lopes) e Liana (assumindo posto de Osni) também tocaram na banda.

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“Conheci o Desecration em um show em 1993, em Vicente de Carvalho. Tive a sorte de poder tê-los como amigos e acompanhar muitos shows. Na época éramos moleques. Por causa dessa galera, comecei a ouvir e conhecer mais bandas extremas”, diz Luis Henrique, o Sabugo, baterista da segunda formação da Desecration.

Sabugo foi apresentado no momento certo para a música extrema. No início dos anos 1990, as gravadoras Earache Records (Reino Unido) e Nuclear Blast (Alemanha) lançaram grandes nomes do gênero como Benediction, Malevolent Creation, Suffocation, Immolation, Incantation entre outras.

“O próprio nome da banda, profanação na tradução, escolhemos, pois soava como esses grupos. Profanação significa desonrar, injuriar, ofender e tratar com irreverência coisas supostamente sagradas, o que tinha muito a ver com nossa postura anti-religiosa, iconoclasta, anticlerical e ateísta e que, por tudo isso, tornou-se um bom nome para a banda”, diz Sabugo sobre o Desecration, que se manteve na ativa até 2009, completando 18 anos de atividade ininterrupta.

Segundo Sabugo, os ideais da banda foram amadurecendo conforme o tempo passava. Muitas bandas de metal que tratavam de problemáticas sociais influenciaram a Desecration no primeiro momento. Nesse contexto se encaixavam Testament, Metallica, Dorsal Atlântica e Exodus, só para citar algumas.

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A aproximação da Desecration com o hardcore e punk, em um segundo momento, foi natural. Devido aos ideais do it yourself (faça você mesmo), muito presente no hardcore, a banda passou a se identificar cada dia mais com o gênero. Mas sem esquecer as raízes do metal.

“Nessa época também conhecemos o grindcore, através do divisor de águas Scum, LP do Napalm Death. Apesar do grindcore chegar ao Brasil de forma deturpada, como um subgênero do death metal, relacionado algumas vezes à porcaria do Splatter (letras que tratam de cadáveres em decomposição). O grindcore encontra suas raízes no punk e hardcore”, explica Sabugo, ao citar Heresy, Extreme Noise Terror, Fear Of God, Lärm, Siege, Cryptic Slaughter e SOB como referências.

As mudanças na formação da Desecration não alteraram apenas o som, mas o foco das músicas também. A banda tomou uma postura explicitamente anarquista. “Além das críticas ácidas às injustiças sociais, as letras exerciam um papel fundamental na banda, pois através delas falávamos sobre propostas alternativas para uma nova organização da sociedade através dos princípios anarquistas da autogestão, ação direta, apoio mútuo, cooperação, livre acordo, igualdade social e solidariedade”, diz Sabugo.

Vegetarianismo, ateísmo, feminismo, emancipação e liberdade do ser humano passaram a ser as temáticas da banda. Nos shows, os integrantes faziam discursos e explicavam sobre o que falava cada letra, sempre com o intuito de fomentar a reflexão. “Nós sempre demos valor antes de tudo às idéias que a banda fazia propaganda, a ética, reafirmando nossos posicionamentos políticos”.

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Em um desses discursos, os integrantes da Desecration criticaram a cena hardcore durante apresentação em um templo Hare Krishna, em São Paulo. “As pessoas estavam esquecendo que os espaços de shows de hardcore deveriam ser espaços de emancipação da mente humana, de ideais libertários, que fossem contra o sistema vigente e não um lugar para doutrinar pessoas em nome de uma religião”, recorda Sabugo, sobre o show em 1999.

No mesmo show, a Desecration discursou ainda sobre o Hardline. “Era um modismo que pregava a intolerância total com aqueles que não seguissem seus dogmas, que bebessem álcool ou não fossem vegetarianos. Algumas pessoas torceram o nariz, outras aplaudiram. Mas foi importante fazer um questionamento que ninguém teve coragem de propor abertamente naquela época, ainda mais dentro da própria cena straight edge”.

Ao longo dos 18 anos de carreira, a Desecration colecionou shows memoráveis. Entre os principais estão um no Esquina 10 em Guarulhos (1997) e outro em um navio na Alemanha, o Stubnitz, durante nossa turnê pela Europa, em 2000.

“Santos tinha varias casas legais de show e um monte de bandas boas nessa época. Tivemos sorte de poder fazer parte e tocar na mesma cena, com bandas de metal e hardcore. Fomos uma das primeiras bandas que tentou unir as cenas e quebrar essas barreiras musicais. Enfrentamos preconceitos de ambos os lados, ora por sermos uma banda política para públicos não políticos, ora pelo som que fazíamos. Mas encontramos pessoas interessantes, questionadoras, com anseios revolucionários em ambas as cenas”, diz Sabugo.

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Sabugo acabou de virar pai e está se formando em psicologia. Atualmente morando em São Paulo, não conseguiu dar sequência com a banda. Marcolino é um dos vocais da banda Rot (Grindcore), de São Paulo. Ele e Liana moram em Guarujá e participam do Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri, que organiza uma biblioteca anarquista (Biblioteca Carlo Aldegheri) e realiza palestras e várias atividades na Baixada Santista. Eduardo vive em Santos.

“Somos todos muito amigos e apesar da distância, ainda mantemos contato. Esperamos poder conciliar o tempo de nossas vidas para fazer algo novo, juntos novamente. É possível, mas não sabemos ainda. Em breve vamos nos reunir para discutir o futuro, um novo projeto. Mas existem gravações (as duas últimas) que não foram lançadas ainda e pretendemos lançar esse material o mais breve possível. Quem sabe role um showzinho”, finaliza Sabugo.

Discografia
Under The Sign Of Terror – Demo Tape (1993)
Chaotic Reality – Demo Tape (1995)
Broken Peace – 7’EP (1997)
Desecration/Plague Rages – Split Demo Tape (1998)
GrindAttack! – 4 Way Split CD (2001)

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