O proprietário do portal Zona Punk, Wladimyr Cruz, sempre fez o possível para se diferenciar do restante no cenário hardcore e punk. Se a onda era ter fanzine pequeno e sem cor, ele apresentou o Rebel Magazine em formato maior e capa colorida. Depois, enquanto todas as bandas lutavam por datas no Armazém 7, ele abriu espaço no Praia Sport Bar, voltado até então para covers.
Mas muito antes do Rebel Magazine e Anti Fashion, Wlad, como é conhecido, seguiu a mesma linha com a NBK. Tentou uma proposta de som diferente e cavou outro espaço novo para os shows: Plataforma Bar.
“Tentávamos nos diferenciar do som melódico e vigente da época. A ideia era algo voltado ao american hardcore, na linha da Black Flag, Minor Threat, Circle Jerks e grande carga do punk 77, dos Ramones, Clash, Pistols. Mas também rolava algo mais heavy, tipo S.O.D. e Anthrax, outras duas influências claras”.
A efervescência adolescente dos integrantes foi o estopim para a criação da NBK em 1996. O momento era propício para isso. A cidade vivia um momento interessante e bandas surgiam quase que diariamente. Foi justo nessa época que um levantamento, feito pelo produtor César Sanchez, apontou que o município era a cidade com mais bandas por quilômetro quadrado do Brasil. Eram mais de 400, na soma de todas as vertentes do rock. Mais da metade sequer gravou um material, mas ajudaram a fortalecer o caldeirão musical.
“A primeira formação, se não me engano, era eu nos vocais, Rodrigo Gordo na bateria, Daniel Sem Dedo em uma guitarra e o Thiago Amado (Dekreptu’s e X-Ten). Ou não. Nem sei se o Thiago tocou conosco. Era algo bem aberto, sem compromisso, passou um monte de gente pela banda no começo e fim”.
Se Wlad não lembra ao certo a formação original da NBK, uma coisa é certa: 50% da banda Crossword tocou nela: Izemar (baixo) e Paulo (guitarra).
A NBK viveu dois momentos distintos até 1999, ano de término das atividades. No primeiro, a banda abriu para a banda norte-americana Madball. Depois, foi hostilizada pelo público em um festival punk no ABC paulista. “Fomos hostilizados por cantarmos em inglês na época, veja se pode”, lembra Wlad.
Uma demo tape própria e a participação na coletânea Rebel Tape, da Rebel Magazine, foram os registros da NBK. “Nessa coletânea lembro que gravamos faixas autorais e um cover de Bodies, dos Sex Pistols.
O espaço aberto para as bandas pela NBK foi o Plataforma Bar. Era um estúdio em um sobrado e contava com uma área externa grande. Após uma visita ao estúdio, Wlad deu a ideia ao dono de fazer matinês hardcore aos domingos ali, bem como acontecia nos EUA.
“Ele topou e iniciamos uma série de matinês por lá. Obviamente o proprietário cresceu o olho na possibilidade de lucro após as primeiras datas e chutou esse moleque aqui do esquema, assumindo sozinho a organização dos eventos. A partir dai foi aquele crescente: ingressos mais caros, equipamento deteriorando até o fim das atividades do espaço pouco tempo depois”, diz. “Antes disso tudo acontecer, pra mim os shows por lá tinham esse sabor especial por serem organizados por jovens para jovens, que falavam e curtiam as mesmas coisas”, completa.
Pensar em revival está completamente fora de cogitação. “O Rodrigo Gordo é publicitário. O Izemar se profissionalizou em se acidentar de moto e o resto eu espero que esteja vivo. Já é o bastante”, diz. “Impossível. Seria ridículo reviver algo feito com tanta ingenuidade, em dias de incredulidade como hoje”, finaliza Wlad.
(*) Vamos divulgar em breve as faixas da NBK na coletânea Rebel Tape