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Entrevista | Rashid – “Muita gente chegou no RAP sem conhecer direito o que é”

Transcrição: Bia Viana

O RAP nacional sempre está bem representado no Lollapalooza. Em outros anos, Racionais MC’s e Rincón Sapiência marcaram presença com shows memoráveis. Agora, é a vez de Rashid, Gabriel, o Pensador e BK’, as atrações programadas para o festival.

O primeiro a subir no palco é Rashid, no sábado, às 14h10. Terá como concorrentes Dubdogz e Lany, ambos com propostas de som bem distintas. No palco, o segundo disco de estúdio do paulistano, Crise, vai ser a base da apresentação. Lançado em 2018, foi eleito um dos melhores da temporada.

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“A gente ficou muito feliz com isso. Crise tem uma mensagem real. Ele se refere ao quanto essas crises, políticas e econômicas, nos causam uma crise. De repente a vida é uma beleza, no outro a vida é uma merda. Tem esse conceito do quanto as notícias, o que tem acontecido e a forma como a gente vai encarando o que vai rolando no país afeta o nosso pessoal, psicológico e emocional, questões de relacionamento e tudo mais”, comenta Rashid.

Muito mais do que um álbum bem gravado, o rapper também teve uma preocupação na hora de fazer a divulgação de Crise.

“Lançamos uma música praticamente por mês com clipe, e tínhamos uma responsabilidade com cada single de passar essas mensagens”.

A forte participação do RAP no Lollapalooza, que tem um headliner do estilo (Kendrick Lamar), é uma tendência mundial. Se nos Estados Unidos, o gênero já é o mais consumido na atualidade, no Brasil ele já encontra representantes nas minhas diversas classes sociais. Isso, entretanto, gera desconforto em muitos artistas. Rashid, no entanto, não se incomoda.

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“Acho que deve haver um equilíbrio. Não me incomoda o fato de ter pessoas diferentes fazendo RAP. Tem gente que vai ouvir o meu ponto de vista e pensar daquele jeito. O movimento cresceu, e eu vejo isso pela perspectiva positiva da coisa, sem entrar nesse discurso de que tem lados. Muita gente chegou no RAP sem conhecer direito o que é. Isso demonstra que muita gente chegou de paraquedas sem saber onde tava se colocando”.

Para o artista, esse cenário tem dois lados: ambos reais e modernos. “Tem algo de positivo nisso, e por outro lado tem muita gente que chegou desinformada. Você precisa conhecer o ritmo, como no samba e no rock, saber o porque você chegou aqui e de onde veio. Chamar um público que é bem engajado culturalmente aos estilos musicais e de vida, que exigem que você saiba o que está fazendo. Ninguém tem obrigação de ter um discurso, de ser afiliado de algo, mas acho que todo mundo precisa conhecer o básico”, argumenta.

O que tem ajudado a impulsionar o RAP no Brasil são as tradicionais batalhas de rimas. Rashid veio de uma delas e se orgulha da origem.

“A gente tinha a batalha de Santa Cruz, que a gente apresentava, nem levava tanta gente, mas a gente fazia uma batalha entre nós. Hoje em dia a coisa é diferente. Fica difícil de acompanhar de perto, porque é uma demanda muito grande. É uma batalha bem criativa, foi essencial pra mim, e não tenho dúvida que foi essencial pro Emicida, Projota, por exemplo, porque a gente aprende como tocar no palco, encarar uma plateia e tal. Foi vital”.

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Ainda na turnê de divulgação de Crise, Rashid aproveitou, no fim do ano passado, para registrar o seu primeiro disco ao vivo, gravado em uma unidade do Sesc São Paulo.

“O pessoal do Sesc está representando com a gente sempre, eles merecem esse crédito também, foi uma ideia que partiu deles transformar esse show. Estávamos só gravando o público, o pessoal só ficou sabendo que ia virar um disco agora. Pensei até caramba, fui eu que fiz? Ficou tão legal”.

Lembranças do Lolla

Está será a primeira vez de Rashid como atração do Lolla. No ano passado, entretanto, ele fez uma ponta no show dos amigos do Plutão Já Foi Planeta.

“Fiz uma rima com eles. Foi muito louco porque foi um dos meus primeiros shows num palco deles. Você via aquela multidão de pé, correndo pra colar no palco, dançando. Aquela energia de festival. Fiquei com uma baita impressão boa. Foi muito legal ter assistido e participado. Assisti o Mano Brown também, foi marcante. Ano passado foi bem especial, legal”.

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Para Rashid, é muito satisfatório estar escalado no lineup. “Vamos trampando pouco a pouco, tentando mostrar nossa cultura e trabalho. Quando você chega ao ponto de ir para um festival grande como esse, você se sente recompensado justamente pelo fato de estar sendo reconhecido, é legal mesmo. Pensando onde eu estava dez anos atrás, e olha onde eu tô agora. Esse não é o topo do mundo, não vou parar amanhã, mas é aquela sensação de que você chega em determinado momento da carreira e lembrar disso como uma das coisas especiais que você já fez. Mais pra frente pode dar muito mais certo que a gente imagina, pode dar muito errado, mas já é um marco na nossa carreira”.

Para curtir ao máximo a experiência do festival, Rashid já combinou de acompanhar os shows de BK’ e Kendrick Lamar.

Sobre o repertório, o rapper não descarta a inclusão de faixas novas, mas vai priorizar o segundo disco.

“O Crise teve uma recepção incrível, então com certeza vai ter bastante coisa dele, mas também gosto de colocar coisas dos discos antigos. De repente é um cara ali que nunca colou num show do Rashid, às vezes não é a cultura dele, num festival o cara vai, e aí vai ser legal ele acompanhar vários anos, conhecer o primeiro CD, o segundo, tal. Tem um espacinho pra colocar uma coisinha nova. A gente quer montar uma coisa especial, fazer o pessoal viajar com um show bonito”.

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A tal “coisinha nova” está relacionada a um disco novo, que está prestes a sair do forno. “Tô num processo criativo bem legal, diferente. Tudo indica lançar um single até lá (festival). Eu acho que no primeiro semestre ainda (disco deve ser lançado)”.

Serviço

A oitava edição do Lollapalooza Brasil contará com os headliners Arctic Monkeys, Tribalistas, Sam Smith e Tiësto, no dia 5 de abril; Kings of Leon, Post Malone, Lenny Kravitz e Steve Aoki, no dia 6 de abril; Kendrick Lamar, Twenty Øne Pilots e Dimitri Vegas & Like Mike no dia 7 de abril.

As entradas para o Lollapalooza Brasil 2019 podem ser adquiridas pelo site oficial do evento, bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – Credicard Hall, em São Paulo) e nos pontos de venda exclusivos: Km de Vantagens Hall Rio de Janeiro e Km de Vantagens Hall Belo Horizonte.

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